Internacional

Postura dura da China ante EUA em questões climáticas ameaça cúpula de Glasgow

15 set 2021, 10:51 - atualizado em 15 set 2021, 10:51
Homem caminha ao lado de usina de energia movida a carvão em Harbin, na China
A China não se sente mais obrigada a cogitar pedidos de cortes maiores de emissões desde que o ex-presidente Donald Trump rejeitou os compromissos climáticos dos EUA (Imagem: REUTERS/Jason Lee)

A recusa chinesa de aceitar pedidos por reduções maiores de emissões de carbono durante visitas recentes dos principais enviados do clima dos Estados Unidos e do Reino Unido pode minar o progresso na cúpula climática global marcada para Glasgow em novembro, disseram especialistas.

A China refutou o apelo do enviado norte-americano John Kerry para intensificar a meta de redução de emissões antes da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021 (COP26) ao dizer que o clima não pode ser separado de outros temas do relacionamento bilateral entre os dois países.

A mudança de tom da China nas relações climáticas entre os dois maiores emissores de gases de efeito estufa mina o ímpeto das conversas de Glasgow e contrasta com a cooperação dos dois países em 2015, que abriu caminho para o histórico Acordo de Paris sobre o Clima.

A China não se sente mais obrigada a cogitar pedidos de cortes maiores de emissões desde que o ex-presidente Donald Trump rejeitou os compromissos climáticos dos EUA –sobretudo ao retirar seu país do pacto de Paris–, especialmente depois que as relações entre as duas potências se deterioraram nos campos do comércio, direitos humanos e questões geopolíticas durante o mandato de Trump, segundo especialistas.

Pequim e Washington ainda têm um entendimento nas questões do clima, mas “o maior problema agora é a diferença nas posições políticas dos dois lados”, disse Zou Ji, presidente da Energy Foundation China que integrou a delegação chinesa nas conversas de Paris em 2015.

“O equilíbrio de poder e influência dos dois lados mudou”, disse.

Os EUA dizem que a China, a maior emissora mundial de gases de efeito estufa, não faz o suficiente, apesar de prometer zerar as emissões até 2060.

Washington quer que os chineses se comprometam a atingir um pico de emissões mais cedo e que façam mais para cortar o consumo de carvão, uma das maiores fontes de gases de efeito estufa.

Mas a China argumenta que seus compromissos atuais são robustos.

O presidente chinês, Xi Jinping, prometeu várias vezes “aumentar a força” das contribuições determinadas nacionalmente (NDC), as metas de emissões que cada país precisa apresentar em cumprimento ao Acordo de Paris, para refletir o compromisso chinês com a meta de zerar as emissões até 2060.

Em agosto, o principal enviado chinês para o clima, Xie Zhenhua, disse que seu país já intensificou outras promessas, como uma nova meta de energia renovável e o compromisso de atingir um pico de emissões “antes” de 2030, ao invés de “por volta de” 2030.

A China também diz que reduzirá o consumo de carvão a partir de 2026 e que produzirá 25% de sua energia com fontes de combustível não-fósseis até 2030.