Por que o Reino Unido lembra, hoje, o Brasil em crise dos anos 80
O Reino Unido vive uma dinâmica de país emergente. Em um ambiente de contas públicas fragilizadas, inflação alta, crescimento econômico pressionado e banco central “atrás da curva”, além da crise energética, a nação insular relembra o que o Brasil e outros países em desenvolvimento passaram durante as décadas de 80 e 90.
“A situação na ilha do Rei [Charles III], em busca de se combater o avanço dos preços, vai tornando a situação fiscal do país pior”, comenta o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez. Ele se refere ao anúncio de uma série de cortes na última sexta-feira, além de gastos adicionais para sustentar o consumo de energia dos ingleses.
Nesse cenário, o mercado penaliza. “O Reino Unido está se comportando como um mercado emergente, transformando-se em um mercado [de país] subdesenvolvido”, afirmou o ex-secretário do Tesouro da Casa Branca Lawrence Summers, em entrevista à Bloomberg.
Para ele, o medo tomou conta e há uma crise de confiança. “Não seria nenhuma surpresa se a libra esterlina perder a paridade em relação ao dólar”, emenda. Por volta do meio-dia, a moeda britânica valia US$ 1,0791, em queda de 0,5%, depois de ter sido negociada abaixo de US$ 1,04, na mínima do dia.
Próximos passos
Além da depreciação cambial, o mercado também espera forte alta nas taxas de juros e queda da bolsa.
“Quem acompanha e opera mercados emergentes há anos, sabe bem o destino e o caminho que o Reino Unido deverá seguir”, lembra o CIO da TAG Investimentos, Dan Kawa.
“É uma crise emergente em um país desenvolvido”, afirma Kawa. Para ele, na ausência de políticas fiscais mais austeras, o primeiro passo deve ser um choque na taxa de juros, com aperto mais agressivos (“hawkish”).
Na semana passada, o Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) elevou a taxa de juros em 0,50 ponto percentual, para 2,25%. “Depois disso, apenas um longo e tortuoso processo de ajuste econômico, mirando a equalização dos déficits gêmeos (fiscal e externo), assim como um caminho para um crescimento mais sustentável de longo prazo e um comprometimento com uma inflação mais baixa estruturalmente”, enumera o CIO da TAG.
Porém, ele avalia que, no momento, parece ainda haver “lucidez” por parte do governo inglês e do BoE em relação a este caminho. “Isso leva a crer que haverá um longo e tortuoso processo no Reino Unido, com enorme reverberação ao resto do mundo”, conclui.
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