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Pré-Market: Brasil é a bola da vez

16 fev 2017, 9:53 - atualizado em 05 nov 2017, 14:07

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

O Brasil virou o “queridinho” entre os mercados financeiros e já é apontado como “o mais quente entre os emergentes” pela agência de classificação de risco Fitch. A expectativa de que o significativo ajuste das contas públicas em curso se espalhe por toda a economia leva os investidores a não enxergarem qualquer outra coisa melhor que o país em 2017. E essa aposta tende a levar o dólar para perto de R$ 3,00 e a Bovespa rumo aos 70 mil pontos – talvez não hoje, diante do sinal negativo nas bolsas e moedas internacionais.

A aprovação da segunda etapa da repatriação de recursos mantidos ilegalmente no exterior na Câmara dos Deputados, ontem, reforça a perspectiva de fluxo de recursos para o Brasil. Mas a proibição de políticos e de parentes de políticos ao programa frustra a proposta do líder do governo no Congresso, Romero Jucá. Ao mesmo tempo em que a possibilidade de atuação do Banco Central no câmbio tende a atenuar a apreciação do real.

Mas o risco não é só o BC. O velho jargão de que “contra fluxo não há argumentos” vem sendo testando nos negócios locais, que tiveram ontem mais um dia de euforia. O avanço da Bolsa brasileira para além dos 67 mil pontos, renovando os maiores nível em quase cinco anos, e a queda do dólar para abaixo de R$ 3,10 têm sido apoiados mais em expectativas de um Brasil melhor do que em fatos concretos – ou mesmo recursos físicos.

Ao contrário da “voz” do mercado doméstico, de que já existe uma forte entrada de capital, estrangeiro, principalmente, ávido por “comprar Brasil”, os números do Banco Central não corroboram esse apetite. O saldo entre a saída e o ingresso de dólares no país está negativo em fevereiro em quase US$ 2,5 bilhões, até o dia 10, sendo que essa conta fica no vermelho por causa da via financeira, com a retirada de quase US$ 3 bilhões no período.

No ano, o total de recursos oriundos de aplicações e movimentações financeiras também é negativo, em pouco menos de US$ 1,5 bilhão, sendo que o fluxo cambial acumulado em 2017 só fica no azul por causa do superávit da balança comercial em US$ 2,5 bilhões, ainda conforme o BC. Já os números da BM&FBovespa mostram que o fluxo de recursos externos na Bolsa só virou para o positivo neste mês no último dia 10.

O apetite dos “gringos” por ações brasileiras soma pouco mais de R$ 500 milhões no dado parcial de fevereiro até segunda-feira (13). No ano, o saldo acumulado na Bolsa supera R$ 6,5 bilhões, mas boa parte desse valor está atrelado a operações de arbitragem em índice futuro. Trata-se, portanto, de um movimento financeiro temeroso nos ativos domésticos, que se baseia mais em um sentimento inconsistente – fácil de ser desarmado.

Mas o mercado, como se sabe, vive de expectativas. E esse otimismo é alimentado pela trajetória de queda da inflação e dos juros, o ambiente externo mais favorável, e pela força política do presidente Michel Temer.

A vitória importante no caso Moreira Franco denota toda a articulação do governo para fazer avançar as reformas em pauta no Congresso, tidas como essenciais para colocar o país em ordem. Mais que isso, a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) ajudou a antecipar o impacto das delações da Odebrecht, cujo conteúdo deve se tornar público no início do mês que vem.

Enquanto isso, no exterior, a presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, reforçou a ideia de que o BC dos Estados Unidos está pronto para agir, independente das políticas que a Casa Branca possa adotar. Para ela, o Fed está perto de atingir seu duplo mandato – pleno emprego e estabilidade de preços – o que demanda um novo passo no processo de normalização monetária em breve.

De olho nisso, algumas instituições estrangeiras, como o JPMorgan, revisaram a previsão para a primeira alta dos juros norte-americanos neste ano. Para o JP, o movimento acontecerá em maio e não mais em junho, por causa não só do tom mais duro (“hawkish”) na fala de Yellen como também dos dados econômicos dos EUA, que corroboram a expectativa de aquecimento – da atividade e da inflação. Na curva implícita, a chance de aperto monetário já em março subiu para 42%, de 30% dois dias atrás.

Diante desses sinais, o investidor busca proteção em ativos mais seguros, o que tende a testar o fôlego dos mercados brasileiros hoje. Lá fora, os investidores já se perguntam quão mais longe os ativos de risco, como ações e commodities, podem ir. E, acima de tudo, com base em quais evidências, em meio à ausência de estímulos fiscais por parte do presidente norte-americano, Donald Trump.

Fica, então, a sensação de que os mercados estão “sobrecomprados” – o que reforça a perspectiva de desarme do movimento recente nos ativos brasileiros. Nesta manhã, os índices futuros das bolsas de Nova York estão no vermelho, assim como o barril do petróleo e os metais básicos. O dólar, por sua vez, cai ante o iene e o euro, mas mede forças antes as moedas emergentes, como o dólar australiano.

Na agenda do dia, destaque para a ata da reunião de política monetária do Banco Central da zona do euro (BCE) em janeiro, quando não se colocou à mesa a discussão sobre o fim dos estímulos monetários na região da moeda única. O documento será publicado às 10h30. Depois, nos EUA, às 11h30, saem os pedidos semanais de auxílio-desemprego, a construção de novas moradias em janeiro e o índice de atividade na região da Filadélfia.

Antes, no Brasil, às 8h30, sai o índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br) em dezembro. O dado serve como termômetro para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre do ano passado e no acumulado de 2016. A previsão é de que o indicador caia 0,3% em relação a dezembro, após subir 0,20% no mês anterior, contrariando a previsão de queda.

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