Crise de fertilizantes gera pressão por mineração na Amazônia
As consequências da invasão da Ucrânia pela Rússia podem chegar até as florestas tropicais da Amazônia, à medida em que o Brasil vê as interrupções globais dos suprimentos de fertilizante como outro motivo para produzir mais desses produtos por conta própria.
O suprimento doméstico insuficiente de nutrientes agrícolas tem sido uma pedra no sapato do Brasil há décadas, já que a superpotência agrícola importa cerca de 80% de suas necessidades.
A guerra na Ucrânia tem levado agricultores brasileiros lutarem para comprar fertilizantes, o que amplia um debate sobre a exploração das reservas de potássio na Amazônia, inclusive em terras indígenas.
O presidente Jair Bolsonaro manifestou esta semana apoio ao aumento da produção doméstica de nutrientes à base de potássio como parte de seu esforço para ampliar o desenvolvimento do bioma.
Grupos setoriais reforçaram o coro à medida que a turbulência global expõe a fragilidade das cadeias de suprimentos. O debate coloca a necessidade de alimentar o mundo em contraste com a proteção do lugar mais biodiverso do planeta.
“Com a guerra Rússia/Ucrânia, hoje corremos o risco da falta de potássio ou aumento do seu preço”, disse o presidente Jair Bolsonaro em sua conta no Twitter. “Nossa segurança alimentar e o agronegócio (Economia) exigem de nós, Executivo e Legislativo, medidas que nos permitam a não dependência externa de algo que temos em abundância.”
– Com a guerra Rússia/Ucrânia, hoje corremos o risco da falta do potássio ou aumento do seu preço. Nossa segurança alimentar e agronegócio (Economia) exigem de nós, Executivo e Legislativo, medidas que nos permitam a não dependência externa de algo que temos em abundância.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) March 2, 2022
Bolsonaro pediu aos parlamentares que aprovem um projeto de lei controverso que permitiria a mineração em territórios indígenas. Seus comentários foram criticados por grupos indígenas, que dizem que a proposta do governo ameaça a saúde e os direitos das comunidades.
Um recente decreto do governo para apoiar a mineração artesanal foi criticado por ambientalistas por incentivar atividades ilegais que colocam em risco as florestas tropicais.
O potencial de produção de potássio na Bacia Amazônica é semelhante ao da região dos Urais, na Rússia, e Saskatchewan, no Canadá, de acordo com um levantamento geológico do Serviço Geológico do Brasil – CPRM, uma empresa pública.
Depósitos pertencentes à Petrobras (PETR4) e Potássio do Brasil, empresa controlada pela canadense Forbes & Manhattan, somam 3,2 bilhões de toneladas de recursos. Outras áreas analisadas podem dobrar esse volume.
“Não podemos abandonar a exploração de potássio na Amazônia”, disse o diretor da CPRM, Marcio Remedio. “É estratégico em termos de crescimento econômico, inflação (controle) e segurança alimentar.”
O projeto da Potássio do Brasil e duas outras iniciativas de fosfato se qualificaram para um programa governamental criado para acelerar projetos estratégicos de mineração.
Agora, as mineradoras representadas pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) querem que o governo crie um grupo de trabalho envolvendo a Potássio do Brasil para acelerar seu projeto de potássio em Autazes, no Amazonas, já que as tensões do Mar Negro aumentam o risco de escassez de fertilizantes.
Os agricultores também estão de acordo.
“Esses tempos estão nos fazendo discutir a necessidade de extrair potássio no Brasil. Temos grandes reservas, mas infelizmente elas estão em terras indígenas”, disse Bartolomeu Braz Pereira, presidente da Aprosoja, associação que representa os produtos de soja. “Não podemos depender de outras nações para suprimentos de fertilizantes.”