Bitcoin (BTC)

Por que o Bitcoin é diferente das outras criptomoedas?

27 set 2017, 18:58 - atualizado em 05 nov 2017, 13:54

Bitcoin

Por Allex Ferreira, o Barão do Bitcoin

Ao longo dos meus anos de experiência com o Bitcoin, notei a existência de um padrão em como as pessoas pensam em relação ao Bitcoin à medida que elas descobrem mais e mais o ecossistema ao redor da tecnologia. Geralmente, os pensamentos ocorrem na seguinte ordem:

– Poxa, Bitcoin é algo maravilhoso! Existe um limite na quantidade total de Bitcoins que entrará em circulação ao longo do tempo e eu tenho um poder de custódia significativo sobre o meu próprio dinheiro. Como faço para comprar alguns?

– Mineração é algo muito interessante. Parece que é a partir disso que será possível realmente fazer dinheiro. Como eu faço para minerar e começar a produzir alguns Bitcoins?

– Mineração parece muito árdua e difícil. Acho melhor simplesmente comprar Bitcoins. Então, onde posso comprar alguns?

– Ótimo, agora eu tenho Bitcoins, mas o que são todas essas outras criptomoedas? Será que um dia elas irão ultrapassar o Bitcoin?

– Quero me proteger (fazer hedge) contra alguma possível forma de autodestruição do Bitcoin. Talvez eu devesse comprar algumas dessas altcoins.

– Não é factível analisar cada uma dessas altcoins, existem muitas! Como eu faço para escolher?

– Já sei, vou comprar apenas as mais populares, pois elas provavelmente são as mais propensas a ter alguma chance de derrotar o Bitcoin.

– Mas as altcoins mais populares são muito caras. Talvez eu devesse comprar algumas dessas outras criptomoedas que estão apenas começando.

Muita gente acaba ficando pelo meio do caminho em algum desses cenários que descrevi acima. Por exemplo, conheço algumas pessoas que nunca compraram Bitcoin e simplesmente mineraram todos os Bitcoins que possuem. Eles gastam milhares de dólares em equipamento de mineração, mas jamais comprariam um Bitcoin no mercado. Também há aqueles que só compram Bitcoin e nunca chegam a olhar para as altcoins. Existem também aqueles que se protegem contra um fracasso do Bitcoin com simplesmente todas as altcoins disponíveis no mercado.

O ponto aqui é que esse padrão de busca pela melhor forma de tirar vantagem desta inovação progride em uma maneira previsível.

Contudo, pessoas diferentes são convencidas por coisas distintas.

Por que as pessoas compram altcoins?

A maioria das pessoas entra em alguma altcoin como uma forma de se proteger (fazer hedge) contra o Bitcoin. Listo abaixo algumas razões pelas quais alguém faz isso:

– Em caso de o Bitcoin ter algum tipo de falha catastrófica que a altcoin possa não estar sujeita.

– Uma altcoin pode ter alguma utilidade futura que é significativamente melhor que o Bitcoin, o que permitirá a altcoin ultrapassar o Bitcoin.

– Mesmo que o Bitcoin continue sendo a criptomoeda mais valiosa, ainda haverá espaço para que alguma altcoin sirva algum outro nicho de mercado e, assim, faça dela uma aposta válida.

Vamos analisar cada uma dessas três premissas.

Catástrofe do Bitcoin

Existem muitas formas como o Bitcoin poderia morrer catastroficamente. A primeira delas seria uma falha técnica (por exemplo, um bug que permitisse alguém roubar Bitcoins). A segunda delas seria uma falha econômica (por exemplo, uma mudança no código que desse instantaneamente 10 milhões de Bitcoins para alguém por alguma razão).

Uma falha técnica seria algo como uma vulnerabilidade na criptografia usada pelo Bitcoin ou alguma vulnerabilidade de segurança no código de consenso que pudesse ser explorada. Uma vulnerabilidade criptográfica (como um ataque inteligente contra a curva elíptica usada no Bitcoin) seria naturalmente válida e estendida para muitas outras criptomoedas, pois várias utilizam as mesmas cripto-bibliotecas. Uma vulnerabilidade de segurança também seria válida e estendida para várias outras criptomoedas, pois muitas utilizam o mesmo código.

Independentemente, vale a pena levantar a questão sobre quais seriam as consequências se algumas coisa nesse sentido ocorresse.

Primeiro, se a vulnerabilidade for encontrada de maneira rápida, o mais provável é que o código do Bitcoin seria corrigido e talvez uma atualização da rede (fork) seria feita muito rapidamente para reduzir a exposição a esta vulnerabilidade. Alguma coisa parecida já aconteceu antes e a realização de um fork foi exatamente a reação dada pela comunidade.

A questão mais interessante é: e se a vulnerabilidade for identificada muito depois? Muito provavelmente, isso provocará uma forte queda no preço não apenas do Bitcoin, mas também de praticamente todas as altcoins do mercado, porque a confiança geral em relação às criptomoedas seria abalada. Afinal, como poderíamos saber se uma vulnerabilidade ainda não detectada não pudesse também estar presente em cada uma das altcoins?

Uma falha econômica significaria alterações nas regras econômicas do Bitcoin. Isso nunca foi feito ou discutido. O que sabemos é que o Bitcoin exige um forte consenso para promover mudanças e algo desta natureza não pode ser feito sem o apoio de praticamente quase todos da comunidade, como os debates recentes sobre a escalabilidade da rede demonstraram. Tais catástrofes são geralmente evitadas a priori.

Dito isso, para prevenir falhas técnicas e econômicas é necessário um time de desenvolvimento talentoso, dedicado e confiável. É óbvio que este risco existe também nas altcoins e é importante pontuar que o Bitcoin é uma das poucas criptomoedas que possui uma proteção natural contra um desenvolvimento de programação precário que são os clientes alternativos (alternative clients).

Utilidade futura

A maioria das altcoins possui alguma diferença técnica comparada ao Bitcoin e ela é muitas vezes a razão pela qual as pessoas investem nessas criptomoedas. O racional é o seguinte: como essas altcoins têm praticamente a mesma utilidade do Bitcoin, além de algo a mais, essa moeda alternativa pode ser mais útil que o Bitcoin e consequentemente ultrapassá-lo.

De alguma forma, essas pessoas estão certas. Se tivermos muitas das mesmas propriedades técnicas, é claro que uma altcoin, hipoteticamente, existindo no vácuo poderia fazer as mesmas coisas ou até mais que o Bitcoin, se ele também estivesse no vácuo. Mesmo que os códigos-base sejam substancialmente diferentes, mas os princípios sejam muito similares, eles provavelmente teriam o mesmo efeito no vácuo.

Obviamente, não vivemos no vácuo e a existência do Bitcoin afeta a utilidade futura de uma altcoin. Uma propriedade que se mostre útil em determinada criptomoeda seria provavelmente adotada no Bitcoin em si de alguma forma ou de outra. Até agora, a maioria das propriedades que diferenciam as altcoins do Bitcoin não se mostrou tão útil e, por isso, não foi adicionada ao Bitcoin.

Caso alguma altcoin apresente uma utilidade, existem duas maneiras de o Bitcoin adicionar a mesma propriedade. A primeira delas é o Bitcoin em si adicionar essa característica. Um exemplo disso são as transações confidenciais que estão sendo propostas em uma cadeia paralela (sidechain) a do Bitcoin. Algumas propriedades, contudo, podem conflitar com os atuais casos de uso do Bitcoin. Por exemplo, o Bitcoin é uma excelente reserva de valor e propriedades que adicionem uma grande superfície de ataque não serão provavelmente adicionadas sem que haja uma justificativa realmente muito boa. É aí que vem a segunda forma de adicionar tal utilidade ao Bitcoin: os empreendedores podem adicionar funcionalidade similar enquanto lucram com isso.

Dado que o consenso é muito difícil de ser mudado, as inovações oriundas da ação dos empreendedores parecem ser muito mais prováveis de encontrarem um caminho para dentro do Bitcoin.

Em outras palavras, não apenas as altcoins precisam competir com o Bitcoin em si, mas elas também precisam competir com todos os empreendedores que buscam construir algo em cima do Bitcoin. Por isso, enquanto se proteger (ou fazer hedge) pode fazer sentido em alguns aspectos, o resultado mais provável é que o Bitcoin de uma forma ou de outra irá consumir outros casos de uso tornando inúteis quaisquer vantagens que uma altcoin possa vir a ter.

Uso em mercado de nicho

Certamente, muitas altcoins tentaram criar seus próprios nichos de uso. Dogecoin, por exemplo, foi construída para servir como forma de dar gorjeta (a outros usuários de Internet que produzam algum conteúdo, por exemplo) e também para transferir valor. A Ripple foi originalmente concebida como uma forma para facilitar a transferência de valores entre os bancos e grandes instituições financeiras.

A principal forma pela qual uma criptomoeda de nicho faz sentido é se ela puder fazer alguma coisa que o Bitcoin não consiga ou não irá fazer. O que o Dogecoin descobriu rapidamente é que dar gorjeta em Bitcoin é tão fácil quanto. Você pode argumentar que isso será um problema novamente devido as taxas de transação do Bitcoin e talvez que a Dogecoin tenha um papel a cumprir. Mas, para começar, dar gorjeta com Dogecoin nunca foi feito em cima da rede (on-chain), tampouco no caso do Bitcoin (changetip era um serviço centralizado). Se dar gorjeta na Internet voltar a ficar na moda, isso é algo que o ecossistema do Bitcoin pode facilmente fazer. No outro exemplo, se bancos querem transferir valor de um para o outro, isso pode ser feito com Bitcoin.

O uso de nicho é similar ao argumento da utilidade futura, exceto que é em menor escala e o mesmo argumento se aplica. Empreendedores têm todos os incentivos para trazer inovações similares e lucrativas para o Bitcoin, pois será possível trabalhar com sua base de usuários, que é muito maior que qualquer altcoin.

O que faz o Bitcoin ser diferente?

As principais vantagens do Bitcoin são seu efeito de rede e sua segurança comprovada. Ambas são quase imensuráveis.

O Bitcoin tem um caso de uso provado como reserva de valor. É instrutivo que a maioria das altcoins tentem criar alguma diferenciação baseada em casos de uso muito menores, como mercados preditivos, comprar coisas de forma completamente anônima ou adicionar um servidor descentralizado de domínios.

O Bitcoin tem uma larga liderança como reserva de valor em relação a qualquer outra altcoin devido ao fato de existir há quase nove anos sem fracassos. A segurança do Bitcoin tem sido provada muito mais que uma de suas contrapartes mais jovens, com seu uso excedendo, em quase qualquer métrica, aquele das altcoins.

Além disso, o Bitcoin é mais acessível, com mais corretoras, mais comerciantes, mais software e mais hardware que o suporta. O Bitcoin é muito mais líquido e apresenta volumes muito maiores que qualquer altcoin. O Bitcoin possui o maior ecossistema de desenvolvedores com mais software e mais implementações que qualquer altcoin. O Bitcoin possui a maioria de empreendedores criando companhias ao redor dele com muito intelecto, dedicação e criatividade sendo direcionada para torná-lo mais útil.

Quando você compete com o Bitcoin, você não está apenas competindo com a larga base de usuários dele, o time de desenvolvimento e a operação de mineração, mas também está competindo contra o maior ecossistema de startups, projetos de código aberto e empreendedores.

Um exemplo

Para deixar isso claro, imagine que eu crie uma altcoin que tenha como objetivo filtrar emails spam. Vamos chamá-la de SpamCoin. É uma moeda alternativa que o permite enviar uma mensagem a alguém apenas se você pagar algum SpamCoin. Vamos supor que isso realmente se torne útil e que muita gente comece a usar, tornando o Spam Coin mais valioso. O que aconteceria?

É improvável que o Bitcoin adicionaria as propriedades e características do SpamCoin diretamente (apesar de que com cadeias paralelas [sidechains], nem mesmo esta alternativa poderia ser descartada). Contudo, haveria uma grande possibilidade de algum empreendedor criar um serviço similar baseado no Bitcoin. Ele teria um base de usuários potencial muito maior para começar e não precisaria usar o SpamCoin. A barreira de entrada seria muito menor, a base de usuários maior, logo, no final, o novo serviço de Bitcoin poderia ter em si as vantagens do efeito de rede que o SpamCoin não teria.

Isso não quer dizer que o SpamCoin não poderia ser bem-sucedido, mas ele teria chances muito menores.

Conclusão

Este artigo não tem o objetivo de cravar que investir em altcoin é algo ruim. Cada investidor precisa avaliar sua própria relação de risco e retorno e decidir se aquilo é uma opção interessante para os seus objetivos. O que é claro é que altcoins não são, na verdade, uma boa forma de se proteger (fazer hedge) contra o Bitcoin. Muitos dos mesmos riscos existem nas altcoins e muitos dos retornos potenciais podem ser consumidos pelo Bitcoin.

É possível para alguma altcoin ultrapassar o Bitcoin, mas ela teria que mostrar primeiramente muito mais utilidade (presente, não futura) e ser capaz de crescer por si só para competir com a rede do Bitcoin, antes que o ecossistema do Bitcoin tivesse a chance de adicionar a mesma propriedade ou característica em sua rede.

Enquanto o Bitcoin se desenvolve, podemos esperá-lo crescer de maneiras inesperadas ao passo que novas utilidades são encontradas. Os detentores de Bitcoin podem esperar que a utilidade da tecnologia somente crescerá ao longo do tempo. Em contrapartida, os detentores de altcoins têm substancialmente mais risco de tal criptomoeda cair em desuso.

Em outras palavras, o Bitcoin já tomou a dianteira e tem um ecossistema e os recursos para competir com vantagens significativas. O Bitcoin tem duas coisas que o ajudam significativamente: estabilidade e empreendedorismo. Até agora, ambas vantagens são muito maiores que no caso das altcoins e tornarão a corrida pela liderança do mercado de criptomoedas muito mais desafiadora.

Leia mais sobre:
Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.