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Por que Nova York tem atraído mais IPOs de empresas brasileiras?

28 nov 2019, 22:03 - atualizado em 28 nov 2019, 22:03
Fortalecer a posição como empresa de tecnologia e até mesmo ter acesso às chamadas ações “superordinárias” também são decisivas quando uma companhia opta por fazer IPO (Nasdaq/Facebook)

Por Paula Salati/Investing.com

Busca por maior captação de recursos e aumento na base de investidores, clientes e fornecedores são alguns dos atrativos que têm levado empresas nacionais a abrirem capital nas bolsas de Nova York (EUA).

Fortalecer a posição como empresa de tecnologia e até mesmo ter acesso às chamadas ações “superordinárias” (Super ON) também são decisivas quando uma companhia opta por fazer IPO.

Essa é uma tendência que deve se fortalecer nos próximos anos. Após Stone, PagSeguro (PAGS), Arco Educação, Afya e, mais recentemente, a XP Investimentos, a Cogna anunciou que pretende fazer IPO da Vasta Educação nos EUA, já no início de 2020.

Claudia Yoshinaga, professora da FGV EAESP, diz que ter acesso a um mercado muito mais amplo de investidores é o que mais pesa na hora de decidir abrir capital.

“Apesar do crescimento recente de investidores individuais [pessoa física] na bolsa no Brasil, a base de investidores nos EUA é muito mais ampla, tanto individuais, como institucionais”, afirma Yoshinaga.

“Você tem uma capilaridade muito maior estando lá fora, não só por conta da quantidade de investidores, como também pelo potencial de aumento de clientes e de fornecedores”, ressalta a professora.

Ter acesso a mais fornecedores, por sua vez, também é importante para quem quer fortalecer a sua posição como empresa de tecnologia. Nasdaq e NYSE, por exemplo, são hoje fortemente conhecidas por abrigarem grandes companhias do segmento.

A XP, inclusive, trabalha para abrir o seu banco digital, o Banco XP. Em outubro deste ano, o Banco Central (BC) do Brasil já autorizou, inclusive, a corretora a operar o banco, cuja sede será no Rio de Janeiro.

Sede da XP Investimentos
“A XP é uma empresa que vem crescendo muito e, talvez, ela poderia dificuldade de ter acesso a investidores institucionais de outros países se abrisse capital no Brasil”, afirma o analita Alberto Amparo (Imagem: XP Investimentos/Divulgação/Facebook)

Capilaridade

Ainda sobre o leque de investidores, Alberto Amparo, que é analista da Suno Research, aponta que, enquanto 55% da população dos EUA investe em ações de empresas listadas nas bolsas, no Brasil, esse percentual é ainda de 0,7%.

A base mais ampla de investidores é, inclusive, um dos motivos pelos quais as avaliações das empresas (valuation) costumam ser mais altas nos EUA, já que, quanto mais investidor, maior demanda e, portanto, maior o preço.

“A XP, por exemplo, é uma empresa que vem crescendo muito e, talvez, ela poderia dificuldade de ter acesso a investidores institucionais de outros países se abrisse capital no Brasil. A burocracia para se investir aqui no país é muito grande”, diz Amparo.

Sobre este assunto, o diretor de Relacionamento com Clientes da B3 (B3SA3), Felipe Paiva, diz que a precificação acaba mesmo sendo decisiva na hora da empresa escolher onde fazer IPO.

“Como sempre mencionamos, estamos inseridos em um cenário de competição global. Em alguns casos, a precificação da oferta em determinados segmentos – como no caso de empresas de tecnologia – é um dos fatores cruciais para a tomada de decisão da companhia”, afirma Paiva.

Contudo, Paiva ressalta que a B3 está trabalhando junto a reguladores para permitir o processo de dupla listagem e emissão de BDRs de companhias brasileiras que optam por abrir capital no exterior.

“Vivemos um momento extremamente favorável para o mercado de capitais brasileiro, com uma demanda doméstica cada vez maior e um número recorde de ofertas públicas em 2019”, diz Paiva.

Super ON

O analista da Suno aponta ainda que a possibilidade de emitir ações “superordinárias” também atrai empresas para o exterior. Esse tipo de ação dá ao investidor direito a mais votos do que o normal.

Em um exemplo hipotético, um acionista de uma “Super ON” de uma determinada empresa pode ter direito a cem votos, enquanto um outro investidor de uma ON normal da mesma companhia teria direito somente a um voto.

Essa é uma forma das companhias conseguirem aumentar a sua captação de recursos, sem perder o controle da empresa.

Sobre isso, Felipe Paiva, da B3, diz que a bolsa tem estudado a viabilidade da “Super ON” no Brasil, assim como a facilitação do às BDRs para investidores com menos de R$ 1 milhão. “Esse assunto está sendo endereçado junto a reguladores por meio de um grupo de trabalho chamado IMK”, diz Paiva, se referindo à sigla Iniciativa de Mercado de Capitais.

Crescimento dos Follow Ons no Brasil

O número de empresas que fecharam capital na bolsa nos últimos anos foi grande, porém os follow-ons ganharam tração em 2019.

Segundo dados da B3, até setembro de 2019, havia 328 empresas listadas na bolsa, o que significa uma queda de 3,8% em relação a dezembro do ano passado (341).

Contudo, o volume de follow-ons tem sido expressivo este ano. Enquanto em 2018, essas operações chegaram a R$ 4,43 bilhões, em 2019, esse volume está próximo de R$ 70 bilhões, considerando os que já foram feitos e os anunciados.

B3 Mercados
Um estudo mostrou que, enquanto no mercado brasileiro, os custos variam, em média, entre 2,5% e 5,6% do valor total da oferta, nos EUA, esses gastos variam entre 4% e 11,7%(Imagem: B3/Youtube)

Segundo Felipe Paiva, a tendência para o próximo ano é de crescimento dos follow ons e IPOs. “A combinação de juros baixos e redução da participação do financiamento via bancos públicos tem se mostrado uma combinação poderosa no processo de busca de recursos no mercado de capitais por parte das companhias brasileiras”, afirma Paiva.

“Não podemos fazer projeções, mas sabemos que há outras companhias na fila para o IPO e, em uma conjuntura econômica favorável, estamos confiantes em novas ofertas no curto e médio prazo”, conclui.

Custos dos IPOs no Brasil e nos EUA

No início de 2019, a PwC divulgou alguns dados sobre os custos de abertura de capital no Brasil, em comparação com o que acontece nos EUA. O estudo mostrou que, enquanto no mercado brasileiro, os custos variam, em média, entre 2,5% e 5,6% do valor total da oferta, nos EUA, esses gastos variam entre 4% e 11,7%.

As despesas envolvidas neste processo são, geralmente, honorários dos bancos subscritores e dos escritórios de advocacia e contabilidade; custos de impressão taxas de registros; custos com auditoria, laudos de avaliação, impostos e com reestruturação da empresa para se adequar às normas de uma companhia aberta; gastos para elaborar novos contratos sociais, regulamentos do comitê de auditoria, estatutos sociais e outros acordos.

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