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Pré-Market: Dia seguinte ao Copom é de pressão em emergentes

21 jun 2018, 8:27 - atualizado em 21 jun 2018, 8:27

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

A reação do mercado doméstico à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) se mistura à influência dos negócios no exterior, com a queda de mais de 1% das bolsas da China elevando a pressão nos ativos emergentes. O dólar se fortalece diante da preocupação dos investidores com as perspectivas para o comércio global, mas o petróleo avança.

Ontem, o Banco Central subiu o tom ao manter a taxa básica de juros em 6,50% pela segunda vez seguida e preferiu deixar a porta aberta quanto aos próximos passos. O impacto da greve dos caminhoneiros na atividade e nas expectativas de inflação combinado com o cenário externo cada vez mais desafiador foi o principal argumento para ter maior liberdade de ação.

Porém, isso não significa, necessariamente, que haverá um aumento da Selic no próximo encontro, na virada de julho para agosto. Ao retirar do comunicado o trecho em que o Comitê diz ver como “adequada” a manutenção dos juros básicos, o BC apenas se mostra pronto para agir em qualquer uma das quatro reuniões até o fim de 2018 – se necessário.

Isso porque a autoridade monetária insistiu que, entre a queda do real e a inflação projetada, há a atividade econômica. E o crescimento deve ter sofrido um revés no segundo trimestre deste ano – após subir mais que o esperado no início de 2018 – por causa da “paralisação no setor de transportes de cargas”. Tem também a falta de progresso das reformas.

A greve dos caminhoneiros também afetará a inflação, diante do choque nos preços de alimentos e combustíveis. A prévia deste mês do índice de preços ao consumidor (IPCA-15) deve vir mais salgada, subindo cerca de 1% em relação a maio, penalizada também pela bandeira tarifária vermelha na conta de luz.

Se confirmado, será o maior resultado para o mês desde 2015 – ou antes, em 1996. Com isso, o resultado em 12 meses deve ficar acima do piso do intervalo de tolerância perseguido pelo BC, de 3%, pela primeira vez desde janeiro, indo a 3,50%, no maior nível desde o período acumulado até maio do ano passado.

Porém, o BC indicou que essa alta da inflação oficial deve ser concentrada em junho, não se estendendo ao longo dos meses seguintes. Os números efetivos do IPCA-15 serão conhecidos às 9h. Antes, às 8h, saem os dados parciais de junho sobre a confiança do setor na indústria.

Embora sem citar, os riscos eleitorais também tendem a influenciar as decisões do Copom, a depender do comportamento do dólar. A próxima reunião do BC acontece em plena corrida presidencial e as pesquisas com abrangência nacional mostram um segundo lugar totalmente indefinido, nos cenários em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidera.

Aliás, as chances de o líder petista ser solto na semana que vem também está em aberto. O entendimento é de que a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) dê o assunto como esgotado, após a Corte rejeitar o pedido de habeas corpus da defesa em abril. Mas a natureza diferente do novo recurso e a diferença entre os dois julgamentos abrem brechas.

A esses temores internos soma-se a deterioração do cenário para os países emergentes de um modo geral, em meio ao fim dos estímulos artificiais nas economias avançadas e ao processo de alta dos juros nos dois lados do Atlântico Norte. Hoje, inclusive, é dia de decisão do BC da Inglaterra (BoE), onde o juro básico deve ficar estável, em 0,50%.

O anúncio será feito às 8h e as atenções se voltam  para a participação do presidente do BoE, Mark Carney, em evento em Londres, às 17h15. À espera dessa decisão, a libra esterlina perde terreno para o dólar, impactada também pelas dúvidas sobre a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) – o chamado “Brexit”. Já o euro está na mínima em 11 meses.

O dólar ganha praticamente de todas as moedas rivais, inclusive ante o iene, com o Dollar Index atingiu o maior nível em quase um ano, a 95,41 pontos. A moeda norte-americana avançou em relação à rupia indonésia e ao dólar neozelandês, que bateu o menor nível em seis meses, ao passo que a lira turca renovou o recorde de baixa.

Entre as bolsas, houve queda de ao menos 1% na Malásia, Filipinas e Tailândia. Nesta manhã, porém, os mercados internacionais buscam uma estabilização, com os índices futuros das bolsas de Nova York ensaiando ganhos – embora sem muito êxito. As praças europeias estão sem uma direção definida, com os investidores mostrando um pouco mais de cautela.

O sentimento no mercado financeiro global é dominado pelas ameaças e medos em torno da questão comercial, diante dos sinais de que as investidas protecionistas estão começando a impactar o ciclo econômico, afetando a dinâmica das empresas e podendo chegar aos consumidores. Com isso, os investidores buscam por ativos seguros e encontram proteção no dólar e nos títulos norte-americanos (Treasuries).

A dúvida continua sendo as armas a serem usadas por Estados Unidos e China na disputa em torno do livre comércio. As duas maiores economias do mundo têm artilharia pesada e ainda não houve uma resposta chinesa à ameaça do presidente Donald Trump, de taxar mais US$ 200 bilhões em produtos. Talvez, Pequim esteja aguardando o fato se concretizar…

Recuar não é do estilo de Trump, ainda mais quando ele tem o apoio do partido republicano e da sua base de eleitor nas práticas protecionistas. A maioria dos norte-americanos apoia as tarifas sobre os produtos chineses. Mas isso até uma guerra comercial mais ampla atingir o bolso dos cidadãos (consumidores e produtores) que defendem os EUA contra a China.

Por outro lado, Pequim vê as ameaças comerciais de Washington como um obstáculo ao ambicioso projeto “Made in China 2025”, inspirado na inovação tecnológica e na revolução industrial. Por ora, o líder chinês Xi Jinping mantém a retórica de retaliação, mas novas estratégias podem ser discutidas na reunião anual do Partido Comunista, em outubro.

Na agenda econômica do dia, destaque para a leitura preliminar deste mês do índice de confiança do consumidor na zona do euro (11h). Já nos EUA, o calendário norte-americano traz os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos no país e o índice regional sobre a atividade na Filadélfia, ambos às 9h30, além dos indicadores antecedentes de maio, às 11h.

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