Por que o conceito de “descentralização” é importante?
Em 2020, a pandemia acelerou diversas tendências que já estavam acontecendo: entregas sem contato pessoal, trabalho remoto, economia de criação, realidade virtual, educação a distância, nacionalismo e a crescente desconfiança em instituições.
A pandemia ampliou, de forma direta e indireta, a lacuna entre ricos e pobres. Aqueles que detinham ativos, propriedades e ações viram seus portfólios aumentarem em valor.
Porém, trabalhadores menos afortunados perderam seus empregos ou foram forçados a se expor ao vírus para ganhar seu salário mínimo. Muitas pequenas empresas encerraram seu negócio conforme “lockdowns” atrás de “lockdowns” afastaram seus clientes.
Enquanto o poder da COVID-19 cresceu em grande escala, um tipo diferente de vírus também se espalhou. A pandemia do ódio. O vírus da mente.
Ficou claro que, na era das redes sociais, uma eleição americana altamente controversa, que aconteceu em meio a uma pandemia global, é a fórmula da propagação do vírus da desinformação e das teorias da conspiração.
Eleições 2020, fake news
e descentralização das redes sociais
Radicalizado pela combinação perigosa de muito tempo de tela, o algoritmo implacável do YouTube e um presidente preparado para apresentar fatos alternativos, uma parte bem grande da população começou a adotar uma realidade alternativa.
Alguns passaram a acreditar que a COVID-19 era falsa, uma teoria pandêmica da conspiração propagada por Bill Gates. Donald Trump convenceu grande parte de seus apoiadores que a eleição havia sido roubada deles.
Segundo uma pesquisa de opinião realizada pela Reuters/Ipsos em novembro de 2020, metade dos republicanos acreditava que Trump “legitimamente venceu” as eleições.
Conforme o presidente continuou a alimentar essa falsa narrativa ao longo de dezembro e no Ano-Novo, a tensão ficou estratosférica em 6 de janeiro de 2021, quando dezenas de milhares marcharam a Washington e invadiram o Capitólio. Nada correu bem.
Existem aspectos positivos e negativos
em redes sociais descentralizadas?
Por que a descentralização é importante?
Em 2018, Chris Dixon, sócio da empresa de capital de risco Andreessen-Horowitz (a16z), publicou um artigo chamado “Por que a descentralização é importante”.
Dixon argumenta que os momentos iniciais da internet foram construídos em protocolos abertos. “Isso sugeria que pessoas ou organizações poderiam aumentar sua presença na internet sabendo que as regras do jogo não seriam alteradas no futuro”, afirmou ele.
“Grandes propriedades de rede surgiram durante essa era, incluindo Yahoo, Google, Amazon, Facebook, LinkedIn e YouTube. Durante o processo, a importância de plataformas centralizadas, como AOL, diminuiu drasticamente.”
Na segunda era da internet, entre 2000 e 2002, as grandes empresas de tecnologia — Facebook, Apple, Amazon, Netflix, Google (formando a sigla FAANG) — desenvolveram serviços que ultrapassaram os limites dos protocolos abertos.
O crescimento explosivo de smartphones acelerou essa tendência conforme aplicativos móveis direcionaram grande parte do uso da internet. Usuários migraram de protocolos abertos para serviços centralizados mais sofisticados.
A vantagem foi que bilhões de pessoas obtiveram acesso à internet e seus produtos. A desvantagem é que ficou difícil para que startups, criadores e outros aumentassem sua presença na internet sem o risco de que plataformas centralizadas mudassem as regras para eles, roubando seu público e seus lucros.
Dixon argumenta:
Essa inovação reprimida tornou a internet menos interessante e dinâmica.
A centralização também criou maiores tensões societárias, que vemos em debates sobre assuntos como ‘fake news’, robôs patrocinados pelo Estado, a restrição de usuários (“deplatforming”), leis europeias de privacidade e preconceitos algorítmicos.
Esses debates apenas irão se intensificar nos próximos anos.
O argumento acima foi exatamente o que aconteceu em resposta aos acontecimentos em Washington.
Em um período de 36 horas, o presidente Trump foi permanente ou temporariamente banido de serviços centralizados de internet. A lista inclui Twitter, Facebook, Instagram, YouTube, Spotify, Reddit, TikTok, Snapchat, Shopify e Pinterest.
Quando defensores de Trump migraram para a rede social sem moderadores Parler, Apple e Google removeram o aplicativo de suas lojas e Amazon tomou a decisão inédita de remover Parler para que não acessasse seus servidores Amazon Web Services (AWS).
Isso fez com que Parler fosse desativado.
Aqueles que acham que entendem quando a censura é uma decisão clara e direta provavelmente não pensaram o suficiente no assunto.
Não importa qual seja sua postura política, onde a liberdade de expressão começa e termina: para muitos, essa foi uma percepção preocupante de que empresas centralizadas de tecnologia têm o poder e irão censurar o presidente dos Estados Unidos.
A repercussão sobre essas ações já começou e as consequências são claras. A década seguinte passará por uma migração para comunicações, aplicativos, vias de pagamentos e dinheiro descentralizados.
Por exemplo, Signal, o aplicativo de mensagens criptografadas, disparou para a primeira posição na App Store esta semana.
O preço de criptomoedas de privacidade — monero (XMR), dash (DASH) e zcash (ZEC) — dispararam, mesmo enquanto o bitcoin caía.
Não é exagero dizer que, na segunda semana de 2021, a ideia sobre a importância da descentralização saiu da teoria e foi para a prática.
O Bitcoin esteve uma década à frente dessa tendência. É o protocolo mais descentralizado e resistente à censura do planeta.
O bitcoin foi desenvolvido de uma forma tão elegante, apesar de radial, que demorou uma década para que mais de uma fração do mundo começasse a compreender seu verdadeiro potencial.
Segundo Naval Ravikant, fundador da plataforma AngelList: “o bitcoin não pode ser coagido. É por isso que é o experimento mais importante do mundo”.
Bitcoin cannot be coerced.
That’s why it’s the most important experiment in the world.
— Naval (@naval) January 11, 2021
Balajis Srinivasan, ex-diretor de tecnologia da Coinbase, afirma:
Agora, o bitcoin é mais valioso do que o Facebook. Na próxima década, serviços descentralizados e baseados em blockchain irão fornecer alternativas moral, técnica e financeiramente superiores a empresas de tecnologia americanas e chinesas parecidas.
Srinivasan vai ainda mais além e faz a seguinte analogia:
O Capital Comunista é uma censura centralizada pelo Estado. O Capital Consciente é uma censura descentralizada pelas corporações. O Capital Cripto é uma descentralização resistente à censura.
Quer seja um presidente censurando um bilionário (China), quer seja um bilionário censurando um presidente (EUA)… Se você não é um bilionário nem um presidente, você será censurado.
A menos que você descentralize…
Quais são os riscos da não descentralização?
Um risco é que já ficou bem claro que, a qualquer momento da próxima década, o setor blockchain será sempre atacado pelo complexo industrial de narrativas da mídia popular.
Albert Wenger, sócio-gestor do Union Square Ventures (USV), afirma que estamos vivenciando o surgimento do complexo de infraestruturas da tecnologia da informação governamental. O risco, segundo ele, é que o governo estará cada vez menos propenso a gerar competição nesse setor.
É bem mais conveniente ter poucas grandes empresas do que ter uma agência executiva que possa influenciar os bastidores em vez de ter que se preocupar com a regra da lei.
Já vimos isso acontecer no setor de pagamentos há um tempo onde, em vez de haver intervenções segmentadas contra reais abusos de fornecedores de pagamentos na paralisação de suporte para empresas em certas categorias — basicamente, qualquer coisa relacionada a trabalho sexual.
Tome, como exemplo, a recente negação de serviços de pagamento ao Pornhub. O setor legalizado de cannabis foi igualmente deixado de lado por uma negação quase uniforme de acesso a serviços bancários básicos.
Onde esse poder será utilizado a seguir? Wenger diz que o alvo mais óbvio são cripto e blockchain, que ameaçam o poder dos governos e das grandes corporações:
Um conjunto difícil de assuntos exige um processo legislativo sagaz e novas regulações. É muito mais fácil de lidar com isso nos bastidores. Ou tire a criptografia. Para que se importar em apresentar boas regulações?
Deixe o Facebook dar acesso indevido ao WhatsApp para que, em seguida, todos concordem que Signal representa um risco muito grande e precisa ser banido. As grandes empresas estão dando as boas-vindas a essa abordagem.
Será boa para elas e boa para o poder executivo, mas será ruim para a democracia.
Dixon afirma que redes cripto descentralizadas alinham os incentivos dos participantes da rede para que possam trabalhar juntos em um objetivo comum: o crescimento da rede e a apreciação do token.
Esse alinhamento é um dos motivos pelo qual o Bitcoin continua a desafiar céticos e florescer, mesmo enquanto outras novas redes, como a Ethereum, continuam a crescer junto com ele.
Dixon diz: “a pergunta de que sistemas descentralizados ou centralizados irão vencer na próxima era da internet se reduz a quem irá desenvolver os produtos mais atrativos que, por sua vez, será reduzida a quem possui os melhores desenvolvedores e empreendedores”.
As grandes empresas de tecnologia — como Google, Apple, Facebook e Amazon (GAFA) — possuem muitas vantagens, incluindo reservas em dinheiro, grandes bases de usuários, grande alavancagem de dados e infraestrutura operacional.
Dixon diz que plataformas centralizadas são tão dominantes há tanto tempo que as pessoas se esqueceram de que existe uma maneira melhor de desenvolver serviços de internet.
Redes cripto são uma forma poderosa de desenvolver redes comandadas pela comunidade e fornecer condições iguais para empresas, desenvolvedores e criadores externos.
“Vimos o valor de sistemas descentralizados na primeira era da internet”, afirmou ele. “Felizmente, poderemos rever isso na próxima.”
Web 3.0
Essa é a promessa da Web 3, a internet descentralizada. Web 3.0 imagina um futuro em que usuários e seus dispositivos interagem com dados, valores e outros usuários por meio de redes de ponto a ponto. Intermediários não são necessários.
A pandemia acelerou a tendência do trabalho remoto da Web 3.0 com o crescimento da realidade virtual, eSports e a economia de criadores fazem parte dessa alteração de tendência, mas de formas diferentes.
O cidadão médio nunca havia prestado muita atenção no que aconteceria caso grandes empresas de tecnologia se voltassem contra ele. Logo, deve pensar nisso agora.
Srinivasan argumenta:
O bitcoin é uma fuga do Fed. DeFi são uma fuga de Wall Street. Redes sociais são uma fuga da mídia em massa. O ensino a distância é uma fuga da educação industrial.
O trabalho remoto é uma fuga do controle de ponto. A economia de criadores é uma fuga do emprego. Pessoas estão deixando as instituições.
A próxima década passará por uma mudança para a pseudonimização. Fique espero ao tribalismo cripto, a cooperação distribuída e as bifurcações hostis.
A mudança será caótica. Porém, existe um evidente caso moral, tecnológico e econômico para substituir as instituições tradicionais com alternativas descentralizadas e nativas da internet.
A descentralização é importante. Não irá acontecer da noite para o dia, mas vai acontecer.
Empréstimos, DeFi e Web 3.0:
confira tendências do mercado cripto para 2021