Por que você deve apostar em Warren Buffett e esquecer teses mirabolantes nestes tempos duvidosos
Se você acompanha as minhas colunas nas últimas semanas já deve saber que estou deveras cético com o andamento dos mercados nesses últimos meses — principalmente a performance observada em 2023.
Ainda que alguns fatores técnicos possam ter um peso relevante para que os piores ativos do ano anterior despontem como as melhores apostas neste começo de ano. Um desses pontos é a recomposição das carteiras por conta da venda ao final de 2022 para a redução dos impostos devidos pelos investidores (conhecido lá fora como ‘tax loss harvesting’).
Ou seja, caso uma ação do portfólio do investidor gerou perdas consideráveis no período, e o investidor não tem expectativas de que ela deva subir astronomicamente no curto prazo, ele pode vender esse papel com prejuízo para abater o imposto que deve ser pago. Respeitado o prazo definido pela Receita Federal americana (de 30 dias para poder recomprar o mesmo ativo), não me espantaria que muitos investidores tenham utilizado essa regra nas primeiras semanas do ano.
Mas é apenas uma suposição — ainda que eu entenda ser bem fundamentada. Serviu apenas para reforçar o ponto de que estou achando difícil encontrar papéis que estejam atrativos no momento, com uma margem de segurança boa para o investidor.
Berkshire Hathaway: “Muitas das melhores ideias são as mais simples”
Acaba que, no final do dia, muitas das melhores ideias são as mais simples. E acho que essa máxima encontra ressonância com as ações da Berkshire Hathaway (BE: BERK34 | NYSE: BRK/B).
Provavelmente você esteja pensando “Pô, Enzo, mas que falta de originalidade. Todo mundo já conhece a empresa do Warren Buffett, não vou conseguir auferir ganhos consideráveis com esse tipo de ação”.
Sim, mas muitas vezes o foco no mercado tem que ser “não perder tanto dinheiro” do que “ganhar o máximo possível“. Infelizmente, em alguns momentos, o investidor tem que focar mais na parte defensiva do que no ataque.
Isso pode ser observado na performance da ação da Berkshire nas últimas recessões enfrentadas pela economia americana. Considerando apenas os últimos três episódios desse tipo (e desconsiderando a provocada pela pandemia do coronavírus, que tem um caráter excepcional), quem apostou antes do início da recessões conseguiu, ao menos, uma performance em linha com o observado no S&P 500.
[Para tais análises, consideramos as datas de início e fim das recessões definidas pelo National Bureau of Economic Research; a base 100 é considerada no meio do mês do início da recessão]
Gráficos 1, 2 e 3. Performance (em base 100) das ações da Berkshire Hathaway (verde) e do S&P 500 (azul) nas três últimas recessões americanas | Fontes: Bloomberg e Empiricus
Obviamente essa análise se beneficia do viés de retrospectiva — no qual é fácil identificar agora quando aconteceu as recessões e basear um possível investimento naquela data.
O ponto é que ninguém sabe, com exatidão, quando acontecerá uma recessão. Mas, pelo menos, dá para verificar que apostar no bom velhinho não foi algo detrator se comparado com um investimento passivo no índice S&P 500.
O conglomerado com sede em Omaha é uma miscelânea de companhias atuando nos mais diversos ramos como transportes, energia, seguros, varejo, entre outros. A diversificação do negócio, aliado ao seu portfólio de ações, permite que a Berkshire passe pelas mais diversas turbulências da economias sem grandes solavancos.
Por exemplo, a parte de seguros tende a sofrer menos com uma desaceleração da economia, além de se beneficiar de um possível reprecificamento de resseguros por conta do cenário atual. Além disso, a aquisição da Alleghany — concluída ao final do quarto trimestre do ano passado e maior aquisição feita por Buffett desde 2016.
Por outro lado, a parte mais cíclica do portfólio acaba sendo mais sensível aos intempéries da economia, principalmente a parte de ferrovias e de real estate.
Só que essas dificuldades se impõe não somente para a Berkshire e sim para todas as empresas. E, historicamente, Buffett aproveita esses momentos para investir ou até mesmo adquirir negócios de qualidade a preços atrativos.
Em 2022, o “mago de Omaha” fez investimentos substanciais em companhias como Chevron, Occidental Petroleum (que foi a melhor ação do S&P500 no ano passado, mais do que dobrando de preço) e Taiwan Semiconductor Manufacturing.
Só que, além disso, o nível atual das ações da Berkshire indica que Warren Buffett e Charlie Munger podem estar interessados em recomprar as ações da companhia. E eles já sinalizaram isso em cartas aos acionistas no passado recente.
Warren Buffett: Megainvestidor já gastou US$ 5,25 bi em recompra de ações
Na carta para os acionistas de 2018, o megainvestidor detalhou como ele acredita que o valor intrínseco do seu conglomerado deveria ser calculado — somando o valor dos seus quatro ativos principais e subtraindo o montante apropriado em impostos decorrente da venda do seus ativos negociados em bolsa.
Segundo Buffett, esses quatros ativos são 1) os negócios nos quais é o dono, excluindo a parte de Seguros; 2) o portfólio de ações; 3) as participações que possuem em outras empresas (Kraft Heinz, Pilot Flying J, etc); e 4) caixa e equivalentes de caixa.
Dessa maneira, seria normal que a Berkshire fosse uma grande compradora das ações da companhia que estivessem acima do valor patrimonial mas abaixo das suas estimativas de valor intrínseco do conglomerado.
E algumas estimativas apontam que, seguindo essa metodologia, as ações da Berkshire estariam negociando com um desconto superior a 20% seu valor intrínseco — patamar em que, historicamente, a companhia tem aumentado o seu ritmo de recompra de ações.
Até o terceiro trimestre de 2022, a empresa já havia efetuado recompras no valor de US$ 5,25 bilhões. Só que esse montante é bem menor do que o realizado no ano anterior.
Importante lembrar, contudo, que a Berkshire Hathaway conta com mais de US$ 109 bilhões em caixa e, apesar de Buffett já ter pontuado que não utilizará todo esse recurso para fazer uma megaaquisição (algo esperado pelos investidores ao longo da última década, e parcialmente realizado com a compra da Alleghany), fato é que não seria absurdo pensar que, assumindo o ritmo atual, a empresa teria a capacidade de dobrar o valor em recompras no ano de 2023.
E ainda que o desconto para o valor intrínseco seja menor do que os 20% estipulado, me parece que nos níveis atuais o investidor tem um espaço mais para surpresas positivas do que negativas.
Em momentos turbulentos, ir com o que geralmente dá certo é o melhor a se fazer. Se juntar ao maior investidor de todos os tempos, comprando as ações da Berkshire Hathaway (B3: BERK34 | NYSE: BRK/B), ainda que não seja um ideia mirabolante, está longe de ser algo descartável.
Enzo Pacheco é formado em Administração pela Universidade Federal do Espírito Santo e pós-graduado em Operador de Mercado Financeiro pela FIA. Um entusiasta do assunto “investimentos” — tendo se interessado desde os tempos de universitário —, desde 2017 foca exclusivamente na análise dos mercados internacionais nas séries da Empiricus voltadas a esse propósito (Investidor Internacional e MoneyBets).