Pouso forçado da China não afetará consumo de alimentos e poupará fornecedores globais
Não é só o Produto Interno Bruto (PIB) chinês do terceiro trimestre que surpreendeu, com crescimento de 4,9% sobre os mesmos três meses de 2020, acanhado para o ritmo do país, mas o quarto que vem por aí deverá repetir uma dose semelhante e gerar nova onda de apreensão na comunidade econômica mundial
Mas, mesmo com um crescimento na margem ainda mais comprimido – no trimestre passado foi de 0,2% contra o anterior -, apontando para uma economia que não deverá passar de 5% de expansão em 2022, não é algo alarmante para o consumo de alimentos dos chineses.
Fabiana D’Atri, economista que representa o Bradesco (BBDC4) no Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), trabalhando com esses dados acima não estima qualquer risco para exportadores brasileiros de carnes e soja, pela pressão de uma economia crescendo menos e comprando menos. Em carne bovina e no grão, o Brasil ostenta o primeiro lugar entre os abastecedores dos chineses.
“Não consigo ver, por hora, canais de contágios que cheguem ao consumo de alimentos”, explica ela, embora concordando que deverá haver, sim, uma desaceleração em outros canais.
Coordenadora do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Fabiana explica que a desaceleração do crescimento é algo forçado por Pequim, determinado ainda antes da crise de energia atual. Mesmo o salto de mais de 18% do PIB no 1ª trimestre, na saída da pandemia à la China, não a entusiasmou.
E a segurança alimentar da população, um dos pilares da “nova China”, está resguardada, protegida na política de Xi Jinping de dotar a sociedade de melhor qualidade de vida, complementa a especialista em China.
As bases para o pouso forçado já estavam dadas e já chegou, por exemplo, a várias partes do mundo, inclusive no Brasil, com custos maiores de defensivos e fertilizantes, por exemplo.
Trata-se do enxugamento do parque industrial poluidor, em uma transição para uma economia de baixo carbono, que é outro dos pilares desse país, confirma a economista. Inclusive, a crise e energia atual também é decisão de Pequim em produzir menos carvão.
Mesmo a situação do setor imobiliário, com a crise atual despontada pela Evergrande e puxando outras incorporados pelo caminho, também já estava dando sinais no primeiro trimestre, em estudo, entre outros, da FGV Ibre.
Economia de consumo
Embora o fenômeno da expansão do gigante asiático esteja ligado diretamente ao florescimento de uma classe média que passou a comer mais, melhor e diversificadamente, não há dados conclusivos e atuais sobre a relação PIB X consumo que mereçam atenção da diretora de Economia do CEBC.
Outro ponto a destacar das avaliações de Fabiana D”Atri é que a demanda de alimentos pela China “não dá saltos, como nos casos das commodities metálicas”.
Mais uma vez reforçando a tese de que há um planejamento firme no balanço de oferta e consumo, que os fornecedores globais já muito estão acostumados a ouvir sobre os famosos estoques estratégicos estratosféricos.
Poderá sempre ocorrer desníveis cíclicos, ocasionados por pressões de outras proteínas – agora, por exemplo, houve um aumento da produção chinesa de suínos, o que ajuda o país a sair da crise da PSA, que dizimou seu plantel desde 2019 -, entrada de outros fornecedores ou distúrbios como o atual diplomático-comercial, com mais de 45 dias sem importações de carne bovina brasileira depois dos episódios de vaca louca.
Mas um crash nos embarques brasileiros de alimentos, como de qualquer outro parceiro chinês, não se cogita por obra de recuo da economia, reforça a economista do Bradesco e CEBC.
Para ficarmos apenas em carnes de boi, apesar de a soja ser o carro-chefe da pauta exportadora brasileira, de janeiro a setembro a China levou 889,2 mil toneladas, superando em 20% o mesmo intervalo de 2020, resultando em mais de US$ 4 bilhões em receita.
No ano passado, a soma chegou a aproximadamente 2 milhões de toneladas, mais de 50% de tudo o que o País embarcou no segmento, em anos de expansão constantes.