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Pré-Market: Dia tenso

31 ago 2018, 8:01 - atualizado em 31 ago 2018, 8:01

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado

O mês de agosto chega ao fim hoje e deve terminar com mais volatilidade no mercado financeiro brasileiro, um dia após o nervosismo entre os investidores levar o dólar para além de R$ 4,20, ativando uma ação do Banco Central. E a sexta-feira promete ser novamente intensa nos negócios locais, diante da aversão ao risco no exterior e dos eventos domésticos previstos para o dia.

Logo cedo, saem uma nova pesquisa eleitoral, que pode corroborar (ou não) o peso do apoio do ex-presidente Lula na transferência de voto para Fernando Haddad, e os números sobre o desempenho da economia doméstica (PIB) ao final da primeira metade deste ano. Mas o foco do investidor está mesmo na sessão extraordinária da Justiça Eleitoral.

O TSE marcou para as 14h30 a análise de registros para a Presidência da República na eleição deste ano. Mas, entre eles, não está o do ex-presidente Lula e apenas os processos referentes às candidaturas de Geraldo Alckmin (PSDB) e José Maria Eymael (DC). Porém, a pauta pode ser alterada até 1 hora antes do início da reunião.

Ainda assim, a tendência é de que a definição sobre o registro da candidatura do líder petista fique para a próxima semana. Mas não se sabe se também será adiada a discussão em relação à participação de Lula na campanha em rádio e TV como candidato. O horário eleitoral gratuito começa hoje, mas para os presidenciáveis, só amanhã.

Durante o dia as transmissões acontecem às 7h e às 12h, no rádio, e às 13h, na TV, com um bloco à noite, às 20h30. Contudo, as inserções de propaganda política dos presidentes durante a programação nos meios de comunicação de massa também têm início hoje e a coligação do petista pediu ao TSE que garanta o direito do ex-presidente de gravar áudios e vídeos.

A questão é que impedir Lula de participar da campanha eleitoral, sem discutir o mérito da candidatura dele, pode abrir precedentes jurídicos, avalizando a tese do PT de perseguição e de que o ex-presidente é um preso político. Tampouco pode haver uma eventual participação indevida do petista no horário político. O tema, portanto, é bastante delicado.

Nos bastidores do TSE, parece ter havido um entendimento entre os juízes de que julgar o registro de Lula no dia seguinte à apresentação da defesa dele às impugnações poderia passar a impressão de pressa, atropelando o processo. A defesa do petista entregou ontem à noite, 1 hora antes do fim do prazo, os argumentos para contestar os pedidos contrários à participação do candidato do PT no pleito de outubro.

Só que a Corte eleitoral tem até o dia 17 de setembro para deferir sobre a inelegibilidade do ex-presidente. Mesmo após o TSE rejeitar o registro da candidatura de Lula, cabe recurso na própria Justiça Eleitoral e também na Suprema Corte.

Lula está preso desde abril, após condenação em segunda instância, o que o torna inelegível pela Lei da Ficha Limpa. E a estratégia do PT é de alongar a indefinição jurídica, mantendo o ex-presidente em evidência, de modo a depois transferir os votos ao provável substituto, Fernando Haddad.

Aliás, mais um levantamento encomendado pela XP Investimentos e feito pelo Ipespe será divulgado hoje, antes da abertura do pregão local, e pode lançar luz sobre a pesquisa do DataPoder360, conhecida ontem, que mostrou que o ex-prefeito de São Paulo pode receber quase que a totalidade do repasse de votos de Lula. Seria, então, uma disputa em segundo turno entre PT e o PSL de Jair Bolsonaro.

Mas o fato é de que a corrida presidencial segue totalmente em aberto, com o quadro repleto de dúvidas. E a expectativa é justamente de que a campanha na TV torne o cenário menos nebuloso, tornando mais claros os candidatos com chances de definir o pleito. Ainda assim, não se sabe se a propaganda política ainda tem o mesmo peso de outrora.

Enquanto digerem a pesquisa da XP/Ipespe, os investidores recebem os dados do Produto Interno Bruto no segundo trimestre deste ano (9h). A previsão é de que a economia brasileira tenha crescido pelo sexto trimestre consecutivo, em +0,1%, mas perdendo tração em relação aos três primeiros meses de 2018, quando cresceu 0,4%.

Já na comparação com o mesmo período de 2017, a atividade doméstica deve ter repetido o ritmo, com uma expansão de 1,2%, no quinto resultado positivo seguido. Ainda assim, os números do PIB devem ser olhados pelo retrovisor, já que a incerteza eleitoral e a valorização do dólar tendem a afetar o desempenho da economia na segunda metade deste ano.

Também na agenda econômica doméstica, saem os dados do Banco Central sobre o desempenho das contas públicas (10h30) em julho, que tendem a evidenciar o rombo fiscal no país. Além disso, o governo entrega hoje a proposta de Orçamento para 2019, que deve trazer o reajuste dos servidores e dos juízes do STF, gerando um efeito cascata.

Em meio a esses eventos, é válido lembrar que hoje é dia de formação da taxa do Banco Central do dólar para o mês, que serve de referência para a liquidação de contratos que vencem em setembro. A disputa pelo preço da chamada Ptax tende a ficar mais acirrada, em meio à oferta de até US$ 2,15 bilhões em leilão de venda com compromisso de recompra.

Ontem, o BC exerceu a autoridade e interveio no mercado de câmbio, assim que a moeda norte-americana superou a faixa de R$ 4,20, em meio a um efeito manada vindo da Argentina. Os investidores dispararam ordens de stop loss (perda máxima aceitável), estimulando um movimento especulativo, a fim de chamar a atenção da autoridade monetária.

O BC percebeu o movimento e aliviou a pressão de alta no dólar, diante da percepção de que não há nenhuma demanda genuína pela moeda estrangeira na faixa de R$ 4,20. Foi o primeiro anúncio de leilão de swap cambial tradicional – equivalente à venda de dólares no mercado futuro – desde junho, quando a greve dos caminhoneiros estressou os ativos locais.

No fim, o dólar encerrou no segundo maior valor do Plano Real, atrás apenas do recorde registrado em janeiro de 2016, a R$ 4,1660, tendo renovado também a maior cotação durante um pregão, atrás da máxima vista em setembro de 2015, a R$ 4,24. Hoje, os investidores tendem a redobrar a postura defensiva, em meio à expectativa pela decisão do TSE.

O cenário externo contribui para elevar a cautela, com os investidores enxergando na guerra comercial entre Estados Unidos e China uma escalada também da tensão geopolítica, em meio à disputa de poder entre as duas maiores economias do mundo. A Casa Branca, agora, está firme na intenção de taxar mais US$ 200 bilhões em produtos chineses em setembro.

Ainda assim, a China tem mostrado sua força. O índice oficial dos gerentes de compras (PMI) da indústria chinesa oscilou em alta, passando de 51,2 em julho para 51,3 em agosto, contrariando a previsão de ligeira baixa a 51,1. O PMI chinês referente ao setor de serviços também subiu, a 54,2, de 54,0, no mesmo período. A abertura do dado mostra um aumento da produção na manufatura, diante das novas encomendas, mas uma queda na demanda externa.

Os números, portanto, apenas reforçam os desafios das investidas protecionistas ao crescimento econômico global e os investidores devem começar a ver o impacto da taxação de Donald Trump na atividade real neste segundo semestre. E o próximo passo pode ser a retirada dos EUA da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Com isso, o mercado internacional amanhece no vermelho, diante da percepção de que a puxada dos ativos de risco, liderada pelo rali histórico em Wall Street, foi longe demais. Os índices futuros das bolsas de Nova York exibem perdas aceleradas, após uma sessão de queda na Ásia, o que também contamina o pregão na Europa, além dos bônus de Itália e Grécia.

Os mercados emergentes continuam sendo os mais afetados, em meio à turbulência vinda da Turquia e da vizinha Argentina. O dólar ganha terreno das moedas rivais, com o euro sendo pressionado por uma saída desordenada do Reino Unido da União Europeia (UE), ao passo que o dólar canadense também recua, em meio ao impasse nas negociações sobre o Nafta.

Já nas commodities, o barril do petróleo é cotado acima de US$ 70, no maior nível em um mês. Na agenda econômica do dia no exterior, logo cedo, saem dados na zona do euro sobre a inflação ao consumidor e sobre o desemprego. Depois, é a vez da confiança do consumidor norte-americano em agosto (11h).

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