Mercados

Pré-Market: Fim da linha

21 dez 2018, 7:44 - atualizado em 21 dez 2018, 7:44

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

O último pregão antes do início das festas de fim de ano deve ser marcado pelos ajustes finos, já com pouca liquidez nos negócios, com os investidores buscando embelezar suas carteiras de investimento antes da entrada de 2019. Afinal, boa parte do mercado financeiro seguirá fechada na próxima segunda-feira – exceto em Wall Street.

Ainda assim, os ativos globais devem só cumprir tabela nesta reta final de 2018, com apenas mais três dias úteis na semana que vem. No dia 31 de dezembro, não haverá pregão doméstico, nem na maioria das praças europeia e asiáticas. Com isso, os investidores refazem as contas, tentando entender qual cenário traçar para o próximo ano.

A única certeza é que se pode esperar por alguma desaceleração da economia global e uma continuidade do ciclo de alta (normalização) dos juros nos Estados Unidos. Por ora, porém, a mensagem é de que haverá um teto para taxa norte-americana, o que significa que não é preciso fugir dos ativos de risco nem inundar o mercado de títulos dos EUA (Treasuries).

Nesse sentido, será interessante observar a batalha dos países emergentes pelo capital externo, tantos nos ativos financeiros quanto nos investimentos produtivos. Afinal, a liquidez cada vez menor de recursos disponíveis pelo mundo – em meio ao fim dos estímulos monetários pelos principais bancos centrais globais – tende a elevar o critério de seleção.

Na América Latina, as duas maiores economias, Brasil e México, irão disputar esses recursos sob novos governos. Mais alinhado à Casa Branca, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, dará uma guinada à direita com uma agenda liberal-reformista, enquanto o recém-empossado AMLO tem recebido flertes de Pequim e tenta ser mais pragmático – e menos de esquerda.

Isso sem falar em outros emergentes, espalhados por Ásia e África. Por ora, o fluxo de recursos no mundo tem preferido ficar “debaixo da saia” do Federal Reserve a ficar alocado no risco, com os investidores duvidando da segurança do plano de voo traçado pelo Fed. A questão é que o mercado financeiro ainda acha que o Banco Central dos EUA vai mudar de tom, ficando mais suave (“dovish”) e encampando a visão de uma desaceleração econômica adicional em 2019, seja por causa da guerra comercial sino-americana, seja por causa dos imbróglios europeus.

Com isso, a liquidez será o nome do jogo, com a volatilidade sendo um ingrediente a mais para os ativos de risco, em meio ao cenário ainda muito indefinido nos próximos meses. A começar pela possibilidade de paralisação (shutdown) do governo norte-americano, após o presidente Donald Trump desafiar o Congresso e rejeitar o acordo para evitar essa parada.

Sem verba para a construção de um muro na fronteira com o México, Trump negou-se a assinar um acordo de Orçamento “tampão”, até fevereiro, aprovado no Senado norte-americano. Com isso, o governo dos EUA pode ser paralisado antes do Natal, a não ser que a Câmara dos Representantes consiga trabalhar em uma nova proposta até segunda-feira.

Porém, os democratas, que irão retomar a maioria na Casa a partir de janeiro, afirmam que o financiamento do muro “não é um ponto de partida”. Trump alega preocupação com a segurança das fronteiras, defendendo a ideia de que os EUA não podem ser a “polícia” do mundo – e sim de seu próprio território.

Porém, posições não alinhadas à do líder da Casa Branca levaram ao pedido de demissão do secretário de Defesa norte-americano, Jim Mattis, após a discordar da retirada de mais de 2 mil militares norte-americanos da Síria, que também foi criticada por países aliados. “Você tem o direito de ter um secretário de Defesa com opiniões alinhadas às suas nesse e em outros assuntos”, escreveu Mattis, na carta de demissão revelada pelo Pentágono.

Assim, aos temores de uma desaceleração econômica global e de erro de cálculo do Fed somam-se os riscos de uma paralisação do governo norte-americano e de uma escalada da tensão geopolítica, além de um recrudescimento da guerra comercial. Afinal, apesar de as duas maiores economias do mundo terem concordado em se reunir no próximo mês, os EUA acusaram ontem a China de violar um acordo contra a espionagem econômica, via ataque de hackers patrocinados pelo governo de Pequim.

Como resultado, os índices futuros das bolsas de Nova York seguem frágeis nesta manhã, após mais um dia de duras perdas em Wall Street. As principais bolsas asiáticas também fecharam em queda, em meio aos receios de recessão e com a guerra comercial. As perdas foram lideradas por Tóquio, que caiu pouco mais de 1%, mas caminha para encerrar 2018 com um recuo superior a 10%. Na Oceania, Sydney também acumula uma desvalorização semelhante no ano.

Ainda na região, Xangai caiu 0,8%, mas Hong Kong ensaiou ganhos. As principais bolsas europeias também caminham para uma abertura negativa, porém sem grandes oscilações, em meio ao volume financeiro mais fraco. Nos demais mercados, o iene é negociado no maior valor em três meses, ao passo que o barril do petróleo WTI está abaixo de US$ 47.

A agenda econômica do dia traz como destaque a prévia da inflação oficial ao consumidor brasileiro (IPCA-15) em dezembro. A previsão é de que o indicador registre o primeiro resultado negativo deste ano, de -0,15%, na menor taxa para o mês desde o início da série histórica do IBGE, em 1994.

Com isso, o resultado acumulado de 2018 deve ficar abaixo de 4%, indicando que o Banco Central não terá problemas para cumprir a meta de inflação deste ano, de 4,5%. Os números efeitos serão divulgados às 9h. Antes, saem (8h) o índice de confiança do consumidor e os dados sobre o custo na construção civil, ambos referentes a este mês.

No exterior, destaque para os dados sobre a renda pessoal e os gastos com consumo nos Estados Unidos em novembro (11h30). No mesmo horário, saem os pedidos semanais de bens duráveis no mês passado e a terceira e última leitura do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano no trimestre passado.

Juntos, os indicadores econômicos norte-americanos podem calibrar as apostas dos agentes econômicos em relação aos sinais de acúmulo de pressão inflacionária nos EUA vindos do mercado de trabalho e podendo atingir os preços ao consumidor, respingando também na dinâmica da atividade do país. É esse prognóstico que tende a ser monitorado pelo Fed.

Ainda no calendário do dia, serão conhecidos os índices de confiança do consumidor nos EUA e na zona do euro em dezembro, ambos às 13h. Também na agenda doméstica, tem a nota do Banco Central sobre o setor externo no mês passado (10h30). Nos próximos dias, as divulgações perdem força, no Brasil e no exterior.

O destaque por aqui fica apenas para os dados sobre o desemprego, atualizados até novembro, e para o resultado deste mês do IGP-M, ambos na sexta-feira. As sondagens dos setores do comércio, da construção e da indústria, serem conhecidos entre quarta e quinta-feira.

Por isso, essa publicação diária chega ao fim nesta sexta-feira, retornando apenas em 2019 – salvo quaisquer eventos extraordinários – e desejando aos leitores boas festas e bons negócios no ano que vem. Até breve!

Editora-chefe
Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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