Powell praticamente descarta corte de juros dos EUA em março; veja o que frustrou o mercado
Nesta quarta-feira (31), o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), colegiado de diretores do Federal Reserve, manteve a taxa básica de juros dos Estados Unidos, conhecida como “Fed Funds rate“, entre 5,25% e 5,50% ao ano. A decisão já era amplamente esperada pelo mercado, que se concentrou nas eventuais dicas de seu presidente, Jerome Powell, sobre quando os cortes começarão.
Durante a coletiva de imprensa, Powell jogou um balde de água fria nas expectativas dos investidores, ao praticamente descartar que o ciclo de cortes comece em março, como apostava a maioria dos analistas. “Não acredito que chegaremos a um nível suficiente de confiança em março”, reiterou.
A virada de expectativas pode ser medida na prática. Até o início da tarde de hoje, o CME FedWatch Tool, que analisa as probabilidades de cortes nas taxas de juros pelo Federal Reserve, apontava que o mercado estimava em 65% a probabilidade de os cortes começarem em março. Após as declarações de Powell e a mudança de humor geral, a maior probabilidade agora recai sobre maio, com 91,9%.
O banco central americano espera que a inflação chegue a uma taxa de 2% ao ano para realizar os cortes. Atualmente, ela está em 2,6%.
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Powell afirma que Fed ainda quer mais dados para cortar juros
No comunicado do Fed, o Comitê afirma que “não espera que seja apropriado reduzir o intervalo da meta até que tenha mais confiança de que a inflação está evoluindo de forma sustentável para 2%”.
Na coletiva após a divulgação dos resultados, Powell reiterou que o Fed precisa sentir mais confiança no fortalecimento da economia norte-americana e na desaceleração da inflação do país antes de realizar os cortes.
Uma de suas frases mais recorrentes foi a de que os seis meses de progressiva melhora nos dados econômicos dos Estados Unidos, que indicam a desaceleração da inflação e o retorno dos níveis de emprego a patamares “normais”, não são suficiente para consolidar a certeza de que é hora de cortar os juros.
Questionado pelos jornalistas sobre quantos meses mais seriam necessários para convencer o Fed de que os Estados Unidos entraram nos eixos, Powell foi evasivo: “Estamos apenas reagindo aos dados”, disse.
Além disso, ele afirmou não ser possível dizer que os Estados Unidos estão alcançando um cenário de “pouso suave”, mas também não afirmou o contrário, o de um “pouso forçado”. Powell reafirmou, “De forma alguma estamos declarando vitória agora”.
Para Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, o discurso trouxe lados “hawkish” (duro) e “dovish” (suave).
Do lado “hawkish”, Fernandes nota a retirada do trecho que citava o aperto das condições financeiras, que podiam pesar sobre a atividade, o que demonstra que a economia americana continua forte, apesar do aperto de juros.
Já em um tom suave, que traz mais otimismo, Andre cita o fato do Fed ter notado que o mercado de trabalho está caminhando para o equilíbrio e a desaceleração da inflação.
Falas de Powell abalam o mercado
Durante o discurso, diversos índices apresentaram mudanças:
- Dólar à vista foi às mínimas, chegando a R$ 4,92;
- Ibovespa perdeu 1186 pontos;
- Wall Street aprofundou queda, com Nasdaq a -1,98%, S&P 500 com queda de -1,44% e Dow Jones apresentando -0,63%;
- Petróleo fechou em baixa, com o Brent caindo 2,63% (US$ 80,55 por barril) e o WTI recuando 2,53% (US$ 75,85 por barril).
Para o economista-chefe da Nomad, Danilo Igliori, podem-se extrair duas mensagens principais da decisão do Fed. “De um lado, temos a sinalização de que o ciclo de alta de fato foi encerrado e que agora a missão está em se preparar para começar a cortar os juros”.
“De outro, foi ressaltada a necessidade de ter cuidado para não fazer movimentos de forma precipitada”, finalizou.