Comprar ou vender?

Pré-Market: China continua bombando

18 jan 2018, 7:51 - atualizado em 18 jan 2018, 7:51

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado

É verdade que a China deixou para trás, já há alguns anos, taxas exorbitantes de crescimento, na casa dos dois dígitos, mas a alta de 6,9% do Produto Interno Bruto (PIB) no acumulado de 2017 interrompeu o processo gradual de desaceleração econômica, garantindo a primeira expansão desde 2010, após um aumento de 6,7% em 2016. Esses números tendem a relativizar os efeitos da perda de tração do PIB chinês, mostrando que a segunda maior economia do mundo segue dando ritmo à atividade global.

Até porque, os dados da indústria e do varejo em dezembro mostram que Pequim segue obtendo êxito na proposta de sair da dependência econômica da indústria pesada (e poluente) e migrando em direção aos serviços e ao consumo das famílias, com forte influência do dinamismo da economia digital. Contudo, as vendas do comércio cresceram 9,4% em dezembro, em base anual, abaixo da previsão de 10,2%, ao passo que a produção industrial subiu um pouco mais que o esperado, em +6,2%, ante previsão de +6,1%.

Já os investimentos em ativos fixos avançaram 7,2% no acumulado do ano passado, no menor aumento desde 1999. Esses números realçam uma mudança qualitativa do crescimento econômico chinês, que tende a beneficiar o emprego, a renda e também a produtividade. Tanto que o consumo, que inclui alguns gastos do governo, está se tornando um forte pilar da economia chinesa, contribuindo com 58,8% da alta do PIB em 2017.

Ao mesmo tempo, o comércio exterior melhorou cerca de 0,5 ponto percentual, em termos reais, e foi a justificativa para a aceleração do crescimento econômico chinês no ano passado. Com a atividade dando sinais de força, o governo chinês pode se sentir confortável em focar na redução dos riscos, principalmente àqueles relacionados à estabilidade financeira no país. E, assim, a estimativa é de avanço mais moderado do PIB neste ano.

Em reação, a sessão foi mista na Ásia, com perdas em Tóquio (-0,44%), enquanto Hong Kong (+0,43%) e Xangai (+0,87%) subiram. Na Europa, as principais bolsas avançam nesta manhã, com os ganhos liderados pelas varejistas e o setor de tecnologia, ao passo que o euro volta a ganhar força em relação ao dólar. Os índices futuros das bolsas de Nova York estão em ligeira baixa nesta manhã, sinalizando uma sessão de realização de lucros em Wall Street.

Nas commodities, o petróleo recua, apesar da determinação do cartel de países da Opep em manter os cortes na produção. Já entre os metais básicos, o cobre avança e o minério de ferro também. Assim, os mercados internacionais tentam mostrar ânimo em reação aos dados chineses, com os investidores sustentando a narrativa de expansão global sincronizada, que, somada às expectativas otimistas de lucro das empresas, pode significar uma mercado de alta (bull market) até 2019 ou além – o que mantém o apetite por risco.

Os mercados domésticos devem tirar proveito dessa busca por retornos mais elevados, o que tem içado a Bovespa acima dos 80 mil pontos e sustentado o dólar ao redor de R$ 3,20. Por aqui, os investidores seguem em compasso de espera, aguardando alguma novidade no quadro político. A expectativa maior recai no julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no próximo dia 24 de janeiro, em processo sobre o tríplex no Guarujá (SP).

O caso pode confirmar sentença de prisão dada em primeira instância pelo juiz Sergio Moro, tirando o petista da corrida presidencial deste ano. Além do cenário eleitoral, também está no foco dos mercados domésticos a questão da reforma da Previdência. Porém, ao contrário da confiança na confirmação da condenação de Lula, os investidores estão cada dia mais céticos sobre a aprovação de novas regras para a aposentadoria.

Além disso, os investidores estão relegando o noticiário envolvendo o presidente Michel Temer, que pode estourar uma nova crise em Brasília. O afastamento de quatro vice-presidentes da Caixa pode não só impactar nas negociações sobre a Previdência, minando o apoio à matéria dos partidos que fizeram as indicações dos cargos no banco público, como também atingir o próprio presidente.

Segundo o deputado cassado Eduardo Cunha, um dos executivos afastados foi nomeado por Temer, deixando dúvidas sobre quem fazia a pressão interna no banco, cobrando informações sobre operações. Além disso, Temer precisa finalizar até hoje as respostas a serem enviadas à Polícia Federal, no caso do inquérito que apura suposto pagamento de propina ao presidente e esquema de caixa 2 em campanhas pelo Porto de Santos.

Ainda na agenda econômica desta quinta-feira, merecem atenção os indicadores norte-americanos a serem conhecidos às 11h30: os pedidos semanais de auxílio-desemprego; a construção de moradias em dezembro e o índice regional de atividade a Filadélfia neste mês. À tarde, saem os estoques semanais de petróleo bruto e derivados nos EUA (14h). No Brasil, o calendário novamente fraco traz apenas indicadores da FGV (8h), sem destaques.

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