Money Times Entrevista

Esta estatal árabe investiu bilhões no Brasil (e não quer parar, mesmo com piora do cenário)

08 jan 2025, 7:00 - atualizado em 08 jan 2025, 10:28
Rodrigo Torres, brasileiro que está à frente do cargo de CFO da companhia (Imagem: Divulgação)

Considerado um país pacifico e distante dos grandes conflitos que atormentam o mundo, como a Guerra na Ucrânia ou o Oriente Médio, o Brasil chamou a atenção da estatal de armamento dos Emirados Árabes Edge Group.

Criada em 2019, o grupo reúne hoje mais de 40 empresas de alta tecnologia e defesa e investe aqui desde 2023 — foi o primeiro país fora dos Emirados a receber investimentos.

Nos últimos meses, o Edge Group aportou mais de R$ 3 bilhões.

Esse número engloba a compra de 50% da SIATT (sigla para Sistemas Integrados de Alto Teor Tecnológico), empresa brasileira especializada em armas inteligentes e sistemas de alta tecnologia, com sede em São José dos Campos, interior de São Paulo, e a Condor Não Letais, no Rio de Janeiro.

O valor também inclui investimentos em outros projetos com a Marinha do Brasil de monitoramento da costa marítima e fabricação de mísseis antinavio de longo alcance e mísseis supersônicos.

Em entrevista ao Money Times, Rodrigo Torres, o CFO da companhia, afirmou que país reúne algumas vantagens. A primeira delas são empresas produtivas, eficientes, e competitivas na área de defesa.

Atualmente, o país conta com um polo tecnológico em São José dos Campos, onde estão companhias como a Embraer (EMBR3), além do ITA, Instituto Tecnológico de Aeronáutica, considerado um dos centros de educação mais avançados do Brasil.

“A ideia do Brasil é virar um foco para a América Latina. Internacionalmente, o nosso foco e objetivo é sempre a América Latina, a África e o Sul da Ásia. Temos visto com bons olhos esse desenvolvimento nesses lugares”, explica.

Mais investimentos?

Torres diz que o Brasil conta com um ambiente político e fiscal complexo.

Nas últimas semanas, o dólar disparou para R$ 6, enquanto a Selic, a taxa básica de juros, pode ultrapassar 15%, uma deterioração que ocorreu em pouco menos de três meses.

Mesmo assim, o executivo afirma que o país tem ambiente industrial, produtivo e de eficiência que compensam o risco.

“O ambiente é um pouco hostil quando vamos para o lado de fiscal ou político, mas é um ambiente excelente se você quer ter ganho de produtividade, ganho de escala, logística. Então, de novo, vemos o Brasil com excelentes olhos nesse sentido”.

Edge Group
“É uma empresa realmente de defesa, mas é uma empresa que é um pouco diferente das outras, onde o foco é talvez menos na parte convencional e mais na parte de tecnologia” (Imagem: Divulgação)

Questionado se a empresa pretende investir mais no país, Torres afirma que enxerga novas oportunidades.

“Vamos continuar analisando investimentos no Brasil? Acredito que sim, e que os investimentos continuarão na mesma magnitude. É importante destacar que os investimentos são sempre avaliados com foco no longo prazo”.

Veja a entrevista completa abaixo:

Money Times: O que é a Edge?

Rodrigo Torres: A empresa tem cerca de quatro anos, foi lançada em 2019, e foi uma fusão ou uma conglomeração das empresas de defesa que existiam nos Emirados.

Então, essas empresas têm histórico diferente. A Edge Group, como empresa total, tem quatro anos, mas as outras empresas têm um legado bem maior, com mais tempo de histórico. Essas empresas se fundiram, cerca de 25 empresas, há quatro anos.

A ideia inicial era aumentar a soberania de defesa dos Emirados.

Mas, com o progresso obtido nos últimos quatro anos, principalmente com as aquisições internacionais que começaram a ser feitas, viu-se também um grande interesse na internacionalização da empresa. Assim, a empresa vem de um foco talvez mais doméstico e agora busca a internacionalização.

Money Times: Por que o Brasil?

Rodrigo Torres: Porque o Brasil uniu alguns pontos, ou vários pontos, que eram mais interessantes do que outros países. Então, primeiro, estabelecer parcerias estratégicas com empresas.

Apesar do Brasil, não ter tanto interesse em armamentos, o país desenvolveu empresas muito produtivas, eficientes e competitivas na área de defesa.

Segundo, o desenvolvimento de supply chain, o desenvolvimento de fornecedores, logística, etc., e que hoje em dia o Brasil é bastante utilizado para isso.

Terceiro, obviamente, a parte comercial. O foco principal é a defesa, com contatos e parcerias significativas com a Marinha do Brasil, por exemplo, mas também na área de law enforcement, proteção e aplicação de leis.

Essa área também tem sido desenvolvida significativamente em parceria com estados no Brasil, e a ideia é que o Brasil se torne um foco estratégico para a América Latina.

Money Times: Como veem o ambiente de negócios no Brasil?

Rodrigo Torres: A nível de ambiente de negócios, obviamente, é um ambiente extremamente desafiador. É um ambiente complexo, com um sistema fiscal bem intrincado e também com desafios políticos.

Por outro lado, existe um ambiente industrial, produtivo e de eficiência muito favorável.

Um exemplo disso são as empresas adquiridas no Brasil.

A SIATT é uma empresa que desenvolve um míssil extremamente tecnológico, capaz de competir a nível dos padrões europeus, com um orçamento extremamente baixo. Essa produtividade foi alcançada com o know-how adquirido no ITA, entre outros fatores.

Outro exemplo é a Condor, que começou como uma empresa pequena e hoje exporta para mais de 85 países, com um enorme know-how e uma capacidade industrial considerável.

Portanto, apesar de o ambiente ser um pouco hostil em termos fiscais e políticos, é excelente para quem busca ganhos de produtividade, escala e logística. Assim, o Brasil é visto com ótimos olhos nesse aspecto.

Money Times: A alta do dólar e a perspectiva de alta dos juros atrapalharam o planejamento?

Rodrigo Torres: Não, não interfere em nada, por enquanto.

Obviamente, não é agradável observar a situação econômica que tem ocorrido no Brasil, de certa maneira, mas em termos de impacto na revolução que está sendo realizada no Brasil e nos planos traçados, isso não afetou em nada.

A ideia é continuar crescendo no Brasil, ampliando as parcerias e fortalecendo o bolo exportador. Talvez até o dólar ajude um pouco, apesar de que muito material é importado, mas essa é a estratégia.

Embora essa situação não cause grandes impactos diretos, não é confortável presenciar essa realidade no Brasil, especialmente sendo brasileiro.

Money Times: Tem alguma expectativa de investir mais aqui no país?

Rodrigo Torres: Sim, o investimento continua, e outras oportunidades estão sendo analisadas. No entanto, nada pode ser especificamente comentado agora, pois ainda está em fase inicial. Atualmente, o grande foco é a integração dos investimentos já realizados.

Há, por exemplo, a construção de uma fábrica em São Paulo pela SIATT, destinada à produção de mísseis, e a ideia de construir outra fábrica para a Condor, também em São Paulo. O objetivo é integrar esses ativos de maneira eficiente e elevá-los a um novo patamar.

O importante é observar como a evolução tecnológica e a evolução industrial do Brasil continuam de maneira adequada em termos de investimento.

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Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
renan.dantas@moneytimes.com.br
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