Comprar ou vender?

Pré-Market: Expectativas políticas e econômicas

24 out 2017, 9:45 - atualizado em 05 nov 2017, 13:53

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado

A terça-feira antecede um dia de decisões importantes no Brasil. Por isso, os investidores devem evitar grandes exposições, no aguardo do placar da votação na Câmara sobre a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, amanhã, e também de pistas sobre o ritmo a ser adotado no ciclo de cortes nos juros básicos no último encontro deste ano.

Para a reunião do Banco Central que começa hoje, é praticamente unânime a expectativa do mercado financeiro pela desaceleração na queda da taxa Selic para 0,75 ponto percentual (pp), a 7,50%, após cinco cortes consecutivos de um ponto. Com isso, o foco vai para o comunicado, que pode consolidar as apostas para o juro brasileiro em 7% ao final de 2017.

Há chances de o atual ciclo de afrouxamento monetário estender-se até o início do ano que vem, afundando ainda mais o piso histórico da Selic para algo entre 6,75% e 6,5%. Mas a possibilidade concreta dessa estimativa depende de um avanço consistente na reforma da Previdência que, por ora, está emperrada no Congresso.

O apoio dos deputados ao arquivamento da denúncia contra Temer será um importante balizador da força política que resta ao presidente para levar adiante a proposta de mudança nas regras para aposentadoria ainda neste ano. Mas tanto a votação na Câmara quanto o comunicado do Copom serão conhecidos apenas na quarta-feira.

Por isso, os mercados domésticos devem operar em compasso de espera hoje. Até porque a agenda doméstica do dia está esvaziada em termos de indicadores econômicos e traz como destaque apenas o início da temporada de balanços, com os resultados trimestrais de Fibria, antes da abertura do pregão, e Lojas Renner, após o fechamento do mercado. 

Já no exterior, serão conhecidos dados de atividade na zona do euro e nos Estados Unidos. Mas também é no cenário político que os dois lados do Atlântico Norte estão de olho. Enquanto o Velho Continente vê o risco crescente de fragmentação, a América se concentra nos planos para estimular a maior economia do mundo.

O presidente norte-americano Donald Trump reúne-se hoje com senadores republicanos para tentar avançar o pacote de corte de impostos para empresas e famílias. A proposta pode acelerar o crescimento econômico, mas também tende a gerar risco inflacionário, evidenciando a necessidade de definir logo quem irá comandar o Federal Reserve.

As especulações ainda estão divididas entre os atuais integrantes do Fed Jerome Powell (diretor) e Janet Yellen (presidente) e o economista John Taylor, da Universidade de Stanford. O anúncio deve ser feito até a semana que vem, antes da viagem de Trump para a Ásia.

A ausência de pistas sobre a escolha tem deixado os investidores nervosos. Ainda mais diante dos relatos de que Trump deve optar por uma dobradinha com Powell e Taylor, que têm visões totalmente antagônicas sobre o nível da taxa de juros. Com isso, fica a sensação de que é a Casa Branca quem quer mandar no Fed – algo nada bom a um BC independente.

Ontem, as incertezas sobre a sucessão no Fed estressou o dólar, que encerrou o dia cotado acima de R$ 3,20, penalizando os negócios na Bovespa e nos juros futuros. Além do perfil de quem irá conduzir o processo de normalização dos juros norte-americanos, o receio também está na reforma fiscal de Trump, que pode intensificar o ritmo de alta da taxa.

A combinação de um presidente no Fed com viés mais duro (“hawkish”) e a tendência de um viés expansionista nos gastos públicos nos EUA muda o cenário para os países emergentes, que deixam de ser atrativos para o ingresso de recursos estrangeiros. Isso porque a valorização do dólar e dos títulos norte-americanos passam a dar maiores rendimentos.

Nesta manhã, porém, o dólar interrompe o rali e mede forças em relação as moedas rivais, o que beneficia também as commodities. O euro segue pressionado pelas intenções separatistas da Catalunha e aguarda a reunião do Banco Central Europeu (BCE), na quinta-feira. Já os metais básicos tiram proveito da perda de tração do dólar e avançam.

O petróleo está de lado, rondando a faixa de US$ 52. No mercado de bônus, o rendimento (yield) dos títulos de 10 anos dos EUA e da Alemanha também estão de lado, com os investidores evitando a volatilidade na curva de juros de países desenvolvidos como forma de se proteger das incertezas envolvendo a sucessão no Fed.

Nas ações, a Bolsa de Tóquio cravou um novo recorde ao registrar a décima sexta sessão consecutiva de ganhos, encerrando no maior nível desde 1996. Nas demais bolsas da região, as oscilações foram estreitas, acompanhando o fôlego encurtado dos índices futuros em Wall Street. As principais praças europeias abriram o pregão ensaiando ganhos.

Assim, nesse dia de expectativas políticas e econômicas, no Brasil e no exterior, os mercados financeiros indicam uma pausa, com os investidores avaliando o cenário e à espera de novidades do que vem por aí…

Leia mais sobre: