Mercados

Por que o Ibovespa (IBOV) disparou mesmo com a vitória de Lula?

31 out 2022, 11:43 - atualizado em 01 nov 2022, 2:27
Ibovespa
(Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

O Ibovespa (IBOV), que iniciou o dia em forte queda após a vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disparou mais de 1% por volta das 10h.

Lula derrotou o candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno no domingo e voltará à Presidência pela terceira vez, impondo uma inédita derrota nas urnas a um ocupante do Palácio do Planalto que buscava um segundo mandato.

O índice subia 0,76% às 11h39, a 115.410,15 pontos. Apesar de agentes financeiros ainda monitorarem os próximos passos da formação ministerial de Lula, principalmente o ministério da Economia, os estrangeiros podem estar por trás da disparada, segundo analistas ouvidos pelo Money Times.

De acordo com Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, inicialmente o mercado interpretou de maneira ruim Lula ter ganhado as eleições, mas absorveu essa informação.

“Entrou fluxo comprador grande de bancos. A tendência é que o Ibovespa fique em alta até o pronunciamento do Bolsonaro“, coloca.

Até o momento, Bolsonaro se mantém em silêncio após não conseguir se reeleger por menos de 2 milhões de votos. A disputa com o ex-presidente Lula foi a mais acirrada da história do Brasil.

A alta poderia ser ainda maior, não fosse a Petrobras (PETR4) despencando mais de 5%.

Já Pedro Galdi, da Mirae Asset, diz que o kit Lula puxa a alta mais forte (educação, incorporadoras, varejo).

“O mercado está mais racional de que o novo governo não deva fazer mudanças radicais e isso trouxe a melhora do pregão, que agora busca um rali. Nada novo surgiu, apenas a caça às pechinchas”, discorre.

Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, acrescenta que com a chance crescente de Henrique Meirelles assumir a Economia, somado ao rumor de que Felipe Salto, atual secretário do governo de São Paulo, possa ir para o Tesouro, alimenta as esperanças de um governo fiscalmente responsável.

“O Meirelles falou em R$ 100 bilhões de licença para gastar. O mercado aceita esse valor. Isso mostra que os investidores têm maturidade e até gostaram das eleições do Lula”,  completa.

Para a equipe da XP Investimentos, contudo, a volatilidade pode seguir alta e talvez aumentar nas próximas semanas, dada a incerteza quanto à política fiscal do novo governo, bem como quais serão os nomes da nova equipe econômica de Lula.

Gringo comprando Ibovespa?

Na visão de Bruno Komura, da Ouro Preto Investimentos, o investidor estrangeiro “deve estar comprando muito”.

Além disso, o PMI dos EUA veio abaixo da expectativa “e o mercado interpreta isso como uma coisa boa porque acha que o Fed vai reduzir o ritmo de aperto monetário”.

“Para esta semana o consenso é 0,75%, mas a dúvida é para a última reunião do ano, que ainda está bem aberta – estimativas entre 0,25% a 0,75%”.

De acordo com fontes ouvidas pelo Money Times, até o momento, UBS, Merril Lynch, JPMorgan e Morgan Stanley são os maiores compradores de bolsa, enquanto a XP é a maior vendedora.

Segundo o analista Victor Benndorf, da casa de análise que leva o seu sobrenome, o Brasil mantém a sua liderança nos emergentes e pode estar à frente no ciclo monetário e receber fluxo da China que vai de mal a pior

Antes mesmo das eleições, gestores de fundos de ações diziam que o gringo tem preferência por Lula, enquanto o investidor interno preferia Jair Bolsonaro (PL).

Os estrangeiros buscam ações baratas em um momento em que outras economias emergentes apresentam uma incerteza maior que a do Brasil, disse um gestor.

Na visão de Fabio Kanczuk, da ASA Investments e ex-BC, o estrangeiro tende a preferir Lula.

Segundo ele, em entrevista à Bloomberg, as pautas ESG e da Amazônia de um eventual governo petista agradariam o investidor internacional, enquanto o atual presidente teria mais apoio no setor privado local pela política de redução do Estado.

O braço de gestão de ativos da Nordea, um dos maiores bancos dos países nórdicos, já disse que pode suspender a proibição de compra de títulos do Brasil anteriormente estabelecida por preocupações ambientais.

Já o gestor Thiago Melzer, cofundador e CIO da Upon Global Capital, no 17º episódio do podcast Market Makers, afirmou que “o gringo tem uma memória muscular muito grande de ter ganhado dinheiro com o Lula”.

“Eles se sentem tranquilos de investir no Brasil. O gringo tem menos temor do Lula do que na continuidade do Bolsonaro. Ao contrário da média do mercado financeiro local”, explica.

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