Powell sinaliza que recessão pode ser preço para domar inflação
Autoridades do Federal Reserve deram o sinal mais claro até o momento de que estão dispostas a tolerar uma recessão como o custo necessário para controlar a inflação.
Os membros do Fed, criticados pela demora em perceber a escala do problema da inflação nos EUA, têm agido rápido para recuperar o atraso.
O Comitê Federal de Mercado Aberto elevou a taxa básica em 0,75 ponto percentual na quarta-feira pela terceira vez seguida e projeta mais 1,25 ponto percentual de aperto antes do fim do ano.
A previsão veio acima do esperado por economistas. Além disso, as autoridades reduziram as projeções de crescimento e elevaram as estimativas para o desemprego.
O presidente do Fed, Jerome Powell, falou repetidamente da “dolorosa” desaceleração necessária para frear os preços, que estão nos níveis mais altos desde a década de 1980.
“O fato de Powell admitir que haverá crescimento abaixo da tendência por um período deve ser traduzida como ‘recessão’ na linguagem do banco central”, disse Seema Shah, da Principal Global Investors. “Vão ser épocas mais difíceis daqui para frente.”
Na verdade, as autoridades do Fed não estão explicitamente projetando uma recessão. Mas a retórica de Powell de que os aumentos de juros devem causar um impacto doloroso para trabalhadores e empresas tem se tornado progressivamente mais nítida nos últimos meses.
Na quarta-feira, durante coletiva de imprensa após a reunião, Powell disse que um pouso suave, com apenas um pequeno aumento no desemprego, seria “muito desafiador”.
“Ninguém sabe se esse processo levará a uma recessão ou, em caso afirmativo, quão significativa essa recessão seria”, disse Powell a repórteres depois de o Fed elevar o intervalo da meta para a taxa básica para 3% a 3,25%. “As chances de um pouso suave provavelmente diminuirão na medida em que a política precise ser mais restritiva ou restritiva por mais tempo. No entanto, estamos comprometidos em reduzir a inflação para 2%.”
Essa avaliação sóbria contrasta muito com o diagnóstico há seis meses, quando autoridades do Fed começaram a subir os juros, que estavam perto de zero, e apontavam a força da economia como um fator positivo – algo que protegeria as famílias de sentirem os efeitos de uma economia em desaceleração.
As autoridades agora reconhecem implicitamente, por meio das projeções de desemprego mais pessimistas, que a demanda precisará ser encolhida em todos os níveis da economia, pois a inflação se mostra persistente e generalizada.
A previsão mediana entre os 19 integrantes do Fed é que o desemprego suba para 4,4% no próximo ano e permaneça nesse nível até 2024, em relação à taxa atual de 3,7%.
Mas, mesmo esse novo patamar ainda pode ser muito baixo. Quase todos os membros disseram que os riscos para as novas previsões estão inclinados para cima. E projetam taxa de juros em 4,4% em 2022 e em 4,6% no próximo, para depois se desacelerar até 3,9% em 2024.
“Sempre entendemos que restaurar a estabilidade de preços em conjunto com um aumento relativamente modesto do desemprego e um pouso suave seria muito desafiador”, disse Powell na quarta-feira. “Temos que deixar a inflação para trás. Gostaria que houvesse uma maneira indolor de fazer isso. Não há.”
A apreensão das autoridades do Fed sobre a capacidade de baixar a inflação também é evidente em outras projeções. Mesmo em meio a uma nova trajetória de alta de juros, as autoridades só veem a inflação na meta de 2% em 2025.
Se, a portas fechadas, suspeitam que isso significa um maior risco de recessão, não dizem em voz alta.
“Acho que eles entendem que (o risco) está aumentando, embora não seja seu objetivo”, disse Laura Rosner-Warburton, economista sênior para EUA da empresa de pesquisa MacroPolicy Perspectives, em Nova York. “Um pouso suave ou não está fora de seu controle, e depende de fatores como a melhoria da oferta, na qual não pode se apoiar ou esperar.”
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