Economia

Por que os preços do dia a dia podem parecer mais altos do que o IPCA mostra?

14 jan 2025, 18:15 - atualizado em 14 jan 2025, 18:22
Supermercado
(Imagem: Unsplash/ Lucrezia Carnelos)

O aumento nos preços de produtos como carne, soja e café tem tornado cada vez mais difícil economizar nas compras de supermercado. Com a inflação de 2024 fechando em 4,83%, as idas ao supermercado se tornaram motivo de frustração para muitos brasileiros.

Segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), os alimentos e bebidas foram os produtos que mais influenciaram a inflação de 2024 no Brasil, tendo uma alta de 7,69% nos preços e gerando um aumento de 1,63 ponto percentual no índice.

‘’Na trajetória atual, o dado de inflação não só estourou 2024, como ele veio muito ruim qualitativamente. A sinalização para 2025 é ruim e vai bater no bolso da população’’, disse Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

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Fatores para se entender:

Como funciona o IPCA?

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é a principal medida oficial da inflação no Brasil desde a implementação do regime de metas de inflação em 1999. O economista independente e planejador financeiro Rafael Santos explica que a metodologia do IPCA analisa os itens mais consumidos pela população e o peso relativo de cada um em relação à renda. Dessa forma, os produtos mais consumidos têm maior influência na composição da cesta do índice.

Expectativa do consumidor é maior do que a do mercado

De acordo com a pesquisa ‘’Sondagem do Consumidor’’ realizada mensalmente pela FGV, foi mostrado que a maior parte dos entrevistados esperam por uma inflação mais alta do que de fato são registradas pelo IPCA.

Santos explica que a percepção dos entrevistados tende a ser mais pessimista, porque reflete a realidade da cesta de consumo básica – como alimentos, combustíveis e produtos industrializados – que carregam itens mais suscetíveis a alta do câmbio, além do tempo de repasse da desvalorização cambial que tende a ser entre 3 a 6 meses.

”Apesar do Banco Central combater esses efeitos com os juros, no curto prazo, a materialização da alta de preços é inevitável e o ajuste de expectativas do consumidor é imediata.”, disse.

A diferença de deflação e “desaceleração” da inflação:

Ainda que soem parecidos, os conceitos entre deflação e desaceleração são diferentes. Enquanto a deflação significa que de fato os preços caíram, a desaceleração significa que os preços apenas subiram menos, mas que não necessariamente estão muito mais baixos.

Dessa forma, ainda que um produto tenha projeção de inflação menor no próximo ano, isso não significa que ele vai estar barato, e sim que ele continuará mais caro, porém o aumento será menor.

Famílias com rendas mais baixas sentem mais no bolso:

Santos explica que, devido ao Brasil ser um país com a composição da renda desigual, os pesos de determinados itens que compõem o índice de inflação se torna desproporcional.

Enquanto itens essenciais como alimentos, transportes e vestuário, se tornam mais consumidos pela população de renda mais baixa, serviços como restaurantes e viagens são mais utilizados por pessoas de renda mais elevada, contrastando os efeitos.

Além disso, diferenças regionais também impactam nas percepções, já que os custo de vida são diferentes.

Estudante de jornalismo na FAAP, cobre Mercados e Internacional.
raquel.lauren@moneytimes.com.br
Estudante de jornalismo na FAAP, cobre Mercados e Internacional.