Coluna do Heverton Peixoto

Por que o mercado de crédito depende cada vez mais do mercado de seguros

05 set 2023, 14:25 - atualizado em 05 set 2023, 14:25
Liberdade financeira, crédito seguro
No Brasil, o mercado de crédito sempre serviu como um canal potencial para a oferta de produtos e serviços do mercado de seguros.(Imagem: Pixabay/stevepb)

Os mercados de crédito e seguros são pilares do sistema financeiro nacional. Crédito corresponde às operações de antecipação financeira. Proporciona à sociedade viabilizar e manter projetos que geram valor para diversos setores da economia. Já os seguros são instrumentos de planejamento, prevenção e mitigação de riscos. Podem ser encarados como investimento, dependendo da proposta de garantia ou proteção.

No Brasil, tradicionalmente a relação entre eles sempre foi de distribuição. Ou seja, o mercado de crédito sempre serviu como um canal potencial para a oferta de produtos e serviços do mercado de seguros. Mas é tempo de dividir mais as responsabilidades e os riscos.

O mercado de seguros é muito mais líquido. Ele possui capacidade de pulverizar riscos em arranjos com os resseguros e retrocessão, atuando como parceiro ainda mais estratégico do mercado de crédito e de maneira decisiva para a circulação financeira e o desenvolvimento do país.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Ampliação do resseguro

Em 2022, o total de resseguros cedidos somou R$ 23 bilhões, um crescimento de 23,5% em relação ao ano anterior, segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep). Trata-se de uma operação de mercado que melhora os índices de solvência dos envolvidos e dá suporte a uma cadeia de negócios com larga capacidade de alavancagem.

O nicho de resseguros e retrocessão cresce não só com a maturidade dos players, mas também com incentivos da Susep – desde o começo do ano, seguradoras podem repassar 90% do risco e os movimentos de mercado/economia.

Com o aumento da inadimplência, seguros de todas as ordens ganharam relevância. O prestamista, sobretudo, em face à perda de poder econômico dos brasileiros com a inflação e a Selic em patamares elevados. O garantia, que pode atender a valores mais altos, vinculados às operações de larga complexidade, é outro exemplo que vem crescendo.

Prova disso está nos resultados de 2022, cuja receita total com prêmios de seguros foi de R$ 220 bilhões, aumento de 19,9% em relação ao ano anterior. Voltando os olhos para resseguros e retrocessão, observa-se que eles ainda atingem 10% disso, o que revela enorme potencial para crescimento.

O contexto atual gera uma grande oportunidade de amadurecimento do mercado de crédito, apoiado por mecanismos de arranjos do mercado segurador. Maior segurança jurídica certamente estimulará envolvimento importante dos resseguros e retrocessão no suporte de operações de empréstimos e financiamento.

A maior participação de organizações de resseguro e retrocessão ampliará a capacidade de toda a cadeia assumir mais riscos, criando um sistema de proteção em camadas. Garantirá que os efeitos de possíveis inadimplências sejam distribuídos de forma mais equitativa entre várias entidades.

Temos acompanhado algumas iniciativas do Governo Federal que visam ajudar a população a quitar suas dívidas por meio de programas de suporte financeiro, mas entendo que, para que a sinergia do setor aconteça de forma menos arriscada, a legislação terá de evoluir para otimizar e reconhecer o seguro como proteção total.

É uma ótima chance para o governo mergulhar no tema, buscando criar um arcabouço legislativo e regulamentar de modo que haja incentivo e facilitação por parte das financeiras no exercício do seu papel.