Pré-Market: Cautela às vésperas da eleição
Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.
A cautela no mercado financeiro pode continuar hoje, um dia após uma forte onda vendedora (sell-off) varrer os ganhos de 2018 das bolsas de Nova York, contaminando o desempenho local, que mantém o otimismo com uma vitória de Bolsonaro no domingo. Os índices futuros em Wall Street ensaiam uma recuperação nesta manhã, apesar de Tóquio liderar as perdas na Ásia e das preocupações com os resultados corporativos e a atividade econômica.
A forte aversão ao risco nos ativos financeiros ontem deixou a sensação de que estamos entrando em uma nova fase do ciclo econômico, sendo que o melhor do lucro das empresas e do crescimento global parece ter ficado para trás. Embora os resultados trimestrais sigam robustos, os números contábeis são acompanhados de alertas sobre o aumento de custos, diante da insistência dos Estados Unidos na guerra comercial, que já afeta a economia real.
Há, portanto, sinais mais evidentes de desaceleração da atividade – principalmente na China – e de acúmulo de pressão inflacionária no mundo, o que demanda a retirada de estímulos por parte dos principais bancos centrais, com o Federal Reserve liderando o processo de aumento dos juros. Com isso, os investidores reduzem o apetite por posições mais arriscadas e buscam proteção em ativos seguros. Essa mudança de sentimento pode levar as ações globais a registrarem o pior desempenho mensal em mais de seis anos.
Ao mesmo tempo, o dólar e os bônus norte-americanos (Treasuries) sustentam-se em alta, sinalizando que o pânico, por ora, está concentrado somente entre as bolsas globais. As commodities também perdem tração, em meio às dúvidas sobre a demanda por matérias-primas, sendo que o petróleo é pressionado pelos sinais de aumento de estoques nos EUA.
Na agenda econômica desta quinta-feira, o destaque fica com a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), às 8h45. A autoridade monetária não deve mudar o curso da política de juros na zona do euro, mantendo a taxa básica em zero. Da mesma forma, as recompras de bônus devem ser mantidas até dezembro.
Ainda assim, merece atenção a entrevista coletiva a ser concedida pelo presidente do BCE, Mario Draghi, às 9h30, com os investidores em busca de novos sinais sobre os estímulos monetários. Porém, muitos detalhes só devem ser revelados na última reunião deste ano, em dezembro, quando se encerra o programa de compra de ativos.
Entre os indicadores econômicos, o calendário norte-americano traz os pedidos semanais de auxílio-desemprego e de bens duráveis em setembro, ambos às 9h30, além das vendas pendentes de imóveis residenciais no mês passado (11h). No Brasil, destaque para o índice de confiança no comércio em outubro (8h) e para a nota do setor externo (10h30) em setembro.
Na safra de balanços, atenção para o resultado trimestral da Ambev, antes da abertura do pregão local. Depois do fechamento, saem os demonstrativos contábeis de Pão de Açúcar e Lojas Renner. No front eleitoral, o Datafolha divulga às 19h uma nova pesquisa, a segunda desde o início do segundo turno, feita com mais de 9 mil eleitores entre ontem e hoje.
Os números servirão para confrontar as mudanças apontadas pelo Ibope na reta final das eleições, após a oscilação em baixa de Bolsonaro e a oscilação positiva de Haddad, reduzindo a distância entre os candidatos para 14 pontos. Além disso, também houve um aumento na rejeição ao deputado e queda entre os eleitores que não votariam de jeito nenhum no petista.
Apesar de certo alarde em torno do Ibope e do “contorcionismo” dos números, os investidores seguem confiantes na derrota do PT no segundo turno das eleições presidenciais. A percepção é de que apesar dos dados mais positivos para Haddad, ele não tem fôlego – nem tempo – para alcançar Bolsonaro. A conferir.