Câmbio

Dólar em disparada: Por que o Banco Central decidiu leiloar US$ 1,5 bilhão nesta sexta-feira (30)?

30 ago 2024, 11:24 - atualizado em 09 set 2024, 9:51
Trata-se da segunda intervenção da instituição no câmbio desde o início do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Imagem: Freepik)

O Banco Central vendeu 1,5 bilhão de dólares nesta sexta-feira (30) em leilão à vista da moeda norte-americana realizado entre as 9h30 e 9h35, segundo a autoridade monetária em comunicado.

Com apenas uma oferta, a operação teve diferencial de corte de 0,000170.

Trata-se da segunda intervenção da instituição no câmbio desde o início do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Até agora, o BC tinha entrado no mercado uma vez, em 1º de abril deste ano, ofertando 20.000 contratos de swap cambial (US$ 1 bilhão).

Durante o período da tarde, o BC fez mais uma operação. A autoridade monetária vendeu 15.300 contratos de swap cambial tradicional ( US$ 765 milhões), de um total de 30.000 contratos (1,5 bilhão de dólares) ofertados em operação extra realizada no mercado de câmbio.

A venda de swaps cambiais tem efeito equivalente à negociação de dólares no mercado futuro  — o segmento mais líquido no Brasil e, no limite, o que determina as cotações no mercado à vista.

Na avaliação de Matheus Spiess, analista da Empiricus, a medida não está diretamente relacionado ao dólar acima de R$ 5,60, embora possa ajudar a conter a volatilidade cambial.

Vale ressaltar que os dirigentes do Banco Central têm afirmado que a intervenção no câmbio só aconteceria em casos de alguma disfucionalidade do mercado.

Entre as recentes declarações, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que “o câmbio ser flutuante não significa que você nunca vai fazer intervenção, significa que vai atuar quando você acha que tem algum problema funcional no câmbio, ou porque está muito descolado dos fundamentos, às vezes por um tema de liquidez, às vezes tem um fluxo pontual que foi muito grande”, em evento do Santander na última quarta-feira (28).

Na semana passada, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípoloagora indicado pelo governo ao comando do BC a partir de 2025 — disse que a autoridade monetária chegou muito próximo a fazer uma intervenção no câmbio, mas considerou que uma atuação poderia ter efeito contraproducente.

“Nós cogitamos, debatemos e chegamos muito próximo de fazer uma intervenção no câmbio, porque a ideia de disfuncionalidade não diz respeito exclusivamente à métrica de falta de liquidez, mas também a descolamento dos pares e descolamento de fundamentos”, disse Galípolo.

“E por esses parâmetros a gente assistiu movimentos bastante relevantes, mas acho que era momento que, pela idiossincrasia, talvez uma intervenção pudesse ser contraproducente pelo sinal passado para o mercado.”

Vale lembrar que, no início do mês, o dólar chegou a R$ 5,7414, em meio a temores de uma recessão nos Estados Unidos.

Desde então, a moeda norte-americana tem operado bastante volátil, o que suscitou expectativas de eventuais intervenções cambiais.

Então, o que está por trás da decisão do BC?

Apesar das declarações recentes do dirigentes do BC, há, pelo menos, dois motivos para a medida realizada nesta sexta-feira (30).

Um deles é a previsão de fluxo de saída de capital com o rebalanceamento do índice EWZ (MSCI Brazil ETF), que passará a incluir ações brasileiras listadas no exterior, como XP e Nubank.

O outro fator é a volatilidade do câmbio para a formação da taxa Ptax de fim de mês, que serve de referência para a liquidação de contratos futuros no início de setembro.

Hoje, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o BC fará intervenções no câmbio sempre que necessário.

“A gente está tendo um movimento de fluxo atípico por um rebalanceamento de um índice… cabe ao BC mapear qual o tamanho desse desbalanceamento, quanto precisa para suprir esse fluxo que é atípico, e a gente também está olhando a diferença do que a gente entende que é um descolamento muito grande dos fundamentos, às vezes por critério de liquidez, às vezes por ruídos de curto prazo”, afirmou Campos Neto durante a Expert XP — evento realizado pela XP Investimentos.

“A gente está mapeando, se for preciso mais intervenções, assim faremos.” Ele ainda disse que o BC tem reservas suficiente para fazer intervenções cambiais quando for necessário.

O que também mexe com o dólar hoje?

Ainda que o leilão do BC tenha certo impacto no câmbio, o dólar operou em forte alta nesta sexta-feira (30).

A moeda norte-americana renovou máxima intradia a R$ 5,6919 (+1,22%) e encerrou o pregão a R$ 5,6350 (+0,21%). 



O movimento acompanha o desempenho da divisa no exterior. O indicador DXY, que compara o dólar a uma cesta de seis moedas fortes, avança 0,15%. Mais cedo, o índice chegou a subir 0,30% após a divulgação de dados de inflação nos Estados Unidos.

O Índice de Preços de Gasto com Consumo (PCE, na sigla em inglês) avançou 0,2% no mês de julho, em linha com o esperado. Na comparação anual, o PCE foi a 2,5%, levemente abaixo do previsto, mas acima da meta de 2% perseguida pelo Federal Reserve (Fed).

Após o dado, o mercado reforçou a expectativa de que o Fed inicie o ciclo de afrouxamento monetário nos Estados Unidos com um corte de 0,25 pontos-base nos juros em setembro.

Segundo a ferramenta FedWatch, do CME Group, as chances de corte de menor magnitude, que levaria os juros norte-americanos a faixa de 5,00% a 5,25% ao ano, são de 69,5%. Ontem (29), a probabilidade era de 66%.

Já as apostas de redução de 50 pontos-base, o que traria os juros ao intervalo de 4,75% a 5,00%, caíram de 34% (ontem) para 30,5% hoje após o dado de inflação.

O Fed se reúne entre os dias 17 e 18 de setembro.

No cenário doméstico, o mercado precifica uma piora do déficit público.

O setor público consolidado registrou déficit primário de R$ 21,3 bilhões em julho, pior que o esperado pelo mercado.

Em 12 meses, o primário consolidado foi de um déficit de 2,4% em junho para um déficit de 2,3% do PIB em julho, sendo uma queda de 2,4% no governo central de acordo com a definição do BC e alta de 0,1% nos estados, municípios e estatais.

Na avaliação do Itaú BBA,  a arrecadação tem se mostrado forte, mas os riscos fiscais continuam elevados, considerando o crescimento de gastos obrigatórios acima do limite definido no arcabouço fiscal e a dificuldade em obter uma trajetória de convergência de resultados primários.

“Com os dados preliminares indicando uma nova surpresa altista nos gastos com Previdência em julho e agosto em relação ao esperado pelo governo, será fundamental um novo bloqueio de despesas no relatório bimestral de setembro para garantir o cumprimento do limite de despesas em 2024”, escreve o economista Thales Guimarães, em relatório.

Além disso, o sumário executivo do Projeto de Lei Orçamentária de 2025 será divulgado hoje.

Nos bastidores do Congresso, o acordo sobre emendas continua a gerar tensão, enquanto o debate sobre a sucessão na presidência da Câmara ganha força — Elmar Nascimento (União Brasil-BA) é o nome mais cotado, mas atual presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), ainda não anunciou quem apoiará.

 

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Jornalista formada pela PUC-SP. É repórter do MoneyTimes e já passou pela redação do Seu Dinheiro e setor de análise politica da XP Investimentos.
liliane.santos@moneytimes.com.br
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