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Pré-Market: Exterior anima, mas risco eleitoral continua

28 ago 2018, 7:56 - atualizado em 28 ago 2018, 7:56

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado

O cenário externo pode continuar dando a contribuição para mais um dia de menor pressão sobre os ativos brasileiros, após o acordo comercial entre Estados Unidos e México alimentar esperanças de uma solução com a China, mantendo o apetite por risco lá fora. Mas a incerteza no cenário eleitoral tende a continuar trazendo volatilidade ao mercado financeiro local.

Sem a previsão de divulgação de pesquisa sobre a corrida presidencial, por ora, o foco se volta para a entrevista de Jair Bolsonaro no Jornal Nacional, à noite. Além disso, os investidores também devem ficar atentos aos próximos julgamentos na Suprema Corte (STF). Hoje, a Primeira Turma deve decidir se o candidato do PSL pode virar réu mais uma vez, sob acusação de racismo.

Já na semana que vem, o Supremo deve voltar a discutir a liberdade do ex-presidente Lula. O relator da Lava Jato na Corte, o juiz Edson Fachin, liberou para o plenário o julgamento do recurso ao habeas corpus negado em abril, antes de o líder petista ser preso. A previsão é de que o tema entre em pauta até o dia 13 de setembro.

Esse noticiário político-jurídico deve redobrar a cautela nos negócios por aqui, reduzindo o ímpeto do mercado doméstico de seguir o ambiente externo. Por lá, os investidores seguem animados com o anúncio feito ontem por Donald Trump, de que EUA e México revisaram partes importantes do Nafta e chegaram a um “grande” acordo comercial.

Porém, o chefe da Casa Branca disse que não é o momento certo para retomar as negociações comerciais com a China, reduzindo as expectativas quanto ao fim de um impasse com Pequim. Com isso, os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram na linha d’água, um dia após o Dow Jones encerrar um longo período de correção, que durou seis meses.

Já as principais bolsas europeias estão em alta, pegando carona com os ganhos da véspera em Wall Street, o que também embalou o pregão na Ásia – exceto em Xangai, que fechou em leve baixa. O yuan chinês (renminbi) voltou a fechar mais forte em relação ao dólar, após o Banco Central local (PBoC) fixar a maior taxa diária de referência em 14 meses.

Nas demais moedas, o peso mexicano devolve parte dos ganhos de ontem, na esteira do acordo firmado entre Trump e o presidente Enrique Pieña Neto. Agora, as atenções se voltam para o Canadá, que, por enquanto, ficou de fora do “grande acordo”. A lira turca também recua, diante da ausência de solução desde as sanções impostas pelos EUA contra Ancara.

Com isso, o otimismo em torno do acordo EUA-México pode estar apenas ofuscando os problemas que a Casa Branca vêm enfrentando, seja em relação às tensões geopolíticas, à guerra comercial ou mesmo aos dramas legais envolvendo Trump, em meio à proximidade das eleições legislativas (mid term elections) no país. Por isso, os ganhos dos ativos de risco continuam frágeis e a melhora de ontem pode não ter passado de um repique.

Por aqui, o radar segue no início da propaganda eleitoral dos presidenciáveis em cadeia nacional de rádio e televisão, no dia 1º de setembro. A expectativa do mercado é de que a campanha tenha reflexos nas próximas pesquisas e a principal aposta é de que o candidato preferido entre os investidores, Geraldo Alckmin, ganhe a preferência também do eleitorado.

Afinal, o tempo de exposição do tucano durante o horário político será de mais de cinco minutos, após o acordo firmado entre o PSDB e o Centrão. Trata-se da maior fatia em relação aos adversários e Alckmin pretende usar essa vantagem para mirar “inconsistências” de Bolsonaro, desidratando o líder nas pesquisas, no cenário sem Lula.

Os mais recentes levantamentos trouxeram o ex-governador de São Paulo com menos de dois dígitos entre as intenções de voto, ao mesmo tempo em que cresceu o temor de o PT disputar o segundo turno do pleito contra o PSL. A não subida do tucano e a chance de um segundo turno entre “extremos” içaram o dólar para R$ 4, aumentando o prêmio de risco do Brasil.

Com o segundo maior tempo na TV, mas equivalente à menos da metade do de Alckmin, está o PT. Aliás, a defesa de Lula tem até quinta-feira para se pronunciar sobre os pedidos de impugnação da candidatura dele à Presidência da República. No dia seguinte, quando começa o horário político, pode ter início o julgamento em relação ao registro do ex-presidente.

Porém, a tendência é de que o caso só seja avaliado na próxima semana. Até uma decisão final sobre a inelegibilidade de Lula e a permanência dele na campanha, o mercado local deve ficar mais volátil. Ao mesmo tempo, Bolsonaro vai conquistando a simpatia dos investidores, com o seu provável ministro da Economia, Paulo Guedes, dando suporte às ideias liberais.

Com isso, o noticiário sobre as eleições de outubro tende a seguir no radar dos investidores. Ainda mais diante de uma agenda econômica fraca, que só ganha força a partir de amanhã. Hoje, o calendário do dia traz apenas a confiança da indústria brasileira (8h) e do consumidor norte-americano (11h), ambos referentes ao mês de agosto.

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