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Por que o Lollapalooza 2022 traz esperança para os negócios criativos

26 mar 2022, 9:00 - atualizado em 25 mar 2022, 19:08
Lollapalooza 2020 acontece na última semana de março em São Paulo
Festival de negócios: Lollapalooza 2022 deve movimentar R$ 100 milhões, lembra Anderson Gurgel (Imagem: Facebook/ Divulgação/ Lollapalooza)

Foi nas cinzas do carnaval de 2020 que o mundo do entretenimento cultural deparou com a realidade da pandemia da Covid-19. Após o período momesco, que foi gigante em termos de blocos, desfiles e movimentações de negócios, surgiram a realidade do afastamento social, o medo das aglomerações e a necessidade do cancelamento generalizado de projetos, eventos e espetáculos na indústria da cultura.

É unânime no segmento que foi um período duro para profissionais da área. Muitos artistas, produtores e agentes de várias frentes da cultura e do entretenimento passaram por dificuldades, inclusive financeiras. Mas também foi um período de muita superação, criatividade e cooperação. Um dos símbolos desse período foi a explosão das lives de shows, muitas patrocinadas e outras tantas até envolvendo campanhas de arrecadação de fundos.

Esse é o contexto em que a realização do Lollapalooza Brasil 2022 precisa ser comentado. Na prática é uma das primeiras oportunidades para o que a indústria da cultura e do entretenimento musical tente uma retomada com força total.

Cinemas, teatros e shows já estão acontecendo há bastante dentro do que se chama de “novo normal”, em termos de regras sanitárias e formatos. Entretanto, as autoridades vinham proibindo e/ou desestimulando grandes eventos e grandes aglomerações. Foi assim que o Carnaval 2022 foi desmarcado como festa popular de rua e os desfiles das escolas de samba foram parar em abril. Taí um assunto interessante para outra coluna.

Contudo, no contexto do parágrafo anterior, o festival de música que se realiza em São Paulo de 25 a 27 de março, no Autódromo de Interlagos, é um marco nessa retomada, ainda mais com a flexibilização no uso de máscaras em ambientes abertos e fechados e a permissão de aglomerações.

A tendência é que, se a retomada da vida social e do calendário de eventos, feiras e negócios criativos for sustentável, a economia criativa nesses setores ganha um novo fôlego e a expectativa de muitas novidades vindo por aí.

Lollapalooza é exemplo de articulação entre cultura e consumo

Ter o Lollapalooza como um símbolo dessa retomada faz sentido quando se olha o festival de música para além do seu conteúdo musical, buscando um foco em negócios. Segundo a SPTuris, o evento deve movimentar mais de 100 milhões de reais, com a sua realização.

Anitta participará do Lollapalooza 2022, em São Paulo
Diversidade: uma das atrações do Lolla 2022, Anitta é a primeira artista brasileira a emplacar no topo do Spotify global (Imagem: Facebook/ Divulgação/ Anitta)

Tentar mapear esses números é perceber uma faceta da economia criativa acontecendo em tempo real e ao vivo. Pelo levantamento do órgão municipal de turismo, cerca de metade do público do evento vem de fora de São Paulo, o que já mostra a capacidade dele em conectar música com outros setores criativos e de áreas correlatas.

O turista que vem ao Lolla, como os participantes carinhosamente chamam o festival, vão gastar em média, 1,6 mil reais, com hospedagem, com deslocamentos de viagem, alimentação, compras e muitas outras atividades culturais.

Numa cidade que “ferve” com o caldo cultural, como é o caso de São Paulo, vir para o festival permite também compor combos de cultura e consumo. Isso faz ser bastante comum, ao falar com participantes de fora do evento, ouvir depoimentos sobre visita a museus e exposições com a do Portinari, no Mis Experience, passagem por restaurantes e bares badalados da cidade, com o Bar do Cofre ou dos Arcos, ambos no centro da cidade. Ainda é comum, também, encontrar depoimentos sobre visitas a pontos turísticos e rooftops para se fotografar na ex-cidade da garoa, mas que continua dormindo pouco.

Enquanto no Lollapalooza 2022 desfila vários artistas e grupos musicais, atualmente expoente no cenário da música internacional, o evento também é palco da diversidade, dando espaço para artistas icônicos do novo cenário cultural, com a Pablo Vittar e também Anitta – que, cabe ressaltar, nos dias do evento, alcançou um feito importante: tornou-se a personalidade musical brasileira que, pela primeira vez, colou a música e a cultura brasileira em primeiro lugar de audiência no Spotify global. Este é o assunto bom para se retomar em outra coluna.

Para deixar bem claro, o Lollopalooza em si e todo esse entorno de conexões culturais, criativas e de consumo são veias da economia criativa atual. E estão pulsando.

Por hora, seja no Lolla ou em eventos musicais mais intimistas ou, ainda, em casa mesmo, ouvindo música em aplicativos como Spotify, Deezer entre outros, vale comemorar a volta da efervescência cultural e torcer para que ela tenha voltado para ficar. Cantar é maravilhoso e, sem máscara, é melhor ainda.

Anderson Gurgel é jornalista de economia, negócios e marketing, professor universitário da Universidade Presbiteriana Mackenzie e do Centro Universitário belas Artes, além de pesquisador, consultor e produtor de conteúdo. Conectando todas essas várias frentes de ação estão os negócios criativos, do entretenimento e do esporte, segmentos que o profissional vem se dedicando ao longo dos quase 25 anos de vida profissional. É autor de livros, produtor de eventos e já ganhou alguns prêmios, sendo um destaque a Menção Honrosa em 2019 pela Universidade Presbiteriana Mackenzie pela atuação na área de inovação na educação.

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