Pré-Market: Dia cheio
Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.
Apesar de serem visíveis os sinais de piora no ambiente político em Brasília, sem casos selecionados, os mercados domésticos mantêm as atenções na pauta econômica, cujo ápice da semana acontece hoje. A quarta-feira começa com a prévia de fevereiro da inflação ao consumidor (IPCA-15) e termina com a decisão do Banco Central sobre a taxa de juros (Selic). Entre um evento e outro, o foco se desloca ao exterior, onde o Federal Reserve pode trazer novidades sobre a chance de aperto monetário em março.
Os investidores, então, precisam preparar o fôlego para o que promete ser um dia agitado nos negócios. Por enquanto, os mercados internacionais mantêm o sinal positivo nas bolsas, enquanto o dólar mede forças ante as moedas rivais e o rendimento (yield) nos títulos norte-americanos (Treasuries) avança. O petróleo sobe pelo quarto dia seguido e é cotado acima de US$ 54 o barril.
As declarações da presidente da distrital de Cleveland do Fed, Loretta Mester, de que o BC dos Estados Unidos não quer surpreender o mercado com um aumento na taxa de juros traz alívio aos investidores. Segundo ela, o Fed se sentirá confortável em elevar o custo do empréstimo no país em resposta às pressões inflacionárias, sem ficar “atrás da curva”.
As expectativas de alta na taxa norte-americana na próxima reunião do Fed, em março, têm aumentado desde que a presidente Janet Yellen indicou que prevê aperto monetário neste ano, a despeito da política econômica de Donald Trump. Na curva implícita de juros, a probabilidade de alta no mês que vem está em 40%, subindo para 60% de chance na reunião seguinte, em maio. Por enquanto, a previsão do colegiado do Fed é de três elevações nos juros ao longo do ano, em um total de sete reuniões até o fim de 2017.
Apesar dessa incerteza, a maioria dos ativos são negociados em níveis elevados, com os índices de volatilidade nos patamares mais baixos em mais de um ano. Esse movimento dos investidores tem se agarrado no otimismo com o crescimento econômico global, diante dos sinais de recuperação da inflação nos países desenvolvidos, e se sobrepõe aos riscos potenciais com as eleições presidenciais francesas e os planos do Brexit no Reino Unido.
Por isso, é grande a expectativa pela ata da primeira reunião do Fed neste ano. Os investidores esperam encontrar pistas no documento que corroborem a chance de aumento dos juros norte-americanos no próximo mês – e se ela é majoritária entre os membros votantes. Também querem saber qual é o olhar do Fed em relação ao viés fiscal expansionista de Trump.
A ata será divulgada à tarde, às 16h. Antes, no calendário econômico no exterior, saem as vendas de imóveis existentes nos Estados Unidos em janeiro (12h) e também a leitura final do mês passado do índice de preços ao consumidor (CPI) na zona do euro (7h).
No Brasil, o destaque da manhã fica com a leitura preliminar deste mês dos preços no varejo. As estimativas são de aceleração a 0,50%, vindo de um avanço de 0,31% em janeiro. Ainda assim, se confirmado, será o menor resultado para meses de fevereiro desde 2007 (+0,46%).
Já no acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA-15 deve desacelerar e subir 4,98%. Se confirmado, o resultado será o menor para o período desde o acumulado até setembro de 2010 (+4,57%). Os números efeitos serão divulgados às 9h.
Aliás, o cenário favorável da inflação, com os preços correntes em queda e as expectativas abaixo do centro da meta (4,5%), é um dos principais fatores que permitem uma nova queda no juro básico hoje. As apostas de um novo corte de 0,75 ponto porcentual (pp) na taxa Selic neste mês estão consolidadas, mas há argumentos para uma dose maior.
Isso porque ao comportamento dos preços somam-se os dados fracos de atividade e o andamento das reformas estruturais no Congresso, que poderiam instigar o Comitê de Política Monetária (Copom) para um ritmo mais agressivo, de ao menos um ponto. Porém, mais que a discussão sobre o tamanho da queda neste mês e nos próximos, o foco do BC pode se deslocar para a carga total de cortes neste ano, ao “novo ritmo” de 0,75pp.
Se confirmada a expectativa majoritária, a taxa Selic retorna aos níveis de janeiro de 2015, a 12,25%, quando um ciclo de aperto monetário estava em curso. Já o juro real seguirá elevado, em 7,75%, considerando-se a previsão de inflação ao redor da meta (4,5%) neste ano.
A decisão deste mês do Copom será divulgada a partir das 18h e será acompanhada de um comunicado, que também será lido com lupa, com os investidores em busca de mudanças no discurso e no teor que especifiquem com clareza as intenções do BC. Nesse ambiente de investigação, aqui e lá fora, os mercados devem calibrar as apostas para o cenário econômico em 2017, que começa para valer depois do carnaval.