Por que Vale (VALE3) caiu 3%, mesmo com força do minério de ferro?
Nem mesmo as ações das mineradoras e siderúrgicas escaparam da sangria das Bolsas ao redor do mundo nesta quarta-feira (15).
Contaminado pelos mercados de fora, o Ibovespa (incluindo o setor de mineração e siderurgia) abriu o dia em forte queda, chegando ao patamar de 100 mil pontos na mínima da sessão. O índice acabou se recuperando bem, embora ainda tenha rodado em campo negativo.
A aversão ao risco tomou conta dos mercados depois que o acionista de um dos maiores bancos europeus, Credit Suisse, negou elevar a participação no banco por questões regulatórias. A notícia foi mal recebida em meio ao colapso do SVB Financial Group, aumentando as preocupações de uma crise financeira semelhante à de 2008.
As ações do Credit Suisse, negociadas na Bolsa europeia, fecharam em queda de mais de 20%.
À tarde, notícias de que autoridades suíças estão avaliando maneiras de estabilizar o banco deram certo alívio às operações.
Mesmo assim, os papéis de Vale (VALE3) caíram 3,01%, enquanto CSN (CSNA3) e CSN Mineração (CMIN3) derreteram 6,04% e 3,5%. A Gerdau (GGBR4) e a Usiminas (USIM5) não destoaram muito, caindo 4,66% e 1,71%, respectivamente, no período, apesar do pregão relativamente positivo para o minério de ferro.
Traders digeriram dados de atividade da China em janeiro e fevereiro, em ritmo de recuperação – ainda que gradual.
Segundo a Agência Nacional de Estatísticas, as vendas no varejo chinês nos dois primeiros meses de 2023 subiram 3,5% em relação a janeiro e fevereiro de 2023, revertendo queda anual de 1,8% observada em dezembro.
O comércio varejista na China reverteu a queda ao fim do ano passado e está agora em nível recorde, embora ainda abaixo dos níveis pré-pandemia.
Com isso, os contratos futuros do minério de ferro fecharam no positivo nesta quarta, acima dos US$ 130 a tonelada. A confiança do mercado parece ter crescido, com usinas antecipando um novo impulso da demanda. Como consequência, a produção de aço bruto chinês subiu 5,6% em janeiro e fevereiro.
Rali do minério de ferro: começo do fim?
A manutenção da alta dos preços do minério de ferro continua dividindo opiniões, visto que a retomada da demanda chinesa ainda é incerta, até pelo contexto de risco de recessão global.
O BTG Pactual tem a ação da Vale como o nome favorito para se expor à reabertura da economia chinesa. O banco espera uma recuperação gradual da atividade no gigante asiático, à medida que o governo flexibiliza as restrições e o mercado imobiliário dá sinais de melhora.
Para o Santander, que está do lado otimista no debate sobre os preços, a demanda por minério de ferro de alta qualidade deve continuar “decente” no curto prazo.
“Continuamos a ver um ponto de entrada atraente para nossa tese de minério de ferro alto por mais tempo (esperamos que os preços persistam acima de US$ 100/tonelada em 2023), principalmente considerando: (i) a demanda chinesa melhorando a partir do primeiro semestre de 2023 e (ii) um crescimento fraco da oferta de minério nos próximos anos”, explica.
Para os mais pessimistas, a recuperação nos preços do ingrediente siderúrgico é movida principalmente por especulação, e uma correção está perto de acontecer. Segundo o Julius Baer, a força sazonal dos preços deve acabar mais cedo do que mais tarde.
“Como isso não parece estar refletido no humor bastante positivo do mercado, vemos mais downside (potencial de queda) do que upside (potencial de alta) para o minério de ferro e, consequentemente, rebaixamos nossa visão para ‘Cautelosos'”, afirma, em análise divulgada no início deste mês.
O banco pondera que, enquanto a economia da China definitivamente irá se recuperar neste ano, a fraqueza do setor imobiliário deve persistir, o que deve pesar na atividade de construção, no consumo de aço e na demanda por minério de ferro.
O UBS continua cético com a alta nos preços do minério de ferro, visto que os inventários estão elevados e os preços de aço subiram moderadamente no mesmo período em que o minério de ferro saltou 60%.
Com informações da Reuters.