Por que você, investidor, não deve ignorar o fluxo de caixa antes de escolher uma ação?
Muitos investidores passam batido pelo demonstrativo de fluxo de caixa e preferem focar e analisar somente o balanço patrimonial e a DRE, muitas vezes, por acharem que ele não é importante ou até por terem dificuldade de interpretar as informações contidas ali.
A postura, entretanto, deveria ser exatamente a oposta. O fluxo de caixa é um demonstrativo essencial para aqueles que estão analisando uma companhia, e dificilmente a empresa consegue se utilizar de alguma “manobra contábil” para alterar o seu resultado.
É sempre bom lembrar que o preço da ação nada mais é que o fluxo de caixa projetado de uma companhia descontado a uma taxa que o custo de capital dela (WACC – Weighted Average Capital Cost ou custo médio ponderado de capital).
O fluxo de caixa demonstra as entradas e saídas de dinheiro da empresa em um determinado período. No caso de empresas de capital aberto, por obrigação, esse demonstrativo deve ser apresentado trimestralmente e de forma anual no final do ano calendário.
O valor total que a empresa gera de caixa no período é diferente do lucro líquido que apresentado na DRE. No demonstrativo de resultados, a contabilização é realizada através do regime de competência, ou seja, os registros contábeis são contabilizados quando acontecem, independente de quando ocorre o pagamento ou recebimento dos valores monetários.
Desta forma, na DRE, se a empresa realiza uma venda a prazo, a contabilidade irá reconhecer a receita naquele momento, independente se na venda entrou no caixa ou não.
Já o demonstrativo de caixa é dividido em 3 sessões:
- Fluxo de caixa Operacional
- Fluxo de caixa Investimentos
- Fluxo de caixa Financiamento
Para ilustrar melhor esse demonstrativo e seus tipos, vamos utilizar como exemplo a empresa Coca-Cola (COCA34).
Fluxo de caixa Operacional
Aqui, como o próprio nome diz, se refere às entradas e saídas de caixa referente a atividade operacional da empresa partindo do seu lucro líquido e somando as receitas e despesas do período, como contas a receber, pagamento de fornecedores.
No caso da Coca-Cola, podemos verificar que nos últimos 10 anos a empresa praticamente não conseguiu aumentar sua geração de caixa operacional, tendo um crescimento acumulado (CAGR) de apenas 1,11%.
As razões por trás disso podem ser várias, desde uma demanda menor pelos seus produtos, perda de margem, dificuldades de repasse de preço ou até um market share relevante do mercado onde a empresa já chegou ao seu limite. Precisaríamos entrar mais no detalhe da empresa para entender o motivo.
Fluxo de caixa Investimento
Nesta seção, observamos que o caixa gerado pelas atividades operacionais foi aplicado para investimento dentro da companhia, ou seja, aquisição ou reposição de ativos imobilizados (máquinas, fábricas e equipamentos), CAPEX, aquisição de outras empresas, entre outros.
Aqui identificamos que a empresa vem diminuindo seus investimentos em CAPEX ao longo dos anos. Pelo momento que se encontra, pode ser que a companhia esteja apenas realizando investimento para manutenção ou reposição de ativos imobilizados, e não tanto para expansão de suas operações.
Porém, podemos ver que o caixa aplicado em aquisições, onde vemos as fusões e aquisições, vem aumentando significativamente.
Podemos concluir que a estratégia da empresa não é investir e expandir a operação existente e sim tentar crescer a partir da aquisição de outras marcas de bebidas, com intuito de aumentar seu mercado endereçável e sua geração de caixa operacional.
Por enquanto, essas aquisições ainda não foram refletidas no fluxo de caixa operacional, seja porque o investimento ainda não se maturou ou a aquisição não gerou valor para a companhia.
Fluxo de caixa Financiamento
Nessa parte temos os movimentos de financiamento da companhia, seja por pagamento ou captação de empréstimos, recompra de ações e a distribuição de dividendos.
Quando olhamos a captação e pagamento de empréstimos, vemos que a Coca praticamente não aumentou ou diminuiu seu endividamento, rolando a dívida e mantendo seu nível de endividamento em um indicador que a companhia acredita ser saudável para a estrutura de capital.
A parte que mais chama a atenção é a distribuição de dividendos que cresceu 4,60% ao ano (CAGR) enquanto o caixa operacional cresceu apenas 1,11%, conforme comentado anteriormente.
A empresa faz parte do famoso índice de empresas que crescem seus dividendos por mais de 25 anos consecutivos chamado de “Dividendos Aristocratas”, mas a sustentabilidade de continuar a crescer esses dividendos no futuro fica cada vez mais difícil se a empresa não crescer sua geração de caixa operacional.
Outro indicador importante que podemos obter desse demonstrativo é o Fluxo de Caixa Livre da companhia, que nada mais é que o caixa gerado das atividades operacionais somado ao caixa gasto com Capex:
Esse indicador demonstra basicamente o montante de caixa que sobrou para a companhia depois de todos os seus gastos. Podemos verificar que, mesmo com o aumento dos dividendos ao longo dos anos, a companhia tem caixa suficiente para suportar essa distribuição no curto prazo, mas como demonstrado anteriormente, no longo prazo esse aumento pode estar comprometido caso a empresa não consiga aumentar sua geração de caixa.
O fluxo de caixa é onde vemos toda a movimentação de recursos da companhia, onde e como foram gerados e aplicados.
O demonstrativo nos fornece diversos indicativos e gera perguntas para podermos realizar uma análise mais assertiva sobre a empresa.
Obviamente, como qualquer outro demonstrativo, nunca deve ser analisado de forma isolado, mas sim junto com todas as informações disponíveis sobre a empresa antes de tomar qualquer decisão para não tirar conclusões precipitadas, olhando também o seu balanço patrimonial, DRE e informações gerenciais da companhia.
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