Pré-Market: Compre, compre, compre
Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado
A sexta-feira deve ser reservada às compras no Brasil – mas não nos mercados. O comércio nacional celebra mais uma edição da Black Friday, data que caiu de vez no gosto dos brasileiros e que tende a impulsionar as vendas no varejo e a receita dos serviços antes da temporada de fim de ano. Já os negócios locais devem ter uma sessão arrastada, com Wall Street voltando do feriado ainda a meio mastro e em meio à espera pela votação da reforma da Previdência.
O governo resolveu ir para o “ou tudo ou nada” e acertou com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, marcar para a primeira semana de dezembro a apreciação da matéria em plenário. Ciente de que não tem os 308 votos necessários para aprovar as novas regras para a aposentadoria, a estratégia arriscada do Palácio do Planalto é de pressionar os deputados, jogando neles a responsabilidade para solucionar a questão fiscal do país.
Nem se pode dizer que o presidente Michel Temer vai aproveitar a Black Friday para comprar o apoio (votos) que falta, sonhando na aprovação da reforma da Previdência como um presente de Natal. Mas os deputados dificilmente vão oferecer pechinchas, já que muitas das benesses prometidas por Temer à luz da votação das denúncias da Procuradoria-Geral da República (PGR) ainda não foram quitadas.
Até por isso, os investidores não apostam todas as fichas na aprovação do novo texto. O fato de a versão reduzida da reforma da Previdência contemplar mais da metade dos pontos apresentados na proposta original mantém a resistência dos parlamentares, que podem ficar tentados em propor mais alterações, suavizando as regras mais impopulares.
Além disso, os investidores não viram com bons olhos o baixo quórum do jantar oferecido pelo presidente aos aliados para apresentar a nova versão do texto da Previdência. Foram convidados cerca de 300 deputados e menos de 200 estiveram presentes no Palácio do Alvorada na noite de quarta-feira. Essa presença aquém do esperado mostra as dificuldades do governo.
Mas os mercados domésticos não se dão por vencidos e ainda apostam em intensas negociações nos próximos dias. Por enquanto, o governo diz contar com até 270 votos favoráveis, tendo de conquistar aproximadamente mais 50 votos em um curto prazo de tempo para aprovar a matéria antes do recesso legislativo, em meados de dezembro.
Para hoje, a Black Friday é o grande evento econômico do dia. A cada ano, a data crava recorde de vendas no Brasil e este ano promete estabelecer um novo resultado histórico, devendo ultrapassar R$ 2 bilhões. Os itens mais procurados na data promocional são eletrônicos e eletrodomésticos.
Na agenda econômica do dia, será conhecido apenas o índice Ifo de sentimento econômico na Alemanha em novembro. Internamente, às 8 horas saem os resultados regionais da prévia do IPC-S em novembro, o levantamento preliminar da confiança da indústria neste mês e os custos da construção (INCC-M).
No exterior, o volume financeiro segue fraco nesta volta do feriado de Ação de Graças nos Estados Unidos, com muitos investidores ainda fora dos negócios, emendando o fim de semana. A sinalização das bolsas de Nova York para o dia é positiva, mas os mercados devem ter uma sessão esvaziada. O dólar sobe e o petróleo também.