Powell diz que salto em casos de Covid-19 está começando a pesar sobre recuperação econômica dos EUA
O salto em casos de coronavírus nos Estados Unidos e as restrições que visam contê-lo começaram a pesar na recuperação econômica, disse nesta quarta-feira o chair do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), Jerome Powell, apontando aparente retração por parte dos consumidores e uma desaceleração na recontratação de trabalhadores que estão em casa, particularmente por pequenas empresas.
“Vimos alguns sinais nas últimas semanas de que o aumento de casos de vírus e as renovadas medidas para controlá-lo estão começando a pesar na atividade econômica”, disse Powell em entrevista coletiva após a divulgação do último comunicado de política monetária do banco central dos EUA.
Os Estados Unidos “entraram em uma nova fase para conter o vírus, essencial para proteger nossa saúde e nossa economia”, disse.
Os comentários de Powell, feitos por videoconferência, confirmaram o que muitos economistas e outros analistas vinham citando nas últimas semanas, quando as infecções por coronavírus explodiram em vários Estados do sul e sudoeste do país, diminuindo as esperanças de uma rápida recuperação econômica.
O comunicado de política monetária divulgado nesta quarta-feira vinculou diretamente a recuperação econômica à resolução de uma crise de saúde cuja direção permanece muito incerta. Mais de 150 mil norte-americanos morreram de Covid-19, a doença respiratória causada pelo novo coronavírus.
“O caminho para a economia dependerá significativamente do curso do vírus”, afirmou o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Fed.
Os formuladores de política do Fed repetiram promessa de usar sua “gama completa de ferramentas” para apoiar a economia e manter as taxas de juros próximas de zero pelo tempo necessário para a economia se recuperar das consequências da epidemia, dizendo que o caminho da atividade dependerá significativamente do curso da crise do coronavírus.
“Após quedas acentuadas, a atividade econômica e o emprego aumentaram um pouco nos últimos meses, mas permanecem bem abaixo de seus níveis no início do ano”, afirmou o Fed após o final de sua mais recente reunião política monetária de dois dias.
Todos os membros do Fomc votaram por manutenção da meta de taxa de juros entre zero e 0,25%, intervalo no qual está desde 15 de março, quando o vírus começava a atingir o país.
“O Comitê espera manter esse intervalo de meta até ter certeza de que a economia resistiu a eventos recentes e está no caminho de cumprir suas metas de máximo emprego e estabilidade de preços”, afirmou o Fed no comunicado.
“A coisa mais notável é a afirmação de que o caminho da economia dependerá do Covid-19. O Fed está colocando a saúde novamente na frente e no centro de seu comunicado, o que é impactante e significativo”, disse Nela Richardson, estrategista de investimentos da Edward Jones, em St. Louis.
“É um pouco sinistro, para ser franco. Sabemos que esse vírus é imprevisível. Essa frase mostra a primazia do Covid-19 nas perspectivas do Fed e a incerteza de suas perspectivas por causa disso.”
Sem mudança por ora
A expectativa era de que as autoridades do Fed passassem parte de sua reunião debatendo se fortaleceriam a chamada orientação futura e como o fariam, talvez prometendo que não haveria alterações nos juros até que as taxas de desemprego e inflação atendam a critérios explícitos.
O comunicado não deu nenhuma pista de tal mudança, que muitos analistas esperam que não aconteça até a reunião de política monetária de setembro.
O Fed também disse que continuará comprando pelo menos 120 bilhões de dólares em Treasuries e títulos lastreados em hipotecas todos os meses para estabilizar os mercados financeiros.
O BC dos EUA renovou sua promessa de juros baixos um dia antes da divulgação de relatório do governo que deve mostrar tombo recorde de 34% na produção econômica, em dado anualizado, no segundo trimestre, quando autoridades adotaram restrições que fecharam empresas e mantiveram pessoas isoladas em uma tentativa de conter a disseminação do coronavírus.
Os membros do Fed esperavam que essas medidas ajudassem a conter o vírus, permitindo que a economia se recuperasse rapidamente, mesmo temendo a possibilidade de que as infecções pudessem ressurgir e prejudicar a recuperação econômica.
O banco central dos EUA lançou quase uma dúzia de novos programas de empréstimos e crédito para combater as consequências econômicas da epidemia. Mas a perspectiva imediata depende em grande parte de onde vêm as infecções e quanto mais apoio fiscal parlamentares dos EUA vão oferecer nesse período.
Desde a reunião de política monetária de junho, a epidemia se intensificou, com uma média de cerca de 65 mil novos casos detectados diariamente, cerca de três vezes o ritmo de infecções de meados de junho.
As mortes também estão aumentando, e tudo isso levou governadores da Califórnia à Flórida a impor novas restrições econômicas.
O crescimento do emprego, inesperadamente forte em maio e junho, agora parece estar diminuindo. A confiança do consumidor foi afetada.
Enquanto isso, a ajuda do governo que mantinha os gastos de milhões de norte-americanos expirará ao fim da semana, a menos que o Congresso concorde com um novo pacote de ajuda. Os republicanos estão divididos quanto à possibilidade de apoiar 1 trilhão de dólares em novos gastos, e os democratas querem um número mais próximo dos 3 trilhões de dólares com o qual o Congresso já se comprometeu a fim de combater a crise.
As pequenas empresas, um dos pilares da maior economia do mundo, também estão enfrentando cada vez mais um ponto de ruptura, à medida que os subsídios do governo secam e chega a hora de honrar compromissos.