Mercados

Pré-Market: Agora é domingo

05 out 2018, 8:07 - atualizado em 05 out 2018, 8:07

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

O boato virou fato. Na reta final do pregão de ontem, o mercado financeiro brasileiro reverteu as perdas apresentadas durante boa parte do dia, em meio a rumores de que Jair Bolsonaro seguiria se fortalecendo no Datafolha. Horas depois, a divulgação oficial da pesquisa confirmou o aumento para 35% e essa onda de crescimento do candidato deve animar os negócios hoje, com os investidores otimistas com uma vitória já no domingo.

Considerando-se apenas os votos válidos – que excluem brancos, nulos e indecisos – Bolsonaro tem 39%. Faltam, portanto, 11 pontos porcentuais (pp) – e mais um voto – para o candidato ganhar a eleição no primeiro turno. Assim, o investidor pode não querer ficar de fora, guardando a reação ao resultado final somente para a semana que vem.

Mas também pode ser arriscado encerrar o pregão desta sexta-feira com uma aposta mais ousada. A tendência, então, é de uma postura defensiva perto do fechamento e uma cautela redobrada até o fim do dia, garantindo uma dose extra de volatilidade nos negócios locais.

De hoje até domingo, os investidores estarão atentos a quatro quesitos: o nível de rejeição dos dois primeiros colocados na corrida presidencial; o potencial de crescimento de Ciro Gomes; o comportamento do voto útil entre os eleitores da direita e a possibilidade de um segundo turno entre PSL e PT.

Os números do Datafolha de ontem respondem a algumas dessas questões. Bolsonaro continua sendo o candidato mais rejeitado, com 45% do eleitorado afirmando que não votaria nele de jeito nenhum, estável em relação aos números de terça-feira. Colado à ele está Fernando Haddad, que é rejeitado por 40% dos eleitores, de 41% dois dias antes.

Em relação a Ciro, o candidato manteve os 11% e está tecnicamente empatado com Geraldo Alckmin, que oscilou de 9% para 8%. Mais atrás, Marina Silva seguiu com 4%, enquanto na vice-liderança, Haddad oscilou em alta, de 21% para 22%. Os votos brancos, nulos e dos indecisos passaram de 8% para 6%. Desconsiderando-se esses votos, Haddad tem 25%.

Já nas simulações de segundo turno, o candidato do PT está tecnicamente empatado com Bolsonaro, que manteve os 44%, enquanto Haddad oscilou para cima, de 42% para 43%. Por fim, a polarização da disputa reflete a convicção dos eleitores, com 86% afirmando-se ser bolsonarista e 83% dos pró-Haddad dizendo estar certos do voto.

Com isso, o Datafolha não deve refrear o otimismo dos investidores, como fez o Ibope ontem. Afinal, se as eleições presidenciais forem resolvidas já no dia 7, os ativos brasileiros terão um forte rali na próxima segunda-feira, com valorização da Bolsa e do real e retirada do prêmio de risco embutido nos juros.

Porém, se o cenário ainda mais provável se confirmar, Bolsonaro e Haddad devem se enfrentar em um segundo turno, marcado para 28 de outubro. E o embate deve ser duríssimo, caminhando para mais uma disputa que será definida em 51% versus 49% dos votos válidos – sendo que o vencedor ainda é incerto.

Seja como for, o risco político não deve desaparecer no curto prazo. Até porque, qualquer que seja o veredicto final da eleição presidencial, todos os deputados da Câmara e dois terços dos 81 senadores também serão escolhidos nas urnas neste domingo. E caso o Congresso seja fragmentado, a perspectiva de aprovação de reformas econômicas continuará frágil.

Já no exterior, os investidores estão se dando conta dos possíveis impactos do fim da política monetária acomodatícia pelo Federal Reserve. Desde a reunião de setembro, não fez muito sentido a previsão de maior crescimento econômico dos Estados Unidos neste e no próximo ano combinada com um ciclo menor de aperto monetário.

Daí, então, que o mercado financeiro começou a prever mais altas dos juros em 2019. Nas previsões do Fed divulgadas no mês passado (dot plot), o cenário central contempla só mais dois aumentos no ano que vem, com a taxa de juros norte-americana encerrando em 3%, dos atuais 2,25%. Um novo aperto deve acontecer ainda neste ano – o quarto de 2018 – em dezembro.

Os números sobre a geração de postos de trabalho nos EUA (payroll) em setembro combinados com a taxa de desemprego no país no mês passados, às 9h30, devem calibrar essas apostas, em meio aos sinais de pleno emprego. A previsão é de abertura de 188 mil vagas, com a desocupação caindo a 3,8%.

Mais uma vez, as atenções estarão voltadas para o comportamento dos salários, a fim de aferir os possíveis acúmulos de pressão inflacionária. A previsão é de alta de 0,3% do ganho médio por hora em relação a agosto, com +2,8% na comparação com um ano antes. Em agosto, o trabalhador recebia, em média, US$ 27,16 por hora.

À espera desses números, os mercados internacionais seguem preocupados com a escalada nos juros projetados pelos títulos dos EUA (Treasuries) para os maiores níveis em anos. As empresas do setor de tecnologia também pesam nos negócios, em meio a relatos de que a China teria infiltrado um chip em aparelhos de empresas norte-americanas para espionar.

As ações de tecnologia lideraram as perdas na Ásia e também são destaque de queda na Europa, espalhando o sinal negativo entre as bolsas dessas regiões. O papel da Lenovo tombou 15% em Hong Kong. Em Nova York, os índices futuros também estão no vermelho. Nos demais mercados, a tensão fiscal na Itália pressiona o euro, enquanto o petróleo sobe.

A agenda econômica desta sexta-feira também é destaque no Brasil. As atenções se voltam para o índice oficial de preços ao consumidor (IPCA) em setembro, que deve subir 0,4% em relação a agosto, após o inesperado recuo em agosto. A taxa acumulada em 12 meses deve seguir colada a 4,5%, que é a meta da inflação deste ano.

Os números efeitos serão conhecidos às 9h. Antes, sai a inflação no mês passado aos consumidores com renda familiar de até 2,5 salários mínimos (8h). Nos EUA, além do payroll, saem também os números de agosto da balança comercial do país (9h30) e os dados sobre o crédito ao consumidor (16h).

Editora-chefe
Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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