Pré-Market: Ela disse, ele disse
Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado
Os mercados financeiros estão em compasso de espera pelo discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell (10h30), na Câmara dos Estados Unidos. Será a primeira vez, desde que assumiu o cargo em substituição à Janet Yellen, que ele irá falar em público e os investidores vão observar atentamente como o novo comandante do Fed irá se comportar à frente do ciclo de alta da taxa de juros norte-americana.
A principal questão é saber se haverá alguma diferença em relação à postura suave (“dovish”) adotada pela antecessora, que deu fim à era de juro zero nos EUA e conduziu o aperto monetário defendendo o gradualismo ao longo do processo. A dúvida é saber se esse ritmo espaçado se mantém em meio à aceleração do crescimento econômico norte-americano e à proposta de corte de impostos e aumento dos gastos públicos.
Se diante desse cenário, o Fed frisar que pode haver aumento da pressão inflacionária e solidez do mercado de trabalho, isto implicará, possivelmente, em mais espaço para altas de juros nos EUA nos próximos trimestres. Do contrário, se nem a expansão forte do mundo nem a reforma tributária do governo Trump for suficiente para elevar os índices de preços ao consumidor ou reduzir a geração de emprego, o Fed segue o curso.
Portanto, vai ser interessante notar como Powell vê a política fiscal expansionista do presidente norte-americano, Donald Trump, combinada com uma economia de pleno emprego – e, por ora, sem aumento da inflação. Nesse cenário, é fundamental saber como o chairman do Fed vê a taxa neutra – aquela que nem acelera nem freia a atividade econômica.
O debate sobre o ritmo de aperto da política monetária nos EUA segue acalorado e a aposta em Wall Street é de que Powell não irá surpreender com um tom duro (“hawkish”). Ainda no calendário econômico dos EUA, saem os pedidos de bens duráveis em janeiro (10h30); os preços de imóveis residenciais em dezembro e a confiança do consumidor neste mês (11h).
Na Europa, também serão conhecidos índices sobre o sentimento econômico, logo cedo, além da leitura preliminar da inflação ao consumidor alemão. Na Ásia, destaque para os resultados finais deste mês sobre o desempenho da atividade nos setores industrial e de serviços na China. Já no Brasil, a agenda econômica doméstica traz a sondagem do comércio neste mês (8h), além da nota do BC sobre as operações de crédito no país (10h30) e das contas do governo central, ambos referente ao mês passado.
Na safra de balanços, destaque para o resultado da Vale no quarto trimestre e também no acumulado de 2017, após o fechamento do pregão local. A expectativa é de que o lucro da mineradora tenha subido 12,5%, a US$ 2,5 bilhões, nos três últimos meses do ano passado, em meio aos maiores custos de produção e preços médios mais baixos.
À espera desses eventos do dia, os índices futuros das bolsas de Nova York estão no vermelho, ao passo que o dólar recua em relação às moedas de países desenvolvidos e emergentes. Já o rendimento (yield) dos bônus soberanos europeus e norte-americanos avança. As principais bolsas da Europa estão sem rumo único, após uma sessão mista na Ásia, com ganhos em Tóquio, mas perdas na China. Nas commodities, o petróleo também aguarda em baixa os dados sobre os estoques nos EUA e os metais básicos ensaiam alta.