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Por que o bitcoin é tão comparado com o ouro?

13 nov 2020, 15:42 - atualizado em 13 nov 2020, 15:43
Confira, neste artigo por Connor Dempsey, da Messari, de onde vem o tal ouro e por que o bitcoin é comparado a sempre ele (Imagem: Freepik/lcd2020)

Em uma das maiores e mais recentes bajulações sobre o bitcoin, o famoso investidor Stan Druckenmiller afirmou: “sinceramente, se a aposta no ouro funciona, a aposta no bitcoin funcionará ainda mais”.

Se você faz parte desse setor, não deve estranhar as comparações entre o bitcoin e o ouro. Ambos são escassos, altamente divisíveis, transferíveis, caros de minerar e têm um fornecimento que não pode ser manipulado, principalmente por um governo ou empresa.

É aí que as similaridades acabam. O bitcoin é uma criação puramente digital que só existe conforme informações de um registro são compartilhadas em uma rede distribuída de computadores.

Sua escassez vem do código de programação, que dita um fornecimento total de 21 milhões de moedas.

O custo da mineração inclui a eletricidade gasta em uma competição global entre computadores (mineradores), que estão em uma corrida para ver quem descobre primeiro um número arbitrário.

A palavra “mineração de criptomoedas” vem justamente da mineração tradicional, processo em que o ouro, por exemplo, é extraído; sua escassez e “dificuldade” o tornam valiosos (Imagem: Freepik/macrovector)

Por outro lado, o ouro é um metal que extraímos do solo. Porém, se o bitcoin foi criado por um programador anônimo, podemos fazer a seguinte pergunta: “de onde vem o ouro?”.

Um dos benefícios alternativos da indústria cripto é que ela nos força a analisar profundamente a forma como o restante do mundo funciona. No final do dia, grande parte do que você vê na indústria é basicamente a recriação das coisas que já existem, mas em um ambiente puramente digital.

Quer entender o que é um formador automático de mercado (AMM, na sigla em inglês) como a Uniswap, por exemplo? Primeiro, você precisa saber o que é “formador de mercado”: é uma função básica nas finanças que existe desde que mercados surgiram.

Há milhares de anos, havia um cara na Mesopotâmia com uma grande reserva de trigo e cevada que, por uma pequena taxa, sempre estava disposto a negociar trigo por cevada ou vice-versa para manter o mercado funcionando.

Troque trigo e cevada pelos tokens YAM e ETH, automatize-os na rede Ethereum e pronto: Uniswap.

Quer entender o que é ouro digital e por que é valioso? Comece pela analogia física e vá descendo pela toca do coelho. Você chegará no espaço, bilhões de anos antes de a Terra ser criada.

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Quer entender o que é ouro digital e por que é valioso? Comece pela analogia física e vá descendo pela toca do coelho (Imagem: Pixabay/Global_Intergold)

Ouro, o extraterrestre

Existe um motivo pelo qual os irmãos Winklevoss disseram a David Portnoy que Elon Musk ia fazer ouro chover do espaço, tornando-o tão abundante quanto areia. O ouro realmente vem do espaço, mas essa não é a parte interessante.

A parte interessante é como ele é criado: no colapso de uma estrela e uma explosão cataclísmica chamada de supernova.

Rápida introdução sobre estrelas

O exemplo mais familiar de estrela é o Sol — a grande bola de gás ao redor da qual nosso planeta gira e estabelece os ritmos de nossos dias, estações e anos.

Embora seja algo realmente importante para nós, seres humanos, pela perspectiva cósmica, nosso sol é um pontinho. Assim como disse o cientista Carl Sagan:

O número total de estrelas no universo é bem maior do que todos os grãos de areia em todas as praias do planeta Terra.

Resumindo, estrelas são grandes bolas de gás e existem inúmeras delas por aí. O que acontece dentro da estrela é que produz, por fim, o ouro.

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O fornecimento limitado de ambos os ativos é o que gera sua proposta de valor (Imagem: Unsplash/@denarium_bitcoin)

A receita do ouro

Para entender a próxima parte, temos que voltar para uma aula de química do ensino médico e revisitar o elemento mais leve de nossa tabela periódica: o hidrogênio.

Estrelas são compostas principalmente de gás hidrogênio. Por serem tão grandes, a gravidade das estrelas gera uma enorme pressão no núcleo da estrela.

Essa pressão faz com que os átomos de hidrogênio começam a bater uns nos outros, resultando em hélio e fornecendo uma grande energia por meio de um processo chamado fusão nuclear; é o que faz as estrelas ficarem quentes e brilhantes.

A fusão nuclear cria energia e transforma hidrogênio em hélio, um elemento um pouco mais pesado do que o hidrogênio.

Quando a fusão nuclear criar hélio suficiente, esse mesmo processo começa a criar carbono, que também é mais pesado. Em seguida, vem o oxigênio, ferro, níquel, que são um pouco mais pesados do que seu predecessor.

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O ouro realmente vem do espaço, mas o bitcoin, não; quando o ouro acabar, vai sobrar o bitcoin (Imagem: Pixabay/vjkombajn)

Conforme os átomos de hidrogênio no núcleo da estrela batem uns nos outros ao longo de milhões de anos, criando outros elementos mais pesados, o hidrogênio da estrela lentamente se esgota.

Quando o oxigênio do núcleo da estrela acaba, a estrela entra em um autocolapso. Bum, uma supernova! Um evento cósmico e raro que acontece poucas vezes por século.

Esse colapso cria muita pressão, em que prótons e elétrons formam nêutrons.

Todos os elementos mais pesados formados pela estrela, como ferro e níquel, são combinados com esses nêutrons, e esse é o processo que cria o ouro, bem como prata, grafite e urânio: os metais pesados.

Isso supostamente acontece em questão de segundos.

Se você ainda está conosco, elementos pesados são formados por meio da fusão nuclear por milhões de anos. No raro evento em que uma estrela entra em colapso, resultando em uma supernova, metais pesados como ouro e prata são formados em apenas um instante.

Beleza, mas como o ouro chegou até a Terra?

Como o ouro chegou aqui

Bom, a estrela que explodiu espalhou todos os elementos que estavam sendo cozinhados pelo universo, então existe muito gás e poeira estelar voando por aí. Após um tempo, a gravidade cumpre seu papel e todo esse gás e toda essa poeira começam a se fundir, formando planetas.

Quando a Terra estava sendo formada, muita ouro em pó foi acrescentado à mistura. Após bilhões de anos, o núcleo fundido da Terra fez com que esse ouro em pó se solidificasse na forma em que, agora, podemos extrair, de forma custosa, do solo.

Estima-se que, após todo esse processo, mineramos ouro suficiente para encher três piscinas olímpicas. Com esse fornecimento limitado, criamos dinheiro, joias, equipamentos eletrônicos, restaurações odontológicas e a classe de ativos preferida de Peter Schiff.

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Agora você entende por que nossas “moedinhas da internet” são tão comparadas com o ouro? (Imagem: Pixabay/WorldSpectrum)

Resumindo…

Aí está. Estrelas transformaram muito hidrogênio em elementos pesados por milhares de anos antes de explodir e instantaneamente criar metais pesados que foram jogados pelo espaço.

Alguns desses metais chegaram à Terra, onde um monte de primatas os cavou para criar dinheiro e joias, além do ativo que é o pivô de brigas na internet.

O motivo pelo qual o ouro é escasso é porque, embora existam toneladas deles voando pelo universo, para nós, humanos, não é tão fácil recriar o processo cósmico que o formou.

Esse mesmo processo produziu um metal que é bonito, maleável e divisível, qualidades que consideramos valiosas, por qualquer que seja o motivo.

Satoshi Nakamoto imbuiu algumas dessas qualidades no bitcoin: escassez e divisibilidade. Ele também acrescentou algumas características que o tornam bem mais transferível e verificável.

E é por isso, meus amigos, que nosso dinheiro de internet mágico e preferido gera comparações com um metal brilhante que caiu do espaço e que extraímos do solo.

Do ouro ao bitcoin:
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