Por que o rali do petróleo pode ter dado adeus
Depois de quase ter alcançado os US$ 100 por barril na semana passada, o petróleo tipo Brent voltou a regredir para a marca dos US$ 90.
Desde junho, a commodity vem renovando altas, em um rali sustentado pela narrativa de restrições na oferta, provocadas por países exportadores de petróleo.
Para Norbert Rücker, economista da Julius Baer, a percepção de que há uma quantidade substancialmente menor de petróleo disponível no mercado deve ser questionada, já que está mais relacionada a um aspecto “político”.
“As nações exportadoras de petróleo alertam para um aperto na oferta devido a um aumento no consumo, e mesmo assim, o grupo permanece fiel aos cortes de produção [ao invés de aumentá-la], alegando ‘medidas de precaução’. Claro, o Ocidente e os mercados emergentes que consomem a commodity sabem que isso nada mais é do que pura política de petróleo”, avalia o economista.
Embora os países da Opep+ permaneçam estrangulando a oferta, dados vindos dos EUA e da Europa e medidas indiretas da China sugerem que os estoques de petróleo nos principais centros de consumo da commodity permanecem em níveis suficientes.
No caso do mercado chinês, que é o principal importador da commodity no mundo, o economista enxerga uma tendência oposta: “O vão entre a produção de petróleo e as imp0rtações para refinarias sugere um aumento nos estoques domésticos.”
A razão da lateralidade dos estoques em 2023 se dá, fundamentalmente, por conta da estagnação no consumo, preso a um ambiente macroeconômico desfavorável. A mobilização para a transição energética e o desbloqueio da produção de países sancionados, como Venezuela e Irã, também atuam na margem para a manutenção da oferta em níveis estáveis.
“Os preços do mercado de petróleo parecem descolados dos fundamentos e o humor está excessivamente otimista”, diz Norbert Rücker.
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Disparada do dólar é novo obstáculo para o petróleo
Há ainda outro fator que tem atuado contrariamente à elevação dos preços do petróleo: o fortalecimento do dólar americano.
A divisa pega carona no descontrole do mercado de títulos dos Estados Unidos, com mais e mais investidores internacionais buscando comprar os ativos soberanos, com as principais taxas de retorno transitando em máximas não vistas desde os preâmbulos da crise financeira global.
É o caso das T-notes de 10 anos de maturação. Nesta terça-feira (3), o ativo está com rendimento de 4,727%, o maior desde 2007.
A disparada dos rendimentos das Treasuries é alimentada pela perspectiva de que o Federal Reserve manterá as taxas de juros mais elevadas por mais tempo.
Nesse contexto, o índice DXY, que mede a variação do dólar ante competidores fortes como euro e iene, alcançou nesta terça-feira (3) os 107,13 pontos. Trata-se da maior marca desde novembro de 2022.
Diante do pressão cambial, o Brent e o WTI voltaram a realizar ganhos. Ao longo das últimas três sessões, as duas principais referências de petróleo perderam cerca de 6%.