Pré-Market: Apreensão na reta final
Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.
O mercado financeiro brasileiro resistiu bem à pressão negativa vinda do exterior ontem, com o otimismo com a vitória de Jair Bolsonaro no domingo limitando o impacto nos negócios locais do ambiente externo cada vez mais hostil. Mas os números do Ibope sobre a corrida presidencial devem testar essa confiança, em meio à expectativa pelo fim da disputa.
O novo levantamento do instituto, feito entre anteontem e ontem com cerca de 3 mil eleitores, mostrou a menor distância entre os dois candidatos desde o início do segundo turno. A vantagem de Bolsonaro sobre Fernando Haddad caiu de 18 para 14 pontos, a cinco dias da votação, elevando a tensão para o veredicto das urnas, virando a página para o pós-eleição.
Enquanto o deputado oscilou dois pontos para baixo, indo de 59% para 57% dos votos válidos, o petista oscilou dois pontos para cima, passando de 41% para 43%. Ambas as variações estão dentro da margem de erro. Também merecem atenção os dados da pesquisa em relação à rejeição e ao potencial de voto.
Enquanto o grau de certeza entre os eleitores de Haddad cresceu de 28% para 31%, essa convicção em relação ao deputado caiu de 41% para 37%. Ao mesmo tempo, 40% disseram não votar de jeito nenhum em Bolsonaro, ante 35% no levantamento anterior, enquanto a rejeição ao petista caiu de 47% para 41%, mas ainda é a maior.
Esse primeiro revés eleitoral não deve ter potencial para abalar a confiança dos investidores na vitória da extrema-direita no pleito de domingo. Com isso, o foco do mercado financeiro brasileiro se mantém em declarações do provável vencedor da eleição sobre temas sensíveis, como a formação de ministérios, a condução da política econômica e a agenda de governo.
Há, portanto, certa cautela, com os investidores querendo mais detalhes sobre as propostas econômicas, os nomes que farão parte da equipe ministerial e a capacidade de aprovar as reformas no Congresso. E essa “lua de mel” do mercado financeiro brasileiro com o provável presidente eleito deve durar enquanto o exterior deixar.
O humor dos investidores ainda não azedou, mas causa espanto algumas dicotomias do governo Bolsonaro que vem sendo apresentadas. A mais recente é a reforma tributária, que traria um rombo de R$ 27 bilhões, havendo mais perdas do que ganhos na arrecadação de impostos.
Afinal, fala-se em cortar tributos de importação, aumentar a desoneração da folha de pagamento, dar décimo terceiro salário ao Bolsa Família, não mexer na previdência de militares, entre outros. Só não se explica como conseguir tudo isso em um país que precisa frear o aumento da dívida pública. Por ora, a conta não fecha e é preciso mais visibilidade.
Essas dúvidas somam-se à lista de focos de tensão no exterior, que é crescente. A desaceleração econômica na China e as tentativas de Pequim de moderar a onda vendedora (sell-off) dos mercados; a rejeição ao orçamento da Itália e a ausência de um “plano B” do primeiro-ministro Giuseppe Conte; o imbróglio sobre a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) e o assassinato de um jornalista saudita no consulado em Istambul são “fios desencapados” capazes de provocar um curto-circuito no mercado financeiro global.
Por ora, a resiliência dos ativos globais também é elástica. A Bolsa de Xangai fechou em leve alta hoje, o que não inibe um sinal negativo entre os índices futuros de Nova York. Ainda na Ásia, Hong Kong caiu e Tóquio subiu, enquanto na Europa, o sinal positivo prevalece. O dólar mede forças frente às moedas rivais, enquanto o petróleo cai à mínima em dois meses.
Assim, os investidores estão lutando contra o que caminha para ser o pior mês em mais de três anos para as ações globais. O sentimento nos negócios mais arriscados segue frágil, em meio à preocupação com a perda de tração no crescimento dos lucros das empresas. Ontem foi a vez da Caterpillar alertar sobre custos crescentes devido às sobretaxas norte-americanas.
Já a agenda econômica desta quarta-feira ganha força no exterior, onde saem dados preliminares de outubro sobre a atividade nos setores industrial e de serviços na zona do euro e nos Estados Unidos. Também merecem atenção o Livro Bege (15h) do Federal Reserve e os estoques semanais de petróleo bruto e derivados nos EUA (11h30).
No Brasil, destaque para o índice de confiança do consumidor neste mês (8h) e para os dados sobre a entrada e saída de dólares do país até a semana passada (12h30). Já a safra de balanços começa hoje, com a divulgação dos resultados trimestrais de Vale e Via Varejo, após o fechamento do pregão local. Antes da abertura, saem os números de Fibria.