Por que o dólar voltou a ficar abaixo de R$ 5 após uma semana?
O otimismo que tomou conta dos mercados globais nesta quinta-feira após a divulgação de balanços corporativos positivos nos EUA, na Europa e na China fez o dólar recuar mais de 1% ante o real, o que recolocou a moeda norte-americana abaixo do nível psicológico de 5 reais no Brasil.
Os dados do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano, mais fracos que o esperado, contribuíram para o movimento.
Investidores que estão vendidos no mercado futuro de dólar (com apostas na queda da moeda) também aproveitaram o cenário para puxar as cotações para baixo, já que na sexta-feira ocorre a disputa pela formação da Ptax de fim de mês –a taxa de câmbio calculada pelo Banco Central que servirá de referência para a liquidação de derivativos no início de maio.
O dólar à vista fechou o dia cotado a 4,9801 reais na venda, em baixa de 1,56%. Foi a primeira vez desde 18 de abril que a moeda norte-americana encerrou a sessão abaixo dos 5 reais.
Na B3, às 17:47 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 1,46%, a 4,9775 reais.
O dólar recuou durante toda a sessão ante o real, em sintonia com o exterior, onde a moeda norte-americana também cedia ante outras divisas de países exportadores de commodities.
Por trás do movimento estava o otimismo dos investidores, após companhias como a norte-americana Meta, responsável pelo Facebook, os bancos europeus Deutsche Bank e Barclays e a seguradora chinesa Ping An Insurance Group divulgarem balanços considerados positivos.
Assim, os investidores globais foram em busca de ativos de maior risco, como ações e moedas de países emergentes, o que favoreceu o real em relação ao dólar.
“Essas renovadas mínimas de agora, que trouxe o dólar para abaixo da linha dos 4,99 reais, está refletindo uma busca por ativos de risco no mercado internacional”, avaliou durante a tarde Fernando Bergallo, diretor da assessoria de câmbio FB Capital.
“Além disso, acho que no front doméstico melhorou um pouco a percepção de risco fiscal no médio prazo, com a vitória do governo ontem (quarta-feira) no STJ.”
Na quarta-feira, o Superior Tribunal de Justiça deu ganho parcial ao governo em julgamento de conjunto de ações envolvendo benefícios tributários que, pelas contas da equipe econômica, têm impacto potencial de até 90 bilhões de reais por ano para os cofres federais.
Uma liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal André Mendonça suspendeu a eficácia da decisão do STJ, mas fontes do STF afirmaram à Reuters que a liminar deve ser derrubada.
Além dos balanços corporativos no exterior, os dados do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA, divulgados pela manhã, favoreceram a queda do dólar ante o real, pontuou economista André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online.
O PIB norte-americano subiu 1,1% no primeiro trimestre, mas a expectativa da pesquisa Reuters era de alta de 2%.
“A economia norte-americana continua crescendo em um ritmo menos intenso do que nos dois últimos trimestres, mas abaixo das expectativas”, pontuou Galhardo.
Neste cenário, o mercado voltou a especular que o Federal Reserve pode não ser tão duro em sua política monetária, o que penalizou o dólar.
Duas fontes consultadas pela Reuters avaliaram ainda que a disputa pela Ptax de fim de mês já começou nesta quinta-feira, com os vendidos puxando as cotações para baixo.
Para Leonardo Monoli, diretor de gestão da Azimut Brasil Wealth Management, “neste momento não existe nenhum alinhamento de vetores que justifiquem posições compradas no dólar contra o real”.
“Temos a leitura de que os preços dos ativos brasileiros ficaram muito descontados”, acrescentou.
No fim da tarde, o real seguia como uma das moedas mais valorizadas ante o dólar em todo o mundo.
Às 17:47 (de Brasília), o índice do dólar –que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas– subia 0,10%, a 101,490.
Pela manhã, o Banco Central vendeu todos os 16.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados na rolagem dos vencimentos de junho.
(Atualizada às 18:07)