Portfólio 60/40 está quase barato outra vez, dizem estrategistas
Pode culpar o Fed, a guerra e o desregramento fiscal o quanto quiser. Mas um grande problema estava à espreita em muitas estratégias de portfólio amplamente seguidas muito antes de essas ameaças se materializarem.
Esse é o resultado de uma nova pesquisa que usa um modelo de avaliação derivado do rendimento para mostrar que a famosa alocação de 60% do portfólio investido em ações e 40% em títulos atingiu o nível mais caro em quase cinco décadas durante o rali da Covid-19.
A situação se inverteu em 2022, que agora, segundo algumas definições, é o pior ano de todos os tempos para o coquetel de títulos e ações.
Os dados destacam sem matizes a primazia do valuation na determinação dos retornos. Também poderiam ser vistos como uma boa notícia para a indústria de investimentos, sugerindo que a lógica, em vez de mercados quebrados, está por trás da atual sangria.
O Leuthold Group diz que o golpe foi tão forte que o valuation pode se tornar novamente um fator favorável para um modelo de portfólio que muitos parecem dispostos a abandonar.
“Este ano tem sido nada menos do que um desastre, previsto por comentaristas que perceberam ser uma loucura proteger um ativo supervalorizado com outro ativo supervalorizado e esperar um resultado satisfatório”, disse Scott Opsal, diretor de pesquisa do Leuthold. “Por outro lado, as perdas conjuntas das ações e títulos neste ano melhoraram significativamente os retornos esperados de ambas as classes de ativos, e o 60/40 pode estar pronto para renascer das cinzas.”
Vale a pena olhar de que altura o modelo 60/40 caiu. Os rendimentos do índice Bloomberg USAgg recuaram para 1,12% em 2021, enquanto o yield dos lucros dos componentes do S&P 500 caiu para 3,25%, um dos patamares mais baixos das últimas quatro décadas.
Tomados em conjunto, os níveis nunca haviam implicado um ponto de partida mais inchado para investidores de ativos cruzados, de acordo com Opsal.
No entanto, o mix de 60% de ações e 40% de títulos fez um bom trabalho ao proteger investidores contra as oscilações do mercado no passado. Este ano tem sido diferente, com ações e títulos caindo em conjunto em meio à inflação teimosamente alta e à abordagem do Federal Reserve para derrubá-la.
Um modelo da Bloomberg que acompanha uma carteira de 60% de ações e 40% de renda fixa mostra baixa de 20% este ano, a pouquíssima distância de superar 2008 como o pior ano de todos os tempos e apenas o terceiro ano de queda desde que a Bloomberg começou a rastrear os dados em 2007.
O comovimento de ações e títulos se estreitou “decisivamente” em 2022. As correlações de três meses saltaram para 45%, uma máxima de 23 anos, contra a média de 10 anos de 25% negativo, de acordo com Mandy Xu e Frank Poerio, do Credit Suisse.
Em outras palavras, ambos são alvo de pressão vendedora. Recentemente, os dois ativos registraram 11 dias seguidos de movimento coordenados, uma sequência vista pela última vez em 1997. E o desempenho é duas vezes pior este ano do que em 2002, quando os índices acionários registraram queda semelhante.
“Estávamos saindo de valuations historicamente altos para ações e renda fixa”, disse em entrevista Marvin Loh, macroestrategista sênior da State Street Global Markets. Mas a estratégia pode em breve começar a fazer o que deveria fazer, acrescentou, “porque você está entrando com valuations de renda fixa que fazem muito mais sentido. Há muito mais compradores naturais para 4% (de rendimento) em (títulos) de 10 anos do que para 0,3%.”
Muitos outros também adotaram essa visão. Estrategistas de ativos cruzados do Morgan Stanley disseram em meados do ano que o portfólio 60/40 estava apenas descansando, mas não morto, enquanto pesquisadores do Independent Adviser for Vanguard Investors afirmaram não ser a melhor hora para “seguir por um novo caminho” e abandonar a abordagem equilibrada.
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