Mercados

Pré-Market: Distância Segura

19 out 2018, 8:02 - atualizado em 19 out 2018, 8:02

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

A dez dias do segundo turno das eleições presidenciais, Jair Bolsonaro mantém uma distância segura em relação ao rival Fernando Haddad, confirmando o favoritismo, e nada deve mudar tal cenário. Os investidores seguem minimizando as dúvidas quanto ao programa econômico do candidato de extrema-direita e também as denúncias de fake news pelo WhatsApp.

O que o mercado financeiro quer mesmo é comemorar a derrota do PT, que deve perder feio. Um novo levantamento do Datafolha ampliou para 18 pontos a vantagem de Bolsonaro em relação a Haddad, com 59% versus 41%. Na primeira pesquisa do segundo turno, o instituto apontou 58% contra 42%.

Apesar da oscilação dentro da margem de erro, a sondagem feita entre quarta e quinta-feira com mais de 9 mil eleitores mostra que o petista é o mais rejeitado, com 54% afirmando que não votariam nele de jeito nenhum. Bolsonaro, por sua vez, é rejeitado por 41%, enquanto 48% estão convictos em votar nele. A convicção em Haddad é menor, com 33%.

A pesquisa evidencia a consolidação da onda da opinião pública formada na reta final ainda do primeiro turno das eleições e que foi influenciada pela campanha contra o PT nas redes sociais. A reportagem de ontem do jornal Folha de S.Paulo mostrou que empresários simpáticos a Bolsonaro estariam comprado pacotes de mensagens contrárias ao partido.

Um novo disparo em massa estaria previsto para a semana anterior ao segundo turno.  Tal prática, se confirmada, é ilegal, configurando-se em crime eleitoral, por causa de financiamento de campanha por empresas, com contratos de até R$ 12 milhões, e abuso de poder econômico.

A campanha de Bolsonaro diz desconhecer o esquema e pedirá explicação das empresas acerca da denúncia de supostas ações ilegais. Umas das agências de marketing digital negou elo com o candidato e disse não ter controle sobre o disparo de mensagens. Já o PT entrou com ação contra o adversário e empresários.

A reportagem não chegou a incomodar o mercado financeiro brasileiro ontem, mas gerou algum ruído. Esse desconforto somado à falta de transparência das propostas econômicas em um eventual governo Bolsonaro deixou os ativos locais mais expostos à pressão externa, onde permanecem as dúvidas sobre o processo de alta da taxa de juros norte-americana.

Outra preocupação dos mercados internacionais é quanto à desaceleração econômica na China. O Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu menos que o esperado no terceiro trimestre deste ano, em 6,5%, no ritmo mais lento desde o primeiro trimestre de 2009 e perdendo força em relação à expansão de 6,7% registrada no período anterior.

O resultado ficou abaixo da previsão de alta de 6,6%. A abertura do dado mostra que o crescimento da produção industrial e do consumo interno enfraqueceu entre julho e setembro, enquanto as exportações se mantiveram firme, apesar da guerra comercial com os EUA e em meio à antecipação dos desembarques ao exterior antes das sobretaxas norte-americanas.

O governo chinês classificou a situação internacional de “severa” e observou que a pressão negativa sobre o crescimento econômico está aumentando, desafiou os esforços de Pequim para estabilizar a economia e atingir a meta de crescimento. Segundo o governo, o  impacto das medidas de estímulo adotadas ainda precisa ser sentido e mais pode ser necessário.

Nos dados apenas de setembro, a produção industrial subiu menos que o previsto, em +5,8%, de +6%; as vendas no varejo cresceram mais que o esperado, em +9,2% de +9,0%, enquanto os investimentos em ativos fixos acumulam alta de 5,4% no ano, de +5,3% previstos. Em reação, as bolsas de Hong Kong e Xangai subiram, com +0,4% e +2,6%.

Ainda assim, o índice Xangai Composto registra o pior desempenho entre as principais bolsas globais neste ano, acumulando perdas de 25% até agora. Hoje, porém, o índice registrou a maior alta desde o início de agosto, mas foi insuficiente para impedir a segunda queda semanal consecutiva, caminhando para o pior desempenho mensal desde janeiro de 2016.

Pouco antes da divulgação dos dados chineses, o presidente do Banco Central da China (PBoC), Yi Gang, emitiu um comunicado, juntamente com os responsáveis do setor bancário e do órgão regulador mobiliário, instando os investidores a permanecerem calmos. Para as autoridades, as recentes “flutuações anormais” no mercado acionário chinês não refletem os fundamentos econômicos do país e o “sistema financeiro estável”.

Ainda assim, a mensagem foi insuficiente para amenizar as preocupações com a situação chinesa. No Ocidente, os índices futuros das bolsas de Nova York estão na linha d’água, ao passo que as principais bolsas europeias amanheceram no vermelho, com as atenções também voltadas para a temporada de balanços. O dólar e os juros projetados pelos títulos norte-americanos (Treasuries) mostram estabilidade, enquanto as commodities avançam.

Já nesta sexta-feira, a agenda econômica está fraca, trazendo apenas, no Brasil, uma nova prévia do IGP-M neste mês (8h) e a confiança do empresariado industrial em outubro (11h). No exterior, saem as vendas de imóveis residenciais usados em setembro (11h).

Editora-chefe
Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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