Comprar ou vender?

Pré-Market: Deforma da Previdência

08 nov 2017, 7:07 - atualizado em 08 nov 2017, 7:07

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado

O governo diz que vai insistir para aprovar a reforma da Previdência no Congresso, pois alega que não se pode entrar 2019 sem mudanças na aposentadoria. Afinal, o tema é muito delicado para ser debatido durante a campanha eleitoral do ano que vem. Por isso, o presidente Michel Temer tenta unir forças para aprovar a medida ainda em 2017 e o mercado financeiro aposta na aprovação de ao menos um texto enxuto.

Ainda assim, por mais que Temer garanta “toda a energia para aprovar a proposta”, os investidores sabem que há uma “ressaca política” e somente uma reforma ministerial, que contemple os cargos pedidos pelos líderes do Centrão em troca de votos para arquivar as denúncias contra o presidente, pode dar sobrevida à reforma da Previdência. Com isso, a cautela cresceu ontem.

A indecisão sobre as novas regras para a Previdência fez o Ibovespa registrar a maior queda desde 18 de maio, no dia seguinte à divulgação das gravações da JBS. O tombo de 2,55% levou o principal índice acionário da Bolsa brasileira ao menor nível desde o início de setembro, nos 72 mil pontos. Já o dólar subiu meio por cento, mas segue abaixo de R$ 3,30, em um movimento acompanhado pelos juros futuros mais longos.

A leitura do mercado foi de que, sem a reforma da Previdência, a expansão fiscal pode trazer riscos inflacionários, pois o governo aponta a aposentadoria como a principal fonte do rombo das contas públicas no Brasil. Com o adiamento das medidas, a tendência seria de piora na avaliação de risco do país (CDS de 5 anos), e isso poderia chamar a atenção das agências de classificação de crédito soberano (rating).

Mais que isso, o crescimento econômico doméstico pode ser revisto, com o benefício das baixas taxas de juros e de inflação no desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) se esgotando, carente de investimentos. Sem a contribuição da atividade econômica para ajustar as contas públicas, o mercado começa então a discussão sobre quando a Selic deve subir. Algo que pode ficar para depois das eleições de 2018.

A cautela diante da incerteza sobre o cenário eleitoral esvazia as chances de apoio a mais uma medida impopular. A ausência de grandes alterações na disputa, com as pesquisas de intenção de voto não trazendo novidades, provoca um temor crescente, pois um candidato que faça campanha por mudanças na aposentadoria para recompor a saúde fiscal das contas públicas é improvável.

Nesse ambiente, o cenário político complexo até as eleições do ano que vem pede moderação à exposição ao risco, em meio ao “cada vez mais amargo” sentimento em relação à aprovação da reforma da Previdência ainda em 2017. A incerteza sobre o apoio do PSDB ao governo ajuda a manter o ceticismo.

Contudo, a cena internacional não está tão avessa aos ativos mais arriscados, diante das condições de liquidez e do quadro de crescimento econômico global. A perspectiva de implementação de corte de impostos pelo presidente Donald Trump, que poderia estimular a economia dos Estados Unidos, combinada com um processo gradual de aumento dos juros norte-americanos têm fortalecido as bolsas de Nova York e também o dólar.

Nesta manhã, porém, os índices futuros em Wall Street estão no vermelho, após uma sessão fraca na Ásia, com o recente rali perdendo força. O dólar também está sob pressão, diante de relatos de que líderes republicanos no Senado estão avaliando adiar a proposta de reduzir tributos às empresas. O petróleo também dá sinais de cansaço e é negociado em baixa, ao passo que o cobre está de lado, nos menores níveis em um mês.

O crescimento de 6,1% das exportações chinesas em outubro, em relação a um ano antes, traz certo desânimo, após o avanço de 8,1% no mês anterior e ante expectativa de +7%. Em termos dolarizados, a alta foi de 6,9%. Já as importações tiveram aumento de 17,2% no mês passado, de +18,7% em setembro e de +16,3% previstos. Com isso, o superávit comercial da China cresceu a US$ 38,32 bilhões, abaixo do esperado.

As importações mensais para a China têm crescido ao ritmo de dois dígitos desde janeiro, enquanto a recuperação nas exportações ajuda a sustentar um forte crescimento econômico país. Esses números são um lembrete oportuno da força comercial chinesa no dia em que Trump chega em Pequim, no primeiro encontro oficial do presidente chinês Xi Jinping desde o Congresso do Partido Comunista, no mês passado.

O norte-americano estará interessado em novos acordos. Afinal, o superávit comercial da China com os EUA diminuiu ligeiramente para US$ 26,62 bilhões em outubro, de US$ 28,08 bilhões em setembro, mas foi o quinto saldo positivo mensal consecutivo acima de US$ 25 bilhões, o que coloca a China no caminho para registrar um superávit com os EUA maior do que no ano passado.

No fim do dia, a China volta à cena para anunciar os índices de preços ao produtor (PPI) e ao consumidor (CPI) em outubro. Ao longo da quarta-feira, o calendário econômico traz entre os destaques domésticos o IGP-DI no mês passado (8h) e os dados regionais da produção industrial em setembro (9h). Às 12h30, saem os números parciais do fluxo cambial neste início de novembro, que devem refletir a piora recente do dólar.

Leia mais sobre: