Dólar

Por que dados de emprego dos EUA assustam tanto o dólar, que dispara quase 3% na semana?

06 out 2023, 12:43 - atualizado em 06 out 2023, 13:14
dólar moedas câmbio
Dólar avança mais de 6% em apenas 13 pregões e sobe quase R$ 0,40 no período; Fed foi o gatilho para salto (Imagem: Pixabay/Kalhh)

dólar à vista chegou a disparar mais de 1% no pregão desta sexta-feira (06) e visitou um território não visto desde março deste ano com investidores assustados com os dados de emprego dos Estados Unidos.

O relatório do mercado de trabalho americano (payroll) veio mais forte que o esperado, no qual foram criadas 336 mil vagas em setembro, contra a projeção de analistas de 170 mil novas vagas.

O dado foi divulgado às 9h30 (de Brasília) e assim, a moeda norte-americana bateu a máxima do dia, de R$ 5,22. Maior valor também desde o pregão de 27 de março.

No entanto, passado o impacto dos números, por volta das 12h45, o dólar perdeu força e passou a cair 0,2% frente ao real, cotado a R$ 5,15 para venda, nas mínimas do dia.

Enquanto o contrato futuro com vencimento em novembro seguia em alta, de 0,1%, a perto dos R$ 5,19. Lá fora, o Dollar Index (DXY) também inverteu para queda, de 0,1%, aos 106,1 pontos.

Contudo, a divisa estrangeira caminha para a terceira alta semanal, no maior desempenho percentual desde o fim de julho, com avanço de 2,6% entre segunda-feira e hoje.

Por que o dólar se assusta tanto com o payroll?

“Entramos naquele período ‘mágico’ do mercado financeiro que quanto melhor as notícias econômicas, pior é para o preço dos ativos”, comenta o economista e consultor André Perfeito.

No começo da semana, o relatório de emprego Jolts, de agosto, apontou que foram abertas 9,6 milhões de vagas de trabalho nos Estados Unidos, acima do esperado, de 8,9 milhões.

O dado foi o suficiente para azedar o mercado e fazer os rendimentos dos títulos norte-americanos (treasuries) manterem a trajetória de alta, chegando aos maiores níveis desde 2007. Aqui, o dólar saltou quase 2% e foi a R$ 5,15.

Na leitura dos analistas, os dados de trabalho cada vez mais fortes sustentam a tese que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) manterá os juros em patamares mais altos por mais tempo. Hoje, a taxa por lá está no intervalo de 5,25%-5,50%.

Além do Jolts, na quarta-feira, foi divulgado o relatório ADP, que é visto como uma prévia dos números do payroll. O setor privado americano criou 89 mil postos de trabalho no mês passado. Entretanto, dado abaixo das expectativas de 160 mil novas vagas.

Porém, o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, lembra que o payroll e o ADP têm uma certa correlação, mas não necessariamente andam sempre juntas.

“De todo modo, o dado divulgado hoje é preocupante porque o mercado de trabalho continua forte. O Fed precisa de mais sinais de arrefecimento desse segmento para ter segurança nos próximos passos da política monetária. O juro deverá se manter no patamar atual até o fim do ano e cortes devem demorar a acontecer”, comenta.

Treasuries pressionadas, moeda em alta

O sócio da Davos Investimentos, Marcelo Boragini, reforça que os dados do payroll trazem em uma notícia mais pessimista para o mercado. Sendo assim, as treasuries de 10 anos – referência para o mercado financeiro – tendem a disparar.

“Há uma expectativa de que possam atingir 5%. Naturalmente, o Fed terá que elevar as taxas de juros”, comenta. No horário acima, o rendimento (yield) do título de 10 anos (T-Note) estava perto de 4,8%, mantendo-se em níveis elevados.

Na visão do economista-chefe da Nomad, Danilo Igliori, a aceleração nas contratações nessa magnitude é um dos elementos que ajudam a aumentar as incertezas sobre o tão aguardado “pouso suave” do BC americano.

“O temor é de que juros altos por tempo indeterminado na principal economia do planeta vão gerar impactos para todos os lados e não sabemos ainda mapear com precisão onde estão as maiores fragilidades”, avalia.

Todavia, Perfeito pondera que a tempestade para as treasuries e para o dólar deve passar no próximo mês. Sendo assim, segundo ele, uma vez passado todo o ajuste na curva de juros americanos, alguns fundamentos podem voltar a fazer preço na divisa estrangeira.

“No caso do Brasil, do ponto de vista macroeconômico, muito está encaminhado no curto prazo. Logo, o real pode se apreciar até o fim do ano”, diz, apontando em uma taxa de câmbio a R$ 5,00 ao fim de 2023.

Passada a semana dos dados de emprego, o gerente da mesa de operações da StoneX, Marcio Riauba, lembra que na semana que vem os números de inflação do Estados Unidos (CPI, na sigla em inglês) pautarão os mercados. E claro, os próximos passos do Fed.

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