Economia

Por que semana de dados nos EUA torna vida de otimistas mais difícil

16 out 2022, 11:00 - atualizado em 14 out 2022, 17:45
inflação
Inflação é pesadelo continuado para os EUA (Imagem: Pixabay)

A inflação continua dominando o noticiário macroeconômico dos Estados Unidos. Além dos indicadores de preço para produtores e consumidores que foram divulgados entre quarta e quinta-feira, investidores acompanharam de perto a divulgação da ata do Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês).

A minuta, que se refere à reunião dos dias 21 e 22 de setembro, apontou consenso entre os dirigentes do Federal Reserve sobre juros mais restritivos como saída mais efetiva para o cumprimento da meta de reduzir a inflação. Ao longo do documento, é manifestada a preocupação dos membros do Fomc sobre o contínuo avanço da inflação.

Apesar de a ata ter se referido à reunião de setembro, os dados de inflação divulgados praticamente concomitantes ao Fomc chancelaram os temores da autoridade monetária.

Inflação crescente enfraquece hipótese de ‘pico’ da inflação

O PPI, que mede o avanço dos custos para os produtores, apresentou uma alta de 0,4% em setembro, puxado por bens e serviços, levando o indicador inflacionário a acumular uma alta de 8,3% nos 12 meses passados até setembro.

Do lado dos consumidores, a tendência se mantém. O CPI subiu o mesmo 0,4% do PPI em setembro, assustando as estimativas do mercado. O fator ‘surpresa’ foi a elevação em 0,6% do núcleo da inflação (que desconsidera choques temporários de preço), decorrente do avanço dos custos com habitação, assistência médica e tarifas aéreas.

A espiral dos preços também tem tirado o sono de Joe Biden, preocupado com as chances de seu partido nas eleições de meio-termo de novembro.

Após a divulgação do CPI, a Casa Branca emitiu uma declaração oficial em seu site, endereçando o problema se valendo de um tom mais otimista. O comunicado destaca que o aumento médio dos últimos três meses foi de 2% (taxa anualizada), em contraste ao aumento de 11% observado no primeiro trimestre.

A tendência de desaceleração — puxada por recuo em energia, combustíveis e carros usados — é mencionada pela Capital Economics, mas há uma defasagem a ser considerada para que os movimentos sejam traduzidos nos números oficiais.

Até que isso ocorra, a demora para que essas tendências se tornem reais detectáveis tem tornado a vida dos otimistas quanto ao pico da inflação mais difícil.

Fed tem opções limitadas para vencer a inflação

Segundo a análise do Banco ING, a persistência da inflação dá praticamente por confirmada uma nova alta agressiva dos juros na última reunião do ano do Federal Reserve, de magnitude de 75 pontos-base (o,75 ponto percentual). Outra alta de 0,50 pp. ainda é prevista para a última reunião do ano, atestando a determinação do Fed em converter a inflação de volta à meta.

Para alcançar esse objetivo, Ian Caó, CIO da Gama Investimentos, entende que o Banco Central americano possui um ferramental muito restrito e com consequências amargas: na vida da população, como já ocorrera em crises anteriores, o avanço do aperto monetário deverá significar endividamento e desemprego.

Inflação de hoje foi incubada por uma década

Os gargalos nas cadeias de produção, causados inicialmente pela pandemia de Covid-19 e depois agravados pela guerra na Ucrânia, são frequentemente citados como os responsáveis pela inflação atual.

Mas há um fator indispensável para a leitura do problema atual, avalia Ian Caó: uma política monetária expansionista uniforme e global.

“Viemos de um período prolongado de grandes estímulos e inércia dos Bancos Centrais, levando a uma sensação geral de liquidez infinita”, afirma.

Os programas de concessão de créditos patrocinados pelos Bancos Centrais chegou ao auge na pandemia de Covid-19, quando uma enxurrada de recursos, superior a US$ 15 trilhões, foi injetada no mercado financeiro.

O acúmulo desses recursos, represados em grande parte no sistema financeiro, só começou a dar indícios inflacionários em 2020, ao menos dez anos do último ciclo de alta de juros. Mas foi somente com a desorganização das cadeias de suprimento, do pagamento de cheques de US$ 2.000 e da guerra na Ucrânia em 2022 que a bolha da inflação estourou.

A correção desse processo, explica Ian, demandará uma espécie de “escolha de Sofia” para o Federal Reserve: impor uma retirada da liquidez robusta, ainda que a economia seja paralisada.

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