Por que as taxas de juros no Brasil são tão altas?
Ao longo dos anos, o Brasil tem se destacado consistentemente como um país com taxas de juros elevadas. Esta característica não apenas atrai atenção global, mas também é motivo de debates em diversas camadas e contextos da sociedade, desde círculos acadêmicos até conversas informais entre amigos.
As elevadas taxas de juros no Brasil trazem consigo várias implicações práticas que afetam profundamente a economia e a vida das pessoas.
Esse fenômeno impacta a capacidade de financiamento de negócios e indivíduos, influencia o desenvolvimento do mercado aberto e fechado de participações e molda os incentivos para investimentos de risco, pois trata-se do custo de oportunidade de manter os recursos em aplicações de renda fixa tidas como investimentos “livre de risco”.
Neste artigo, utilizamos dados disponíveis para explorar a realidade por trás das altas taxas de juros no Brasil, buscando oferecer uma visão abrangente sobre como essa característica influencia a economia do país e o cotidiano dos brasileiros.
Nesse sentindo, listamos algumas das causas desse elevado custo de crédito:
- Baixa taxa de recuperação de créditos (em Centavos por Dólar): Nesta métrica específica, o Brasil recupera aproximadamente 18,2 centavos para cada 1 dólar emprestado dos créditos em situação de estresse. Essa taxa é comparável à de países como Zimbábue e fica abaixo de nações como Vietnã,
Panamá, Bangladesh e também de nossos vizinhos, Peru, Argentina e Paraguai. O Brasil recupera aproximadamente metade da média global de cerca de 36,9 centavos. Nesse contexto não existe mágica: ou – quanto menos recuperamos dos créditos inadimplentes, maior será o custo agregado para acomodar as eventuais perdas. Adicionalmente, é importante citar a insegurança jurídica e as dificuldades vividas em um ambiente de recuperação judicial para o credor, mas isso é conteúdo para um artigo à parte. - Alto nível de Endividamento do país: O Brasil apresenta uma Dívida Bruta equivalente a 90,2% do PIB, contrastando com a média de 73,6% dos países da América Latina e Caribe. Essa proporção é consideravelmente maior do que a de países como Peru (36,9%), México (60,1%) e Chile (37,3%). É inegável que quanto maior a alavancagem de um país, maior se torna o risco de crédito soberano. Por se tratar de um país, essa dinâmica impacta diretamente a taxa básica de juros da economia, o que desencadeia efeitos secundários para todos os demais participantes da economia local, bancos, empresas e pessoas-físicas
etc. - Preço do Seguro “Risco Brasil”( CDS médio desde 2010) é maior que a média dos nossos pares: O Credit Default Swap (CDS) é um instrumento financeiro que precifica o risco de inadimplência, servindo como um preço do seguro contra o eventual calote de um país. Essa métrica é usada para avaliar o
risco-país e, quanto maior for, mais caro é o seguro contra um calote. É notável que o Brasil, em média, tem operado com custo entre 50 e 120 pontos-base acima de nossos vizinhos. Podemos interpretar essa métrica como o risco de crédito percebido pelos agentes acerca da capacidade creditícia do nosso país, quanto maior, mais “caro” será seu custo de crédito. - Baixa taxa de poupança: A lógica por trás desse indicador é que, quando a poupança nacional é baixa (i) a disponibilidade de garantias e colaterais, que influenciam a avaliação de crédito diminui; e (ii) há um baixo nível de capital disponível. Esses fatores combinados, aliados a uma alta demanda por capital, contribui para taxas de juros de equilíbrio mais elevadas.
- Alto nível de fraudes: Somente no primeiro trimestre de 2023, ocorreram cerca de 2,8 mil tentativas de fraudes financeiras por minuto em canais eletrônicos no Brasil, de acordo com dados do cruzamento da empresa de prevenção de fraudes e segurança digital CAF com informações do Banco Central. Essa quantidade elevada de fraudes acarreta um maior custo global para os participantes “honestos”, pois o nível de perdas da carteira de crédito é percebida de forma agregada e o custo do crédito é um subproduto dessa carteira.
Reflexão Geral sobre o Tema
A situação relatada deveria ser motivo de constrangimento para o Brasil, considerando que somos um país plural em vários sentidos, possuindo uma economia sólida e resiliente, um mercado financeiro e de capital bem consolidado, além de instituições robustas, tanto no âmbito público quanto privado.
Compreender a origem desses desafios é o primeiro passo para modificar esse cenário. O foco dos debates das lideranças no setor público e privado deveria buscar o equilíbrio fiscal, a segurança jurídica das recuperações judiciais e a promoção da educação financeira, tanto para indivíduos quanto para empresas.
Por óbvio, essas ações e debates representam medidas elementares e de longo prazo, e certamente enriquecem o debate político-econômico. No entanto, muitas vezes o diálogo é empobrecido pela falta de concordância com premissas básicas. Itens como:
- respeitar os contratos firmados;
- manter a estabilidade regulatória; e
- buscar o equilíbrio fiscal, não são itens “desejáveis”, mas sim “essenciais” para iniciar qualquer debate.
Somente concordando com as premissas básicas poderemos elevar o nível do debate brasileiro, evitando polarização ou discursos populistas que buscam uma solução rápida para um problema que é estrutural.
Conforme afirmado pelo investidor Ray Dalio, “tudo se resume às taxas de juros. Como investidor, tudo o que você faz é desembolsar uma quantia de dinheiro para um fluxo de caixa futuro.
“O objetivo de alcançar uma taxa de juros mais equilibrada não apenas eleva o valor das nossas empresas, mas também intensifica a propensão a investimentos, fomenta a criação de empregos e enriquece a nossa nação como um todo.