Por que todos os méritos da Azul não compensam seu maior problema
A Azul (AZUL4) é uma empresa com muitos predicados positivos. É a companhia aérea que voa para o maior número de cidades, 916, bem à frente da Gol (GOLL4), a segunda colocada, com 814 destinos.
Possui muito pouca sobreposição de rotas com as rivais – é a única a atender 70% das cidades para as quais voa. E sua grande malha aérea favorece um negócio menor, mas importante: o transporte de cargas.
Mas, nada disso valerá a pena, se a empresa não resolver seu maior problema: reduzir rapidamente as dívidas de curto prazo, antes que não tenha caixa, nem para pagá-las, nem para continuar voando. A avaliação é de Lucas Marquiori, que assina o relatório do BTG Pactual (BPAC11) de início de cobertura da companhia.
O preço-alvo, para os próximos 12 meses, foi estabelecido em R$ 26, o que indica um potencial de valorização de 18% sobre a cotação usada como referência pelo banco. A recomendação, contudo, é neutra.
“Ao mesmo tempo em que temos uma visão construtiva sobre os fundamentos da companhia e seu posicionamento de mercado, o elevado endividamento é motivo de preocupação”, explica o analista.
Pouca autonomia de voo
Uma simulação do BTG Pactual dá a medida do problema. A Azul encerrou o primeiro trimestre com R$ 1,3 bilhão em caixa. As dívidas de curto prazo (aquelas que vencerão pelos próximos 12 meses), contudo, somam R$ 4,3 bilhões.
E, pior: acordos com credores impõem um covenant (obrigação) de manter a alavancagem em, no máximo, 5,5 vezes a dívida líquida/ebitda. Depois de vários trimestres bem abaixo disso, a companhia bateu em 5 vezes em março.
Se não fizer nada, a Azul tem caixa para apenas três meses, segundo o BTG Pactual. A situação, contudo, melhorará consideravelmente, se conseguir renegociar uma fatia relevante das dívidas – e é o que a empresa vem fazendo.
O banco estima que, caso prolongue o vencimento de 65% das obrigações, o caixa aguentaria 16 meses. Com um pouco a mais, 70%, o fôlego seria esticado para 21 meses.
Os ventos, contudo, podem estar favoráveis à companhia. A eclosão da pandemia de coronavírus deixou os credores mais simpáticos às dificuldades das empresas em geral, surpreendidas com o fechamento de atividades não-essenciais e por uma queda de 1,5% do PIB no primeiro trimestre.
Solidariedade
“À luz dos desafios inéditos trazidos pela crise da Covid-19, esperamos que a Azul seja capaz de negociar a renúncia [dos credores] ao covenant das dívidas, bem como maneiras de rolar os débitos que vencem no curto prazo”, afirma o BTG Pactual.
De qualquer modo, a empresa não deve contar com a boa vontade do mercado para sempre. “Ainda assim, o endividamento da Azul é elevado, e uma solução de longo prazo deve ser buscada”, alerta o relatório.