Pré-Market: Em busca de pistas do Fed
Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado
O mercado financeiro volta da pausa pelo Dia do Trabalho revestido de cautela, com os investidores à espera do fim da reunião do Federal Reserve, às 15h. A expectativa para o encontro se volta ao comunicado, já que não se espera qualquer alteração na taxa de juros dos Estados Unidos (FFR) agora. Mas uma mudança de tom no texto que acompanhará o anúncio da decisão pode lançar pistas sobre o próximo aperto monetário, previsto para junho.
Qualquer novidade na comunicação do colegiado deve ser tênue, sem um viés, necessariamente, mais duro (“hawkish”). Um recado mais claro deve ser dado só no próximo mês, quando deve acontecer a segunda alta de 2018 no custo do empréstimo dos EUA e quando o presidente da autoridade monetária, Jerome Powell, concede uma nova entrevista coletiva à imprensa. Por ora, a mensagem deve ficar nas entrelinhas…
Os números do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA, conhecidos ao final da semana passada, somados ao relatório de emprego (payroll), que sai nesta sexta-feira, tendem a reforçar a percepção de dinamismo da maior economia do mundo, com crescimento em ritmo robusto, apesar das tensões comerciais. Com isso, o Fed pode revisitar o cenário esperado para o comportamento da inflação, do PIB e dos juros no país neste ano.
Caso o Banco Central dos EUA mostre um tom otimista sobre a expansão econômica do país, vislumbrando uma aceleração dos preços à frente, cresce a possibilidade de um aumento adicional na FFR em 2018, com um total de quatro apertos – ao invés de apenas três. Se tal cenário for confirmado pelo Fed, uma nova onda de aversão ao risco deve ser observada nos mercados globais.
À espera desses sinais, os negócios lá fora estão mistos. As principais bolsas europeias ensaiam ganhos, após uma sessão negativa na Ásia, na esteira de um desempenho indefinido em Wall Street na véspera. Os índices futuros das bolsas de Nova York seguem sem direção única nesta manhã, pressionados por uma possível intimação do presidente norte-americano, Donald Trump, na investigação sobre a Rússia nas eleições.
Nos demais mercados, o dólar perde terreno para as moedas rivais, como o euro e o iene, o que abre espaço para uma recuperação das commodities, sendo que o petróleo WTI é negociado no maior nível em duas semanas. Os metais básicos, porém, recuam, com as perdas lideradas pelo alumínio. Já o ouro avança. Nos bônus, o juro projetado pelo título norte-americano de 10 anos (T-note) avança a 2,99%, no maior nível em uma semana.
Na semana passada, o rendimento (yield) da T-note ultrapassou a barreira psicológica de 3%, em meio à percepção de que os juros nos EUA podem subir mais rapidamente com o aquecimento da economia do país. Juros mais elevados por lá tendem a atrair recursos espalhados pelo mundo, diante do maior retorno oferecido por um ativo menos arriscado – em detrimento aos papéis de outras economias de maior risco, como a brasileira.
Daí, então, a busca por pistas sobre a atuação do Fed. Antes da decisão, ainda na agenda econômica norte-americana, tem o relatório da ADP sobre a criação de postos de trabalho no setor privado dos EUA em abril (9h15), que é tido como uma prévia do payroll. Também merece atenção o anúncio do Tesouro norte-americano sobre o plano trimestral de refinanciamento, que pode pressionar os negócios com os papéis.
No Brasil, merecem atenção os dados do mês passado do fluxo cambial (12h30) e da balança comercial (15h). Pela manhã, sai o índice da FGV sobre preços ao consumidor (IPC-S) em abril (8h).
Aliás, por aqui, os indicadores mais recentes sobre a confiança dos mais diversos agentes econômicos (setores de atividade e consumidor) e sobre o desemprego deixam o cenário mais nebuloso, ante um estágio ainda inicial do ciclo eleitoral. O mercado financeiro está cada vez mais cético quanto a uma recuperação mais robusta do país – ao menos até que haja uma definição clara sobre a disputa presidencial.
Com isso, o investidor tende a redobrar a postura defensiva nos ativos locais, evitando maiores exposições ao risco doméstico. Somadas, a preocupação de que o Fed eleve os juros mais rapidamente nos EUA e as eleições no Brasil ainda bastante indefinidas levaram o dólar a testar a marca de R$ 3,50 em abril, registrando a maior valorização mensal desde novembro de 2016 e o terceiro mês seguido de alta.
E tais razões devem manter a moeda norte-americana pressionada neste mês. Já na Bolsa, o capital externo e especulativo pode continuar encontrando ações mais “baratas”, diante do real mais fraco, com a temporada de balanços sustentando o Ibovespa perto de níveis históricos de alta. Porém, a queda dos recibos de ações brasileiras no exterior (ADRs) ontem contrata uma abertura negativa na volta do feriado, que pode ser atenuada pelo movimento dos mercados nesta manhã.
No mercado de juros futuros, é crescente a percepção de que a taxa Selic seguirá baixa por mais tempo, diante dos dados fracos de inflação e atividade. Aliás, essa divergência entre as políticas monetárias no Brasil e nos EUA tem reduzido o diferencial entre as taxas de juros praticadas nos dois países, diminuindo a atratividade de alocação de recursos externos por aqui. Tal comportamento explica, em grande parte, a evolução da taxa de câmbio doméstica nos últimos meses, o que mantém a tendência de depreciação do real.
Em resumo, o que se pode afirmar é que o mercado financeiro começa o mês de maio mantendo a volatilidade em alta e atento aos riscos e às oportunidades no horizonte à frente.