Mercados

Pré-Market: A tensão se volta para Jackson Hole

24 ago 2018, 7:47 - atualizado em 24 ago 2018, 7:47

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado

O mercado financeiro continua sendo pautado pelo cena eleitoral, a uma semana do início da campanha na TV e em meio à expectativa de que a propaganda gratuita possa alterar a composição dos candidatos apontada nas últimas pesquisas. Ainda assim, depois de passar dias descolado do exterior, o ambiente lá fora pode influenciar mais os negócios locais hoje.

Afinal, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, discursa pela manhã (11h) durante o tradicional encontro de banqueiros centrais no simpósio na cidade de Jackson Hole (Wyoming). Lá, ele deve falar sobre política monetária e a expectativa é de que dê sinais claros sobre os próximos passos na condução da taxa de juros norte-americana.

Além de confirmar a esperada alta em setembro – a terceira neste ano, Jay pode tratar de questões geopolíticas e comerciais em torno dos EUA. As disputas tarifárias com a China tendem a representar um risco ao crescimento econômico da maior economia do mundo, desacelerando a taxa de expansão ao longo deste segundo semestre, assim como a deterioração dos ativos da Turquia e de outros países emergentes pode afetar o ritmo da atividade global.

Mas Powell também pode se esquivar desses assuntos, após as críticas sem precedentes do presidente dos EUA, Donald Trump, de modo a evitar um conflito com a Casa Branca. As eleições legislativas em novembro (mid term elections) também eleva a tensão em Wall Street, em meio a um drama legal sobre a campanha presidencial e as relações pessoais do republicano, que pode levar a um pedido de impeachment de Trump.

Como pano de fundo de todo esse cenário, está o processo de normalização monetária nas economias desenvolvidas, encabeçado pelo Fed. Isso significa que os principais bancos centrais dos mundo estão reduzindo os estímulos artificiais, ainda em que estágios diferentes, rumo à eliminação total, dando início à era de escassez de recursos.

Nesse ambiente, as economias terão de avançar com sua própria força, sem nenhum “empurrãozinho” por parte dos BCs e com uma taxa de juros mais condizente. À espera da fala do presidente do Fed, as bolsas avançam desde a Ásia – exceto na China – passando pela Europa e chegando em Nova York. O dólar, por sua vez, recua, o que favorece o petróleo.

Os investidores estão no aguardo do grande evento da agenda econômica desta sexta-feira, que traz ainda as encomendas de bens duráveis nos EUA em julho (9h30). No Brasil, destaques para os índices de confiança do comércio e do consumidor em agosto (11h).

Por aqui, a atenção está mesmo é no noticiário em torno das eleições. Ontem, a decisão da Justiça Eleitoral (TSE), de dar um prazo de sete dias para que os advogados do ex-presidente Lula contestem as impugnações apresentadas à candidatura dele, atingiu em cheio os negócios locais.

Havia a esperança de que o prazo fosse menor ou até mesmo suprimido, de modo a impedir que o líder petista participe da campanha eleitoral em rádio e TV, a partir do dia 31. Para os candidatos a presidente a propaganda eleitoral começa no dia seguinte, sábado. Se for impugnada até 30 de agosto, Lula não pode aparecer como candidato do PT.

Mas a decisão do juiz Luís Roberto Barroso adicionou mais estresse aos negócios, redobrando a postura defensiva, uma vez que o registro da candidatura do ex-presidente deve ser julgado apenas em setembro, cumprindo-se a risca o rito processual. O prazo final é no dia 17 do mês que vem.

Diante disso, ninguém quer ficar exposto em um ativo local ou com uma aposta de queda (vendido) até saber o que vai ser definido sobre o pleito. Os principais receios são quando a candidatura de Lula será impugnada; quanto à transferência de voto para o então candidato do PT, Fernando Haddad; e sobre a possibilidade de um segundo turno entre PT e PSL.

Até que haja algum fato novo capaz de eliminar um desses pontos de incerteza, a deterioração do mercado financeiro brasileiro tende a continuar. A ausência do Banco Central no mercado de câmbio deixa o dólar flutuar livremente acima de R$ 4,00. Ontem, a moeda norte-americana já alcançou a faixa de R$ 4,10 e está colada à máxima histórica, de pouco mais de R$ 4,16, registrada em janeiro de 2016.

Hoje, a pesquisa de intenção de voto da XP Investimentos, feita pelo Ipespe e que será conhecida antes da abertura do pregão, pode voltar a fazer preço no mercado brasileiro. Ainda que com um metodologia questionável, as perguntas do levantamento têm sinalizado o potencial de Haddad na disputa, caso receba o apoio de Lula na campanha.

Nessa perspectiva, o cenário externo desafiador tende a ampliar a tendência ruim dos ativos, apesar da menor aversão ao risco lá fora nesta manhã. A fala de Powell em Jackson Hole pode definir a direção para o dia. Por aqui, qualquer boa notícia será vista como um alívio, enquanto os investidores aguardam o veredicto das urnas em outubro.

Editora-chefe
Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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