Pré-market: Cautela antes do feriado
Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado
A véspera do feriado nacional deve ser marcada por uma cautela redobrada no mercado financeiro brasileiro, sem descartar volatilidade nos negócios locais, em meio à pressão externa nos países emergentes e após os números do Ibope sobre a corrida presidencial. Em um cenário já sem o ex-presidente Lula, o destaque ficou com Ciro Gomes, que subiu de 9% para 12%. Na liderança, permanece Jair Bolsonaro, que oscilou de 20% para 22%.
O pedetista foi o único oscilar acima da margem de erro, ficando empatado em segundo lugar com Marina Silva, que manteve os 12%. Porém, considerando-se a margem de erro de dois pontos porcentuais (pp), ambos estão tecnicamente empatados com Geraldo Alckmin, que aparece com 9%. Por sua vez, o tucano estaria empatado com Fernando Haddad, com 6%.
Já o provável substituto na chapa do PT teria a companhia de Álvaro Dias e João Amoêdo, com 3%, cada. Mas o maior destaque da pesquisa do Ibope, feita entre os dias 1º e 3 de setembro com cerca de 2 mil pessoas em 142 municípios, foi a redução do porcentual de votos brancos e nulos, de 29% para 21%, que ainda permanece elevado.
Ou seja, na ausência do ex-presidente na disputa, o cenário permanece totalmente em aberto e indefinido, com o candidato do PSL sem saber qual pode ser seu rival no segundo turno. Seja quem for, Bolsonaro perde para todos os três primeiros colocados, por ampla diferença. A exceção fica com Haddad, de quem ele ganha por uma pequena diferença, de 37% contra 36%.
A ver então, o que trará as próximas pesquisas eleitorais, previstas para a segunda-feira que vem. Tanto o Ibope quanto o Datafolha vão a campo no dia 10 e prometem a divulgação dos números à noite. Esses levantamentos tendem a captar por mais tempo os efeitos da campanha na TV e devem agitar o mercado financeiro brasileiro na volta do feriado.
Para hoje, a agenda econômica do dia traz dados de inflação (IGP-DI e IPCA) e de atividade (Anfavea) no Brasil, além de números sobre o emprego no setor privado dos Estados Unidos (ADP). A previsão é de que o dado a ser divulgado pelo IBGE às 9h alcance o menor resultado para o mês desde 1998, ficando estável em relação a julho. Com isso, a taxa acumulada em 12 meses deve desacelerar a 4,3%.
Já para o IGP-DI, a previsão é de aceleração para 0,75%, com a taxa acumulando avançando a 9,15%. No mesmo horário, a FGV publica indicadores do mercado de trabalho e sobre os preços aos consumidores de baixa renda, enquanto às 9h têm também dados sobre os custos na construção civil – todos referentes ao mês passado.
Lá fora, a agenda econômica norte-americana traz números sobre a criação de emprego no setor privado em agosto (9h15); os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos nos EUA e os dados revisados sobre o custo da mão de obra e da produtividade do segundo trimestre deste ano, ambos às 9h30.
Também saem dados revisados da atividade no setor de serviços no mês passado, às 10h45 e às 11h, além das encomendas às fábricas em julho (11h) e dos estoques semanais de petróleo bruto e derivados no país (12h). Entre os eventos econômicos, o presidente Donald Trump pode anunciar hoje a tarifação em mais US$ 200 bilhões em produtos chineses.
Mas o foco dos investidores está mesmo na definição do quadro eleitoral, com o PT tendo até a terça-feira da semana que vem para indicar um novo candidato. Ontem à noite, o juiz da Suprema Corte Edson Fachin decidiu negar o pedido da defesa de Lula, que pretendia afastar os efeitos da condenação em segunda instância, a qual enquadra o petista na Lei da Ficha Limpa.
Para Fachin, o argumento utilizado pelos advogados, com base no comunicado do Comitê de Direitos Humanos da ONU, não alcança o efeito de suspender a decisão do Tribunal da 4ª região (TRF-4), que condenou o ex-presidente. Além do pedido negado por Fachin, a defesa de Lula ainda conta com outros dois processos que aguardam definição judicial.
Tratam-se de um recurso extraordinário na Justiça Eleitoral e de uma petição no STF, que contestam a decisão colegiada do TSE, ao final do mês passado, que barrou a candidatura de Lula, por 6 votos a 1. Na Suprema Corte, o relator será o juiz Celso de Mello. Foram portanto, três pedidos, em menos de 24 horas.
Esse xadrez jurídico tem tumultuado o cenário eleitoral, mantendo a incerteza em torno do pleito e elevando a volatilidade entre os ativos brasileiros, que também sofrem uma pressão externa. O contágio entre os países emergentes, que começou com Turquia e Argentina, formando uma onda vendedora (selloff), que atingiu África do Sul, Indonésia e Brasil, tende a se espalhar cada vez mais.
A tensão no comércio global, o fortalecimento do dólar e a perspectiva de mais aumentos nos juros norte-americanos têm reduzido o fluxo de recursos para os mercados emergentes, em meio a uma crise de confiança quanto ao crescimento econômico nesses países. Nesta manhã, o dólar segue forte, com destaque para as perdas do rand sul-africano e da lira turca, enquanto as commodities recuam.
Nas bolsas, o índice MSCI de mercados emergentes caiu ao menor nível em mais de um ano, apesar da sinalização positiva vinda dos índices futuros em Nova York. As praças europeias tentam acompanhar o sinal em Wall Street, após uma sessão de novas perdas na Ásia, com Hong Kong caindo quase 1%. O índice MSCI da Ásia-Pacífico caiu pelo sexto dia seguido.