Comprar ou vender?

Pré-Market: Compasso de espera

25 jul 2017, 11:14 - atualizado em 05 nov 2017, 13:59

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado

Os dias de calmaria no calendário econômico e no noticiário político estão contados, mas a terça-feira ainda deve ser marcada pela ausência de gatilhos aos mercados financeiros, nesta véspera de decisão de juros no Brasil e nos Estados Unidos. A sessão deve se arrastar, testando o apetite por risco, o que deixa bolsas e moedas flutuando no exterior.

Os investidores podem até aproveitar esses dias que antecedem o fim do recesso parlamentar para ajustar as posições, uma vez que o front político em Brasília deve voltar a se sobrepor em breve, deixando os mercados mais cautelosos. A espera é pelo 2 de agosto, quando será analisada no plenário da Câmara a denúncia contra o presidente Michel Temer.

Espera-se também para o início do próximo mês a apresentação de uma nova denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR). Para a primeira acusação, o governo espera ter mais que os 172 votos necessários para arquivar o processo e a oposição não deve alcançar os 342 parlamentares a favor de encaminhar a questão ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Sem o quórum necessário para dar continuidade à denúncia contra o presidente Temer, a estratégia da oposição é “deixar o governo sangrar” e obstruir ao máximo a sessão marcada para o dia 2, adiando a votação entre os deputados e prolongando o desgaste de Temer. Já o governo continua com a política do “toma-lá-dá-cá”, liberando emendas e cargos em troca de apoio.

Enquanto isso, o governo prepara um programa de demissão voluntária (PDV) para servidores federais, em mais um esforço para tentar reverter a crise fiscal e fechar as contas públicas no ano que vem. Os detalhes devem ser definidos nos próximos dias e o objetivo é reduzir os gastos com a folha de pagamento, tendo ainda como opção a redução da jornada de trabalho, com corte de salários.

Segundo o ministro Meirelles (Fazenda), “tudo é possível, se necessário”, mostrando que a equipe econômica não hesitará em tomar medidas para cumprir a meta fiscal de 2017, deficitária em R$ 139 bilhões. Entre as possibilidades, fala-se do aumento de PIS e Cofins para o etanol, mas o esforço do governo, por ora, se dá em concretizar outras receitas.     

Mas enquanto Brasília segue esvaziada e os eventos envolvendo os bancos centrais brasileiro e norte-americano acontecem apenas amanhã, as atenções se voltam à temporada de balanços. Por aqui, saem os resultados trimestrais da empresa de celulose Fibria, antes da abertura do pregão, e das varejistas Renner e Pão de Açúcar, após o fechamento.

Na agenda de indicadores, será divulgada apenas a sondagem do consumidor em julho (8h). Lá fora, serão conhecidos dados do setor imobiliário nos EUA (10h) e o índice de confiança do consumidor norte-americano neste mês (11h). Mas a agenda econômica só deve movimentar os mercados amanhã.

O Federal Reserve deve manter os juros nos EUA entre 1% e 1,25% neste mês, mas pode dar pistas sobre quais serão os próximos passos. Até o fim do ano, estão programadas outras três reuniões e a previsão é de ao menos mais uma alta na taxa, possivelmente em dezembro. Essa aposta, porém, já perdeu força no mercado e novas sinalizações podem ficar para o famoso simpósio em Jackson Hole (Wyoming), no mês que vem.

No Brasil, a expectativa é de que o Comitê de Política Monetária (Copom) reduza a taxa básica de juros em 1 ponto porcentual, para 9,25%, colocando a Selic de volta ao patamar de um dígito, o que não era visto desde o último trimestre de 2013. Com as apostas consolidadas em relação a uma manutenção do ritmo de queda, repetindo a dose adotada em abril e em maio, as atenções se voltam para o comunicado que acompanhará a decisão.

 

A expectativa também é de que Copom dê pistas quanto aos próximos passos nas últimas três reuniões deste ano. Por ora, espera-se que o BC adote um tom dependente dos dados econômicos e sinalize um viés em direção a uma redução moderada no ritmo de cortes nos juros a partir de setembro. Mas isso é assunto só para amanhã…

Nesta manhã, as principais bolsas europeias e os índices futuros das bolsas em Nova York ensaiam ganhos, amparados no avanço do petróleo. O barril da commodity busca a faixa de US$ 47, após a Arábia Saudita prometer cortes maiores na exportação a partir de agosto a fim de reduzir o excesso de oferta e impulsionar os preços.

O salto do sentimento econômico na Alemanha para o nível recorde de alta em julho também anima os negócios. O índice Ifo descreve as empresas alemãs como eufóricas, ao avançar a 116 pontos neste mês, contrariando a previsão de queda a 114,9 pontos e ficando acima da leitura de junho, em 115,2 pontos. Os números mostram que a maior economia europeia está avançando a todo vapor.

O euro também ganha tração após o dado e é negociado nos maiores níveis desde janeiro de 2015, ampliando as perdas do dólar em relação aos rivais. A moeda norte-americana aguarda a decisão do Fed, amanhã, e também os números do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA no segundo trimestre deste ano, na sexta-feira. Até por isso, os investidores relutam em assumir posições mais firmes, em compasso de espera do que vem por aí.      

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