Por que o bilionário Ray Dalio prefere caixa a dívida?
“Por hora, acho dinheiro em caixa bom. Não quero possuir dívida, títulos, esse tipo de coisa”. A declaração não é de uma pessoa comum, mas sim do bilionário Ray Dalio, fundador da Bridgewater Associates, o maior fundo de investimentos hedge do planeta e não surpreende nem um pouco.
Ao falar caixa, o bilionário está se referindo a deixar os seus recursos em ativos de curto prazo e liquidez imediata do mercado monetário.
No Brasil, aplicações similares a esta são os fundos cash, ou fundos caixa. São fundos de investimento de baixo risco, não expostos a crédito corporativo privado, alta liquidez e rentabilidade próxima ao CDI.
Buscar este tipo de investimento tem sido uma tendência tanto no mercado internacional quanto no Brasil e o movimento está relacionado à relação assimétrica entre o risco e o retorno do crédito privado corporativo.
A saída dos fundos expostos a crédito privado foi mais intensa nos primeiros meses do ano por conta da crise de crédito que assolou as empresas, principalmente aquelas ligadas ao varejo.
As perdas dos fundos de renda fixa, tidos como porto seguro por milhões de cotistas, demonstraram o tamanho dos riscos a que os investidores estavam expostos.
Tais fundos, na maioria das vezes, são caros, com taxas altas de gestão e performance, justamente porque controlar crédito corporativo é trabalhoso, precisa de gente, sistemas e processos que, não raramente, nem a melhor estratégia de diversificação resolve.
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Uma parte relevante do ganho destes fundos, portanto, fica com a própria gestora. Não à toa, a indústria continua fazendo marketing e vendendo este tipo de produto para investidores não devidamente qualificados e desavisados.
Dados da Comdinheiro, referentes ao primeiro semestre, mostram que os fundos caixa brasileiros captaram R$ 23,37 bilhões, contrastando com a indústria como um todo que, segundo a Anbima, registrou mais resgates do que aportes e acumulou uma perda acima de R$ 200 bilhões em igual período.
A pesquisa analisou o desempenho de 128 fundos de investimentos, dos 25 mil existentes e, para chegar neste número, utilizou como métricas: volatilidade anualizada abaixo de 0,5%, número mínimo de 500 cotistas, além de zero exposição ao crédito privado.
A maioria dos fundos caixa está categorizada na renda fixa, mas existem cinco classificados como multimercados, como o Trópico Cash Plus FIM, que acaba de completar um ano de mercado e já acumula um patrimônio líquido de mais de R$ 210 milhões. No período, sua rentabilidade acumulada é de 110% do CDI.
Ao vermos o contraste entre o desempenho das captações dos fundos caixa e a renda fixa, fica claro que o investidor está mais seletivo, buscando opções no mercado que deem rentabilidade alinhada ao risco incorrido. Isso porque muitos foram machucados pelas perdas de patrimônio.
Para ilustrar, basta lembrar que, recentemente, 26 fundos de crédito com cerca de 3 milhões de cotistas tiveram perdas somente com a desvalorização dos títulos da Light.
Estes milhões de investidores foram pegos de surpresa, sofrendo as consequências dos riscos assimétricos assumidos pelos gestores, o que prejudica a confiança da indústria como um todo e tem levado à migração.
Pelo regulamento, os fundos DI e gestores têm autorização para alocar até 10% dos recursos em crédito privado corporativo.
Existem inúmeros fundos cujo portfólio costuma ter um duration muito maior que o prazo de resgate e são vendidos como produtos cujo risco é controlado pela diversificação, mas propositalmente não dão detalhes. Falam de risco estatístico e diversificação.
No entanto, na prática quando existe um problema, tais variáveis nunca são suficientes. No final, simplesmente a verdade é que não possuem transparência necessária e para os investidores alocarem seus recursos de curto prazo e dormirem tranquilos.
Olhando para o comportamento do mercado como um todo, a conclusão é de que não há nenhuma surpresa no fato de que o bilionário Ray Dalio prefira caixa à dívida. O que deveria surpreender é o tamanho da indústria de fundos expostos à dívida corporativa privada, que mal ou bem continua a atrair cotistas.