Por que Wall Street tombou, mesmo com fim de ciclo de juros no horizonte?
Os índices acionários de Nova York fecharam em forte queda nessa quarta-feira (22), após o comunicado do Federal Reserve indicar uma alta de 0,25 ponto-percentual na taxa de juros dos EUA, muito possivelmente a última do ciclo iniciado há um ano.
Ao fim do pregão, o Dow Jones Industrial Average (DJIA) caiu 1,63%. Já o S&P 500 (SPX) e o Nasdaq Composite (US100) perderam, cada, 1,60%.
No mercado das Treasuries, a sinalização de que os juros permanecerão estacionados em torno dos 5% corrigiu para baixo os rendimentos dos títulos de curto e longo-prazo. As T-bills de 2 anos, por exemplo, encerraram abaixo dos 4%, perdendo 0,204 pp. entre os fechamentos de ontem e hoje.
Resumindo o que se ouviu até agora na entrevista:
Pode subir, mas "continuamente" acabou, é o início do fim do aperto, ainda que precise de um pouco mais de tempo para confirmar com os dados.
O problema no sistema bancário ajuda neste cenário, mas ainda, repete, precisa de mais… https://t.co/mTVSC9opC6— Jason Vieira 💮 (@JasonVieira) March 22, 2023
Mas a mensagem mais suave de Powell não foi o suficiente para acalmar os ânimos dos investidores de Wall Street. O mercado quer que a autoridade monetária assegure um corte de juros ainda este ano, compromisso negado pelo presidente do Federal Reserve na sua tradicional coletiva.
Para piorar, quase no fim do dia, Janet Yellen roubou os holofotes de Powell para si ao afirmar que o Tesouro norte-americano não estenderá as garantias do FIDC para depositantes não segurados (que possuem acima de R$ 250 mil em contas) em caso de novas corridas bancárias.
Esse mix de declarações não caiu nada bem em Wall Street, que iniciou um selloff das ações bancárias na última hora de negociações. É o caso do Pacwest Corp (-17%) e do First Republic Bank (-15%), principais perdedores da sessão.
Os papéis dos grandes bancos também ficaram avessos, com o Goldman Sachs, JP Morgan, Wells Fargo e Citigroup cruzando a linha com perdas leves.
Sobre a questão do estresse financeiro, Jerome Powell afirmou que as ferramentas de ajuda financeira (o programa de concessão de crédito e a janela descontada de juros) postas em prática pelo Fed deverão dar conta dos problemas de liquidez dos bancos, deixando ao ciclo de juros a tarefa de corrigir os desequilíbrios da inflação.
Na prática, o Fed vê juros finais acima do projetado em dezembro, onde deve ficar estacionado, contrariando a ‘pirraça’ dos mercados.
Powell sinaliza para pausa dos juros
O Federal Reserve ainda não disse, mas o chamado gráfico de pontos (dot plots) já indica um fim do ciclo de aperto da taxa de juros nos Estados Unidos. Isso porque o documento traz as projeções do Fed para as principais variáveis macroeconômicas.
Para o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, os ‘dots’ ocultam a informação de que o intervalo de 5,00% a 5,25% da mediana para 2023 já foi deixado para trás. Ele se refere às falas mais duras (“hawkish”) de membros do Fed.
Há, portanto, um “regresso” ao ponto de partida. Segundo o economista, isso ainda sugere apenas mais uma elevação de 0,25 pp.