Política

Por que Bolsonaro ainda minimiza importância das quarentenas

30 mar 2020, 21:22 - atualizado em 30 mar 2020, 21:22
Jair Bolsonaro
Uma das razões que sustentam a teoria de Bolsonaro: ele está no centro de um foco de Covid-19 há três semanas e ainda se sente bem (Imagem: Reuters/Ueslei Marcelino)

Durante a crise de coronavírus, que já matou 35 mil pessoas no mundo todo, Jair Bolsonaro tem realizado reuniões presenciais e pressionado brasileiros a voltar ao trabalho.

Não é um cálculo político. O presidente de fato acredita que a maior ameaça ao Brasil são as consequências econômicas, e não o próprio vírus, segundo duas autoridades próximas a ele.

No domingo, Bolsonaro circulou por Brasília, onde conversou com grandes grupos de pessoas enquanto visitava lojas, restaurantes e mercados de rua.

“Bolsonaro é um homem muito intuitivo e essa intuição o levou à presidência”, disse o senador Major Olímpio, que conhece Bolsonaro há anos e teve papel importante na eleição de 2018. “Ele não se preocupa com divergências porque ele sempre viveu da divergência.”

Uma das razões que sustentam a teoria de Bolsonaro: ele está no centro de um foco de Covid-19 há três semanas e ainda se sente bem.

“Depois da facada, não é uma gripezinha que vai me derrubar”, disse Bolsonaro dias atrás ao encerrar uma coletiva de imprensa. No domingo, em seu passeio por Brasília, disse a repórteres: “Essa é uma realidade, o vírus tá aí. Vamos ter que enfrentá-lo, mas enfrentar como homem, não como um moleque. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida.”

“Todos nós iremos morrer um dia”, acrescentou.

Aumento dos casos

Embora o coronavírus tenha demorado a avançar no Brasil, os casos aumentam e especialistas em saúde alertam que o presidente pode ter perdido um tempo precioso para preparar o país.

Muitos profissionais da área médica – e até o próprio ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta – concordam que o sistema público de saúde sofreria um colapso se as infecções acompanharem a explosão em outras partes do mundo.

Embora o coronavírus tenha demorado a avançar no Brasil, os casos aumentam e especialistas em saúde alertam que o presidente pode ter perdido um tempo precioso para preparar o país (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

“Defender que as escolas continuem funcionando num país em que é muito difícil isolar crianças de idosos representa um grande risco”, disse Vivian Avelino-Silva, infectologista e pesquisadora do Hospital Albert Einstein. “Não compreender isso, após semanas de crise, é preocupante.”

“Depois da facada, não é uma gripezinha que vai me derrubar”, disse Bolsonaro dias atrás ao encerrar uma coletiva de imprensa. No domingo, em seu passeio por Brasília, disse a repórteres: “Essa é uma realidade, o vírus tá aí. Vamos ter que enfrentá-lo, mas enfrentar como homem, não como um moleque. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida.”

“Todos nós iremos morrer um dia”, acrescentou.

Aumento dos casos

Embora o coronavírus tenha demorado a avançar no Brasil, os casos aumentam e especialistas em saúde alertam que o presidente pode ter perdido um tempo precioso para preparar o país.

Muitos profissionais da área médica – e até o próprio ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta – concordam que o sistema público de saúde sofreria um colapso se as infecções acompanharem a explosão em outras partes do mundo.

“Defender que as escolas continuem funcionando num país em que é muito difícil isolar crianças de idosos representa um grande risco”, disse Vivian Avelino-Silva, infectologista e pesquisadora do Hospital Albert Einstein. “Não compreender isso, após semanas de crise, é preocupante.”

Bolsonaro não é o único chefe de Estado que pressiona para que as pessoas voltem ao trabalho. E ainda pode reverter sua postura como outros líderes o fizeram.

No fim de semana, o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador disse que os cidadãos deveriam fazer compras em mercados públicos para apoiar pequenas empresas.

O presidente dos EUA, Donald Trump, também está ansioso para reabrir a economia, embora tenha recuado em tomar a medida até a Páscoa, atendendo aos conselhos dos principais médicos do governo dos EUA.

Bolsonaro também tomou medidas para liberar fundos para combater a crise e reforçar o sistema público de saúde. A pandemia foi declarada estado de calamidade, o que permite ao governo gastar além do estipulado no orçamento federal, além de transferir verbas para os estados, ajudar companhias aéreas e oferecer vales a trabalhadores informais.

Bolsonaro também entrou em conflito com governadores que ordenaram o fechamento de lojas e escolas para conter a pandemia e não sobrecarregar o sistema de saúde (Imagem: Reuters/Amanda Perobelli)

Aposta de alto risco

Mas, ao desafiar o conselho do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e de outros especialistas para buscar o distanciamento social, Bolsonaro faz uma aposta arriscada, que pode ser o momento decisivo de seu mandato. Segundo pesquisas recentes, na avaliação dos brasileiros o ministro da Saúde está lidando com a crise melhor do que o presidente.

Bolsonaro também entrou em conflito com governadores que ordenaram o fechamento de lojas e escolas para conter a pandemia e não sobrecarregar o sistema de saúde. O estado de São Paulo, epicentro do surto no país, implementou algumas das medidas mais rigorosas.

“O presidente Bolsonaro não tem identidade com a classe política no Brasil”, disse o deputado Marco Feliciano, vice-líder do governo no Congresso. “É daí que surgem os conflitos.”