Comprar ou vender?

Pré-Market: Começa tudo de novo

14 fev 2018, 8:23 - atualizado em 14 fev 2018, 8:23

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado

Dizem por aí que o ano no Brasil só começa hoje, depois do carnaval. A folia no país ainda pode durar mais uns dias, mas nos mercados financeiros a volta aos negócios no início da tarde desta quarta-feira se dá em meio à recuperação no exterior, com Wall Street conseguindo cravar três dias seguidos de alta na terça-feira, após os ganhos firmes entre o fim da semana passada e o início desta.

Nesta manhã, porém, a cautela prevalece lá fora, antes da divulgação dos dados de janeiro nos Estados Unidos sobre a inflação ao consumidor (CPI) e as vendas no varejo, às 11h30. Portanto, por mais que seja positivo o ajuste dos últimos dois dias que os mercados domésticos terão de fazer na reabertura do pregão hoje, a partir das 13h, os negócios locais voltam já em meio à reação do exterior a esses indicadores.

Juntos, os números podem calibrar as apostas em relação à necessidade de aperto adicional na taxa de juros norte-americana em 2018, além das três altas previstas pelo Federal Reserve. A previsão para o CPI norte-americano é de aumento de 0,4% em relação a dezembro, mas uma leitura mais salgada pode dar sinais sobre o ritmo de aceleração dos preços no varejo.

Excluindo-se os itens voláteis, como alimentos e combustíveis, o núcleo do indicador deve ter avançado 0,2% em base mensal e 1,7% na comparação com um ano antes. Já o comércio varejista norte-americano deve ter registrado crescimento pelo quinto mês seguido, de +0,3% nas vendas no primeiro mês deste ano em relação ao período do Natal, subindo até 0,6% quando retirado o setor de veículos.

Na segunda-feira, enquanto o Brasil festejava o carnaval, grandes instituições passaram a prever quatro altas de juros nos EUA neste ano, na esteira da proposta de orçamento que aumenta o déficit fiscal de 2019 e do programa de investimento de infraestrutura anunciados pelo governo Trump. Em reação, o Dow Jones e S&P 500 subiram mais de 1% naquele dia, animados com os planos de impulsionar a maior economia do mundo.

Segundo a Casa Branca, a intenção é mobilizar US$ 1,5 trilhão em obras para renovar o sistema de instalações e construções no país durante dez anos. Além disso, o governo propôs um orçamento federal de US$ 4,4 trilhões para o próximo ano, com cortes totais de US$ 1,7 trilhão, principalmente em programas voltados à saúde, e aumento de gastos militares e de defesa.

Mas ambas as propostas devem enfrentar resistência no Congresso dos EUA, inclusive do próprio partido do presidente Donald Trump. Os democratas afirmam que não há sustentação nos planos e os republicanos desconfiam que se trata de mais uma medida que irá elevar os gastos públicos, ampliando o rombo fiscal norte-americano por anos, em um momento em que não é necessário acelerar o crescimento econômico do país.

Cientes disso, as bolsas de Nova York subiram menos ontem, deixando dúvidas sobre se a correção brutal da semana passada chegou mesmo ao fim. Ainda assim, o sinal positivo prevalece nos índices futuros nesta manhã, o que embalou a sessão na Ásia – exceto Tóquio, que caiu pela segunda vez seguida e fechou no menor nível em quatro meses – e sustenta as principais bolsas europeias no azul nesta manhã, após a queda da véspera.

É válido lembrar que os mercados na China estarão fechados a partir de amanhã e até o próximo dia 21, por causa da chegada do Ano do Cachorro. As comemorações também afetam os negócios na Malásia, Indonésia e Cingapura, que também não funcionam por alguns dias.

Entre os demais ativos, o petróleo recua, apesar da queda do dólar. A moeda norte-americana perde terreno em relação aos rivais, com destaque para o avanço do iene japonês ao maior nível em 15 meses, em meio à busca por proteção, e também para o rand sul-africano, que subiu ao maior valor em duas semanas, refletindo a pressão sobre o presidente do país, Jacob Zuma, para que ele renuncie, sob a denúncia de corrupção.

Enquanto isso, o rendimento dos títulos norte-americanos (Treasuries) está estável, ao redor de 2,8%, antes dos dados de inflação nos EUA. O CPI tem potencial para definir o plano de voo do Fed neste ano, podendo também influenciar nos estímulos monetários adotados por outros grandes bancos centrais, como o da zona do euro (BCE), o japonês (BoJ) e o inglês (BoE).

O que está em jogo, portanto, é o cenário para as condições de liquidez e juros no mundo. Enquanto a inflação nas principais economias desenvolvidas estiver baixa, haverá dinheiro sobrando no mercado global e os ativos podem ficar ainda mais caros. Caso contrários, os preços ao consumidor sobem, o custo do empréstimo também e os papéis mais arriscados ficam menos atraentes.

O novo presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, esquivou-se em tranquilizar os mercados financeiros em relação ao processo de alta dos juros norte-americanos, após a recente correção nos preços dos ativos. Segundo Jay, como é chamado, o ciclo de aperto monetário seguirá seu curso, assim como a redução do balanço de pagamentos, apesar da recente turbulência nos mercados. Ao Fed, caberá seguir alerta aos riscos, emendou.

Ainda na agenda econômica do dia no exterior, saem os números da produção industrial na zona do euro em dezembro e do Produto Interno Bruto (PIB) da região da moeda única no último trimestre de 2017, ambos às 8h. Amanhã, é a vez do desempenho da indústria nos EUA em janeiro e, no dia seguinte, sai a prévia de fevereiro do índice de confiança do consumidor norte-americano.

E é em meio a todo esse noticiário externo que os mercados domésticos retomam as negociações hoje. Mas a folia nas ruas ofusca o noticiário local, que só deve voltar a ganhar força na semana que vem, com os parlamentares retomando as atividades e decidindo em relação à reforma da Previdência. Mesmo assim, virou manchete no carnaval o desfile político da Paraíso do Tuiuti, em plena Marquês de Sapucaí.

Com um enredo que criticava outra reforma do governo Temer, a trabalhista, a escola de samba de São Cristóvão virou notícia ao trazer, no último carro, um personagem fantasiado de vampiro e com a faixa presidencial. Também chamou a atenção a ala que passou pela avenida com “manifestantes fantoches”, em alusão aos “paneleiros” que vestiram verde e amarelo, pedindo o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

No calendário econômico doméstico, o Banco Central marca o fim da folia no Brasil, com a divulgação da pesquisa Focus, excepcionalmente nesta quarta-feira, às 12h. às 12h30, é a vez dos dados semanais do fluxo cambial. Aliás, a autoridade monetária rouba a cena da agenda desta semana, em meio às expectativas pela divulgação da ata da reunião de fevereiro do Comitê de Política Monetária (Copom).

O documento será divulgado amanhã, voltando à data de origem da divulgação, antes da mudança sob a gestão Ilan Goldfajn. O horário do anúncio, porém, segue sendo o novo, das 8h. Na ata, o mercado financeiro espera encontrar explicações do BC sobre os motivos que levaram ao corte de 0,25 ponto percentual (pp) na taxa básica de juros na semana passada.

Mais que isso, a expectativa dos investidores é de encontrar pistas sobre os fatores que poderiam permitir uma nova queda na mesma magnitude em março. Por ora, as chances maiores para o próximo encontro, no mês que vem, são de interrupção do processo, com a Selic permanecendo no novo piso histórico de 6,75% ao ano. Mas o BC podem apontar indícios que poderiam disparar um corte adicional de 0,25pp.

Apesar de só sair amanhã, a ata do Copom é o grande destaque da agenda doméstica, que traz ainda o desempenho do setor de serviços em dezembro (sexta-feira). O dado, juntamente com os números da indústria e do varejo, deve calibrar as previsões finais para o resultado do PIB brasileiro em 2017. Na quinta-feira, é a vez do primeiro IGP do mês, o IGP-10.

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